Memórias de um tempo que não volta

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Nick estava guardando algumas coisas em seu novo quarto no apartamento que havia comprado em Nova York, tudo era novo para ele, a cidade, as pessoas, os lugares, tudo, nada tinha aquele gosto familiar, nada trazia o sentimento de saudade ou melancolia, ele já não conseguia se ver com seus amigos quando olhava para certos lugares, não haviam memórias ali, não haviam fantasmas.

Desempacotando algumas coisas Nick deixou uma foto cair, era uma foto meio velha de uma poloroid que ele se lembra de ter pertencido a Marie, o garoto pegou a foto e a olhou calado.

Na foto estavam ele, Marie e Gael, ainda na época do orfanato, sorrindo amplamente com seus sorrisos de criança e olhares esperançosos e curiosos, Nick soltou um suspiro.

Há muito tempo atrás, quando o mesmo ainda era uma criança ele havia notado que adultos eram diferentes de crianças, não simplismente por serem maiores e terem mais responsabilidades, não, eles também não tinham muitas outras coisas, adultos não tinham tempo, adultos não tinham alegria, adultos não tinham esperança, adultos não tinham sonhos, adultos não tinham..quase nada que as crianças tinham, eles já não tinham quase nada além do estresse e cansaço.

Quando criança, Nick se perguntava se quando atingisse idade o suficiente para se tornar um adulto ele seria como todos os outros, cansado e estressado, sem grandes visões de vida, sem a esperança de um futuro melhor, sem expectativa das coisas mudarem, ele pedia silenciosamente para que não, para que ele pudesse ser um daqueles adultos legais de programas infantis da época, aqueles adultos de filmes que tinham a esperança de mudança e lutavam para aquilo, ele queria poder sonhar alto, abrir asas e voar para longe do ninho, voar para o próprio paraíso, um do qual ele pudesse pertencer sem restrições, um do qual ele pudesse ser feliz sem os problemas abundantes de adultos.

Tudo isso claro eram pensamentos de uma criança ingênua e para Nick tudo desmoronou muito antes da maioridade, ele pensou daquele modo por um bom tempo considerando o quão criança ele era, mas todos esses pensamentos, reflexões e ambições foram antes de tudo.

Foram antes de Adam aparecer, foram antes de Derryl aparecer, foram antes de Marie morrer, foram antes dele e de Gael se tornarem apenas estranhos com memórias.

Nick suspirou de novo, audível o suficiente para provavelmente ter levantado a sombrancelha de alguém se ele tivesse companhia, ele amassou a foto em suas mãos e a jogou no lixo.

Era apenas uma memória afinal e Nick já não tinha motivos para guardar aquela foto, ele procurou pelas caixas e encontrou o que tanto queria.

Cartas e fotos do passado, Nick olhou para elas com um olhar vazio, sem nenhuma sombra de arrependimento ou melancolia, apesar do aperto de dor e saudade que ele sentia, ele já não queria tudo aquilo.

As fotos mostravam momentos passados, fotografados por crianças e adolescentes ingênuos que juraravam que tudo iria melhorar, momentos de uma vida que não volta.

Uma vez, enquanto estava no Canadá, Nick ouviu de uma garota morena de cabelos crespos – Isabelle se ele não se engana, a garota não era de lá era uma brasileira aventureira querendo realizar os sonhos do irmão e de um amigo. – lhe disse que:

"Pra mim as pessoas se apegam a memórias porquê elas não mudam sabe? Quero dizer...memórias aconteceram, elas estão , o que aconteceu nelas aconteceu e elas não podem ser mudadas, diferente das pessoas que estão nas memórias, que elas podem mudar completamente."

Nick se pergunta se algum dia aquela garota aleatória de um bar qualquer teria alguma ideia do quanto ela abalou e mudou a vida de Nick.

Porquê...ele era apegado a memórias, memórias de um tempo diferente, memórias sobre pessoas que hoje ele nem reconhece, memórias de um tempo que não vai voltar, memórias de pessoas que já se foram.

Ele pegou as fotos e uma por uma ele as rasgou, nem todas mas a maioria, a maioria que lhe prendia em um passado amargurado, após terminar as fotos ele pegou as cartas, a maioria era de Gael.

Oh..Gael, seu doce Gael...O homem que Nick mais amou na vida e ao mesmo tempo o que ele mais odiou.

Gael era uma parte do passado de Nick que o moreno queria que tivesse ficado no passado, era uma parte dele que Nick queria nunca ter reencontrado.

Gael fez dele sua musa, lhe transformou em arte, mas Nick em sua ingenuidade havia se esquecido que até o melhor dos artistas pode odiar e destruir sua obra.

Gael amou Nick assim como Van Gogh amou a vida.
Van Gogh se matou.

E Nick as vezes queria poder fazer isso com Gael, não matá-lo mas sim poder matar suas memórias sobre ele, matar sua saudade e o apego que um dia ele sentiu pelo cacheado.

Nick e Gael eram próximos na época do orfanato, apesar do tempo de distância depois que Gael forá adotado eles se aproximaram ainda mais na adolescência devido toda a bagunça que estava acontecendo na época, eles se tornaram namorados e então Gael fez de Nick arte.

Ele fez Nick de musa e o escreveu palavras lindas, ele pintou Nick com seu amor e então.. ele sumiu, eles se afastaram mas Nick ainda tinha o gosto doce de Gael memorizado em si.

E então Gael voltou e Nick nunca odiou tanto um acontecimento em sua vida, não como ele havia odiado a volta de Gael.

Ele foi doce no começo, se importando e sendo aquele Gael que Nick se lembrava, mas então...uma noite tudo mudou, ele recebeu uma mensagem e tudo desmoronou.

"eu só não ligo mais Nick, e eu percebi que não senti falta nenhuma e não tô nem um pouco afim de mentir pra você ou pra eles mais, eu só não me importo parei de me importar e só  me mantive por perto pra suprir minha necessidade de ter alguém  , no final eu não sei se realmente gostava, ou se em algum momento eu gostei, bem foi legal mas acho que é melhor assim e eu mudei ou melhor voltei a ser o que eu era, eu não to afim de inventar uma mentira, eu sei que é cruel mas eu só...não ligo mais, sinto muito por fazer vocês se apegarem mas oficialmente tudo acabou."

Nick jamais iria conseguir se esquecer daquela mensagem, doía na sua alma toda vez que ele se lembrava dela, mas agora, depois de tudo que ele passou e depois de tanto tempo...ele também parou de se importar.

Gael fez a escolha dele, mas no fundo Nick apenas gostaria de nunca ter tido ele de volta.

As vezes é melhor quando a história acaba com um final doce ao invés de você insistir em ler o próximo livro e terminar com um gosto amargo na boca.

Nick pegou carta por carta e rasgou-as sem dor, foi bom, realmente foi, mas ainda havia um suave amargou em sua boca quando seus olhos ocasionalmente liam uma estrofe ou outra. Nick realmente desejava que Gael tivesse sido uma parte de seu passado que fora embora com um gosto doce e não tivesse retornado apenas para deixá-lo amargo.

Mas honestamente? Já não importava, afinal...todas as cartas terminaram rasgadas, todas as fotos no lixo, Nick encheu a banheira e fez o melhor banho de banheira que ele conseguia imaginar e entrou para relaxar de todo o estresse do dia.

No fim, tudo que ele tinha era a pouca esperança de uma vida normal em Nova York, jogando todas as memórias no lixo e aproveitando um banho de banheira sozinho.

Foda-se ser a musa de alguém, Nick iria se virar sozinho, ele já havia se cansado daquilo, ele jamais iria aceitar ter uma vida que ele não merecesse, não de novo, ele vai ir até o fim para ter uma vida digna, não importa o que ele tenha que fazer.

Suas memórias são apenas isso, memórias, ele deixou tudo para trás basta seu coração aceitar que aquele tempo não volta e que agora era hora de recomeçar.

Que o passado fique no passado, Nick respirou fundo e abriu os olhos.

"Tempo de memórias que não voltam..é melhor deixar tudo para trás sem se machucar do que insistir em algo fadado ao fracasso."
Nick repetiu a frase que seu irmão sempre lhe falava enquanto olhava o teto e sorriu.

Talvez adultos não tenham esperanças mas eles tem ambições e coragem, era apenas disso que Nick precisava no final.

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⏰ Última atualização: Oct 25 ⏰

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