DAMIAN KLINGER
"O sangue seca na minha pele e nas minhas roupas, uma camada quente que esfria aos poucos. Eu entro em casa, ainda segurando a faca com firmeza, os músculos do braço rígidos depois de... bom, depois de fazer o que precisava ser feito. Eles fizeram Karl chorar. Eles mereceram. Ninguém tem o direito de fazer Karl sofrer.
Ele vem correndo até mim assim que passo pela porta, como se nada tivesse acontecido, como se eu fosse um herói em vez de... sei lá o que sou. Seguro a faca ao lado do corpo, escondendo-a dele. Karl não precisa ver isso. Com uma mão livre, envolvo-o num abraço. Ele enterra o rosto na minha camisa, ignorando o sangue e toda a sujeira. Ele só me vê, só quer me ver, eu acho. Ele sorri, tão inocente. Sinto algo estranho ao ver esse sorriso, mas não tenho tempo de pensar no que é.
- Damian. - a voz do meu pai interrompe o momento. Ele está parado a poucos metros, com aquele olhar frio que nunca se altera. Nada muda no rosto dele, mas os olhos... eles são duros como pedra.
Karl, ainda agarrado a mim, olha na direção do meu pai e depois volta a se aconchegar no meu peito. É um reflexo. Karl sabe que eu sou a única proteção que ele tem aqui dentro. Meu pai apenas me observa, desaprovador, e me pede que vá ao seu escritório mais tarde. Eu já sei o que isso significa, e sei que ele também sabe.
No escritório, ele me espera sentado atrás da mesa, cercado de papéis e com aquele olhar analítico de sempre. Ele se inclina para frente, estalando os dedos como se estivesse prestes a resolver uma equação.
- Você se importa com Karl?
Penso por um momento. Não é uma pergunta comum, então apenas respondo o que ele quer ouvir.
- Sim.
A palavra sai sem emoção, como ele prefere. Mas ele franze o cenho, insatisfeito.
- Você o ama?
Hesito. A palavra não é clara na minha mente; ela parece quebradiça, estranha, mas sei que amo Karl, mesmo que eu não entenda bem o que isso significa. E esse silêncio é o suficiente. Num instante, um cinzeiro pesado voa em minha direção e atinge minha testa. O impacto é forte, quase me derruba, mas eu seguro a dor. Foi meu erro hesitar.
- Você não tem permissão para sentir! - ele grita, a voz cortante, afiada. - Amor? Amor é fraqueza! Eu não te criei para isso, não te treinei para isso!
Fico em silêncio, imóvel. Ele quer me fazer odiar Karl, quer que eu o veja como um inimigo, mas isso não faz sentido. Karl não é meu inimigo. Ele é uma criança, meu irmão mais novo, alguém que precisa de proteção. Ele confia em mim.
- Se eu te mandasse eliminar Karl - ele sussurra, com uma frieza calculada -, você faria isso?
Minha resposta é imediata, quase instintiva.
- Não.
- E por quê?
- Porque ele é meu irmão e devo cuidar dele.
Essa resposta é um erro, eu já sei. Meu pai se aproxima, e as mãos dele seguram meus ombros com força, o olhar insano. Ele começa a me bater, cada golpe acompanhado de insultos, de palavras que tentam me reduzir, me transformar. Eu fecho os olhos e deixo que ele faça o que quiser. Ele quer que eu me quebre, quer arrancar o que há de mim para que eu seja o que ele quer: vazio, obediente, uma arma.
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𝐀𝐒𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀-𝐌𝐄
Diversos𝐖𝐢𝐥𝐥𝐢𝐚𝐦 carrega o peso de um legado sombrio: filho de um notório assassino em série, sua existência é marcada pelo estigma e pela suspeita. Em um cenário em que todos o vê como uma extensão dos crimes de seu pai, ele se blindou contra o mundo...