caminhos que se cruzam

Sombras da culpa

O ambiente do restaurante estava animado, com risadas e conversas ecoando por todo o espaço. Carol, cercada por colegas, estava sentindo a leveza da noite. O cheiro de comida misturava-se ao aroma da cerveja, criando uma atmosfera acolhedora. Mas, ao olhar para Josy, percebeu que algo não estava certo.

“Está tudo bem, Josy?” Carol perguntou, inclinando-se ligeiramente para frente, com um olhar preocupado.

“Sim,” respondeu Josy, tentando esboçar um sorriso que não chegava a alcançar os olhos. “Pedi para minhas filhas se esconderem e elas não aceitaram muito bem.”

“Por isso que você não bebeu?” Carol indagou, a curiosidade evidente na voz.

“Não, é porque eu a forcei a vir,” Martin interveio, soltando uma risada que contagiou Carol. Ela também riu, mas o riso de Josy era diferente; havia uma tensão ali.

“Eu não sei... Nós dissemos que iríamos beber assim que a pegássemos. Não acho que esse seja o caso,” Josy respondeu, sua voz um pouco alterada.

“Sim, mas pelo menos ela parou com suas ameaças e isso é um alívio,” Martin comentou, fazendo um gesto de animação.

“É verdade, e talvez tenha parado de vez,” Felipe acrescentou ao lado de Carol, tentando manter o clima leve.

“Eu não acho!” Josy disse com firmeza, sua expressão se tornando séria.

“Por que diz isso?” Martin questionou, confuso.

“Tem algo que fecha...” Josy deixou a frase no ar, seus olhos parecendo mais distantes agora.

Nesse instante, Rosa apareceu à mesa e ficou quieta por um momento. A tensão no ar parecia palpável. “Planejar tudo isso para parar... Eu não entendo,” continuou Josy, sua voz ressoando como uma batida pesada na conversa.

Carol e Rosa se entreolharam rapidamente enquanto Josy prosseguia. O silêncio entre elas foi interrompido quando Rosa saiu do transe em que estava. “Querem mais uma rodada?” perguntou Rosa com um tom mais leve.

Todos acenaram afirmativamente. “Posso conectar meu celular para ouvir uma música?” Carol perguntou a Rosa, seu olhar esperançoso.

“Claro, vem comigo,” Rosa respondeu, mas havia um traço de apreensão em sua voz. As duas saíram da mesa e se dirigiram para um canto mais reservado do restaurante.

“Tá tudo bem?” Carol perguntou assim que se afastaram da mesa barulhenta.

“Sim,” disse Rosa com um sorriso forçado.

“Foi a Josy que te deixou assim?” Carol questionou suavemente.

“Você ouviu ela... Ela não vai desistir,” Rosa falou nervosamente, seus olhos refletindo preocupação.

“Escute,” Carol segurou a mão de Rosa com firmeza. “Vamos dar um jeito de encerrar esse caso, ok? Vamos dar um jeito nisso juntas.”

“Ok,” respondeu Rosa, ainda nervosa.

“Por que você não pede ao seu chefe para alguém te substituir ou peça para ele te liberar mais cedo?” sugeriu Carol tentando ajudar.

“Não... tá tudo bem. Eu consigo,” disse Rosa com determinação nas palavras.

“Ok então,” Carol disse dando um beijo carinhoso na bochecha de Rosa antes de voltar à mesa onde estavam os outros colegas.

Enquanto isso, a noite continuava sua dança entre risos e preocupações. Martin recebeu uma ligação urgente e precisava ir com Felipe verificar um acidente. Com isso, ficaram apenas Carol, Josy e mais dois colegas na mesa agora silenciosa.

"Vai querer alguma coisa?" perguntou Josy se levantando da cadeira com uma expressão pensativa.

"Não, obrigada," respondeu Carol rapidamente.

Josy caminhou até o balcão onde Rosa estava e pediu: “Uma cerveja por favor.”

“Sabe... aquela pessoa que te ameaçou? Tenho certeza de que não vai mais machucá-la,” disse Rosa enquanto servia a cerveja para Josy.

Josy franziu a testa em confusão. “Com licença?”

“Desculpa... ouvi você falar que está preocupada com sua família,” explicou Rosa gentilmente enquanto entregava a bebida.

“O que te faz pensar que não vai mais?” indagou Josy curiosa.

“Não sei... Acompanhei um pouco o caso da Carol. Se eu quisesse matá-la, eu já teria tido uma chance, certo?” Rosa disse sem pensar muito nas palavras.

Josy soltou uma risada amarga: “Isso é engraçado... Isso é o que meus colegas dizem pra me tranquilizar.”

“Desculpe... Você deve achar que sou inocente. Eu não sei nada sobre isso,” disse Rosa sentindo-se inadequada na conversa.

“Sem problemas... Pelo contrário! Eu aprecio isso,” respondeu Josy sorrindo levemente agora.

Rosa hesitou antes de perguntar: “Você sabe por que ela se ressente de você?”

Josy respirou fundo antes de responder: “Sim... eu a machuquei muito. Quando ela era criança... eu matei sua mãe.” A sinceridade das palavras pairou no ar como uma sombra pesada.

Rosa ficou tensa ao ouvir aquilo; as palavras pareciam ecoar em sua mente como relâmpagos cortando o céu escuro. “Por que fez isso?” perguntou ela tentando manter a força na voz.

“Foi um acidente... Eu não estava mirando nela. Mas o cara apareceu do nada e levou um tiro,” explicou Josy com tristeza nos olhos.

E então veio a pergunta inevitável: “E essa mulher tinha filhos? Você sabe o que aconteceu com eles?”

Josy hesitou antes de responder: “Preferi não saber... Faz parte de ser policial. Encontramos tanto sofrimento que nos preparamos para suportá-lo. De qualquer forma... Um menino e uma menina perderam seus pais por minha causa. A menina ficou traumatizada e aqui estamos nós.”

O coração de Rosa apertou ao pensar na dor daquela criança perdida no tempo; lágrimas começaram a encher seus olhos enquanto ela lembrava dos pais.

Carol observava à distância a expressão triste no rosto de Rosa e sentiu um peso no peito ao perceber quão profunda era aquela conversa entre as duas.

"Você está bem?" Josy perguntou preocupada ao notar os olhos marejados de Rosa.

"Sim... Desculpe-me! Estava pensando sobre a garota que você está falando," respondeu Rosa rapidamente enxugando as lágrimas invisíveis em seu rosto.

"Eu realmente arruinei a vida dela," disse Josy baixando o olhar cheio de arrependimento.

"Mas não quero estragar o ambiente! Quer uma bebida?" Perguntou Josy tentando mudar o tom sombrio da conversa novamente enquanto esboçava um sorriso tímido.

"Ok," respondeu Rosa aceitando a bebida oferecida pela policial.