— Como estão as coisas na casa de sua tia? — Mônica perguntou para a filha, numa chamada de vídeo, mais tarde. Emily estava organizando suas coisas em um armário antigo emprestado por Monique, escorado numa parede perto da janela, local onde ficaria sua cama, encomendada há dias pela tia, pela internet.
— Nossa, tá complicado, mãe. A Victória tá tão diferente do que eu lembrava e ela não gostou muito da ideia de eu ficar aqui, ainda mais dividir o quarto com ela. Mas tia Monique não tem uma casa muito grande e acho que não recebe muitas visitas.
Mônica torceu os lábios, em preocupação.
— Sua tia sempre foi mais reservada, Emily. Por isso, não recebe ninguém. Mas tudo bem, devo agradecer a ela por te deixar ficar aí. Sobre Victória, acho que você precisa ter paciência. Talvez, ela ainda esteja superando a morte do pai. Já pensou nisso?
Emily pegou uma blusinha rosa, dobrou-a cuidadosamente e a colocou numa gaveta.
— Ah, mas já se passaram dois anos.
— Cada um tem seu processo de luto, minha filha. Ninguém sabe quanto tempo vai durar. Te aconselho a orar muito por essa menina, viu? Porque se ela não gosta de você agora, as coisas vão ficar piores quando contar a verdade pra ela.
— Eu sei, por isso tô pensando em conquistar a confiança dela primeiro. As coisas vão ficar mais fáceis depois. — Pelo menos, ela esperava que sim. — Além do mais, tô começando a pensar que Deus me deu uma obra muito maior pra fazer aqui. Mãe, a senhora precisa ver como são as pessoas dessa cidade, tão apressadas, com um olhar tão ansioso e vazio ao mesmo tempo. Fiquei em choque.
— Esse é um dos motivos pelos quais eu nunca quis conhecer essa cidade, Emily. As pessoas não sabem o que é se divertir, vivem pro trabalho. Parece que ninguém ama ninguém. Deus me livre morar aí.
Ela suspirou.
— Bom, talvez seja só impressão. Ainda não conheço nada aqui e espero estar enganada.
— E eu espero que você encontre logo uma igreja por aí. Pelo amor de Deus, não fique o ano todo sem congregar. É muito perigoso.
— Eu sei, mãe. Não se preocupa, quando eu estiver mais descansada da viagem, vou sair por aí pra explorar o bairro. Acho que vou encontrar uma igreja bem rápido. Eu vi várias quando estava no carro com tia Monique.
— Bom — Mônica afastou os cabelos enrolados do rosto —, fica firme, viu? Ah, deixa eu te contar. Encontrei o Theo na rua um dia desses, ele nem falou comigo, passou reto.
Emily sentiu uma pequena ardência no peito com a menção de seu ex namorado. Terminara com ele poucas semanas antes de ir para São Paulo, após flagrá-lo aos beijos com Leandra, uma garota da igreja que dizia ser sua amiga.
— Ah, a senhora sabe que ele é assim, né? — disse, lembrando que o garoto nunca fora muito comunicativo e nutria certa antipatia pelos pais dela, sem motivo aparente.
— Bom, ainda bem que você se livrou dele, Emily. Até hoje eu não sei porque namoraram, aquele moleque não tem nada a ver com você.
Ela apertou os lábios. Às vezes, também tentava entender o que deu em sua cabeça para ter namorado aquele garoto. Então, lembrava-se dos beijos quentes, a beleza de Theo, seu senso de humor e o jeito direto de ser. De vez em quando, ainda se pegava pensando no rapaz e seu coração doía. Porém, o curto namoro com ele a ensinara algo muito importante: jamais se relacionar com uma pessoa sem aprovação dos pais. E sinceramente, Mônica e Jonas nunca gostaram dele, apenas aceitaram a situação porque Emily já estava muito envolvida e teimara que ele era o cara certo para si. Agora, sabia que não.
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A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...