Nunca havia visto Ayla dessa forma. O modo como ela explodiu, cheia de raiva e mágoa, me pegou completamente de surpresa. Não consigo entender o que aconteceu para que ela agisse assim, com uma intensidade que eu não sabia que existia nela. É como se todas aquelas palavras que ela guardou por tanto tempo tivessem vindo à tona de uma vez só, e eu não sei como lidar com isso.
Não posso dizer que a compreendo quando ela diz coisas sem nexo. Quando eu a deixo sozinha? Eu sempre estive com ela. Nos momentos bons, nos ruins, quando ela teve aquela crise após finalmente conseguir terminar com Lucca. Foi um período difícil, ela estava tão frágil e confusa, e eu fiz o possível para estar ao lado dela. Achei que estivéssemos lidando bem com isso, que ela estivesse melhorando. Mas, depois que eles terminaram, Ayla não parece mais a mesma.
É como se ela estivesse constantemente em um estado de alerta, sempre esperando que algo dê errado, que alguém vá embora. Houve momentos em que eu notei esse medo nas entrelinhas, mas nunca pensei que fosse algo relacionado a mim. Sempre achei que era uma questão dela e do passado com Lucca, algo que ela precisava processar e superar. Eu queria ajudar, mas ela raramente falava sobre isso abertamente, preferia se esconder atrás de um sorriso e de uma piada.
Talvez eu tenha falhado em enxergar as coisas que estavam bem na minha frente. Talvez tenha sido cego para o que estava acontecendo, acreditando que nossa amizade era uma zona segura onde nada poderia nos atingir. E agora, depois de ouvir as coisas que Ayla disse, começo a questionar tudo.
Será que eu realmente a deixei de lado sem perceber? Será que, de alguma forma, não consegui demonstrar o quanto ela é importante para mim? Ou será que isso tudo é resultado de algo muito mais profundo que ela não conseguiu me contar?
Ver Ayla tão magoada e frustrada mexeu comigo. De alguma forma, ela carrega mágoas e ressentimentos que eu não sabia existir. E por mais que me doa ouvir as acusações, dói ainda mais ver o quanto ela estava guardando dentro de si, sozinha.
Eu queria poder resolver isso, esclarecer tudo, mas agora estou perdido. Não sei o que fazer, o que dizer, ou como consertar as coisas. Talvez o problema não seja apenas uma falha de comunicação. Talvez seja um sinal de que eu nunca realmente entendi a profundidade das coisas que ela estava sentindo.
Eu a conheço há tanto tempo, e essa é a parte mais confusa. Ayla tem mudado tanto ultimamente, e não consigo determinar se isso é resultado de um amadurecimento natural ou se há algo mais profundo acontecendo. O que me preocupa é que, apesar de conhecê-la bem, sinto que há algo estranho no ar, uma barreira que não estava lá antes.
Ayla, aos dezenove anos, era diferente. Ela era direta, clara, alguém que não hesitava em me dizer quando algo a incomodava. Se havia um problema entre nós, ela não hesitaria em apontar onde eu tinha errado. Não havia gritos, não havia indiretas. Era uma comunicação aberta, honesta, como a que sempre prezei em nossa amizade.
Agora, ao invés disso, ela explode em frustração e raiva, como se estivesse acumulando tudo por tanto tempo que não soube mais lidar. Ela gritou, e cada palavra foi como uma facada, fazendo-me sentir como se eu só estivesse presente em sua vida quando as coisas vão mal. Essa não era a Ayla que eu conhecia. A amizade que construímos era baseada em confiança e compreensão, e agora parece que estou perdendo isso.
Sinto falta da forma como ela lidava com as coisas. A menina que olhava nos meus olhos e falava sobre seus medos e inseguranças, sem medo de se mostrar vulnerável. O que aconteceu com aquela Ayla? Ela se tornou uma pessoa que guarda tudo para si, que prefere explodir em raiva do que conversar e tentar resolver as coisas de maneira saudável. E isso me machuca, porque parece que não sou mais a pessoa que ela busca quando precisa desabafar.
Eu não consigo deixar de me perguntar se essa mudança tem a ver com o término com Lucca. Talvez a dor que ela sentiu a fez construir paredes em torno de si mesma, e agora eu sou a vítima dessas paredes. É como se, ao invés de nos aproximar, esse evento a tivesse afastado de mim, criando uma distância que não sei como atravessar.
Quero entender, quero ajudar, mas sinto que estou lidando com uma stranger, alguém que eu conheço tão bem, mas que, de repente, se tornou um enigma. E essa incerteza me deixa frustrado, perdido, tentando encontrar o caminho de volta para a amizade que tínhamos, mas sem saber como chegar lá.
Se eu pudesse dizer algo naquele momento eu com certeza diria que sinto falta da minha Ayla,daquela pessoa que não ligava para o que os outros pensavam,e que está tudo bem ter medo e se sentir insuficiente às vezes.
Eu sinto falta da Ayla que não tinha medo de ser ela mesma, que ria alto e se divertia, sem se preocupar se era aceita ou não. Sinto falta de ser aquele que ela procurava nos momentos de vulnerabilidade, aquele que a lembrava de sua força e beleza, não importa o que os outros dissessem. Queria que ela soubesse que a aceitação e o amor que sinto por ela não dependem de como ela se vê ou do que os outros pensam.
Se ao menos eu pudesse mostrar a ela que a amizade que temos ainda é forte, que não importa a distância que se formou entre nós, eu estarei aqui para ajudá-la a encontrar o caminho de volta para si mesma. Porque, no final das contas, eu quero que ela saiba que não precisa carregar todo esse peso sozinha. Eu quero que a minha Ayla volte, aquela que se permitia ser vulnerável, que ria e sonhava sem medo.
O problema é que ela sempre pensa que estou tentando consertá-la mesmo que eu diga várias vezes que ela não está quebrada.
Queria que ela voltasse a acreditar no amor fora dos livros,porque ele existe sim ela só está com medo de porcurar por ele. Não me inporta que ela escolha outra pessoa se isso a faça feliz.
Se ela encontrar alguém que a faça sentir-se viva novamente, que a faça acreditar no amor, estarei feliz por ela. Porque, no fundo, o que mais importa para mim é vê-la feliz, independente de quem esteja ao seu lado. Quero que ela se permita viver plenamente, que possa se abrir para as possibilidades que a vida tem a oferecer, sem medo do que os outros possam pensar ou do que possa acontecer.
Afinal amar alguém é permitir que essa pessoa busque a felicidade, mesmo que essa felicidade não envolva você.
Eu só espero que, ao fazer isso, ela também perceba que não precisa ser consertada. Ela é maravilhosa como é, e o amor que ela busca está mais próximo do que imagina.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O despertar do amor
RomansaDesde a infância, Ayla e Erick mantiveram uma amizade marcada por travessuras e implicâncias. Quando tinham 18 anos, um vínculo especial surgiu entre eles, mas, ocupados com questões pessoais, nunca perceberam a profundidade dos sentimentos que comp...