No final dessa memória

Capítulo 86 ++++18

Apesar dos eventos daquele dia, nada mudou entre Kwon Yido e eu. Conforme o verão gradualmente amadureceu, nosso relacionamento parou na estação dura. Ele ainda me ignorou, e eu desisti de buscar sua atenção.

Depois de absorver o que pertencia a Kwon Yido, não consegui comer comida quente por dias. Foi uma sorte que minha garganta estava tão inchada que não precisei me envolver em nenhuma conversa. Felizmente, as refeições eram preparadas com itens fáceis de engolir, e sorvete era frequentemente servido como sobremesa.

O tempo passou rápido, e o impacto daquele dia diminuiu. O incidente não se repetiu, mas eu ainda olhava para Kwon Yido de longe. Os dias em silêncio eram muito perturbadores, e eu até nutria desejos anormais para que ele me usasse.

Parecia que um acidente havia ocorrido. Mesmo sabendo que o que ele fez comigo foi violento, eu ainda queria receber algum reconhecimento da minha existência. Eu esperava desesperadamente por uma nova ilusão em vez da cerca quebrada da minha família. Talvez Kwon Yido ainda estivesse pensando em me manter por perto, assim como meu pai me usou. Se fosse esse o caso, pelo menos eu não teria que sair desta casa até que ele me abandonasse.
Então, um dia, quando eu estava prestes a subir para o meu quarto depois de ter o almoço preparado pela cozinha, Kwon Yido, que tinha saido cedo ao trabalho, chegou em casa. Eu enrijeci quando o vi, mas ele subiu as escadas sem nem olhar para mim.

Ele desceu as escadas cerca de cinco minutos depois. Ele estava usando um terno novo, não o que ele usava originalmente. Embora ele sempre usasse cores de baixa saturação, o traje de hoje parecia que ele estava indo para um funeral.

"Kwon..." 

Eu não poderia chamá-lo assim. Mais uma vez, ele passou sem nem se virar para olhar para mim. Eu não conseguia entender por que suas costas deixaram uma impressão tão forte. Ultimamente, eu só tinha visto suas costas, mas a lembrança de seus passos ordenados trouxe uma solidão avassaladora.

O som de Kwon Yido saindo ecoou. Ao mesmo tempo, parecia que o que eu tinha comido estava prestes a subir. O peso se instalou em meu peito e meu estômago revirou.

Corri para o banheiro no primeiro andar. Tentei vomitar, agarrando-me ao vaso sanitário, mas em vez de vômito, lágrimas rolaram incontrolavelmente.

"Ugh..."

O soluço irrompeu sem qualquer resistência, e não havia como pará-lo. Embora eu não tivesse chorado desde aquele dia, as lágrimas não pareciam parar, como se meus canais lacrimais estivessem quebrados. Toda vez que me lembrava das costas de Kwon Yido, o rosto que costumava sorrir para mim vinha à mente.

"Sob, sniff..."

O que devo fazer? Eu sabia que algo estava errado, mas não sabia como consertar. Eu sempre vivi de forma semelhante, e mesmo que tentasse encontrar uma solução diferente agora, não conseguia pensar em nenhuma. Gostaria de poder voltar no tempo, se ao menos pudesse. Mas mesmo que voltasse ao passado, minha mente tola e incompetente não seria capaz de mudar nada.

Prefiro ficar ressentido comigo mesmo. Gostaria que alguém me culpasse, expressasse raiva e me atormentasse como naquele dia.

Percebi pela primeira vez que emoções incertas eram mais assustadoras do que inimigos declarados. Com o passar do tempo, até mesmo as emoções que compartilhei com Kwon Yido ficaram turvas. Parecia doloroso como se estivesse cavando no osso, sabendo que o calor, que nunca poderia ser recuperado, estava escapando.

Por um longo tempo, fiquei sentado no banheiro, liberando minha tristeza. Minha cabeça estava tão tonta que mal conseguia mover um dedo e tive que deitar no chão sem fazer barulho. Depois de um tempo, meu coração afundou de repente.

"Ugh..."

Parecia que meus pulmões estavam sendo achatados. O cheiro de uma flor não identificada começou a florescer fortemente. O calor subiu no meu abdômen inferior e os feromônios explodiram.

"Hup..."

Era um ciclo de cio.

__________

Eu não sabia quais instruções Kwon Yido havia dado, mas os funcionários não demonstraram interesse em onde eu estava. Eles não falavam comigo tão amigavelmente quanto antes, nem se importavam em me fornecer nada. Eles preparavam minhas refeições mecanicamente e arrumavam meu quarto toda vez que eu comia.

"Ugh, ack..."

Então, onde quer que eu estivesse, eles não se incomodaram em me encontrar. Pelo menos até o jantar, eu tinha que ficar assim, ajoelhado no banheiro. Oh, que coisa totalmente vergonhosa de se fazer. Pensei com tal ideia enquanto lutava para respirar.

Ouvi um murmúrio do lado de fora. Como ninguém viria a essa hora, provavelmente era Kwon Yido. No momento em que percebi esse fato, convoquei toda a força que me restava, até mesmo além da que eu costumava sugar, e me levantei.

"Haah, haah..."

Se alguém me visse, provavelmente diria que foi uma coisa tola de se fazer. A razão pela qual me aproximei dele foi para implorar que ele se abrisse, em vez de ser ignorado para sempre. Se eu tivesse que enfrentar a rejeição, queria sentir calor de alguma forma.

"Então, há algo que preciso receber..."

No entanto, quando me dirigi para a porta da frente, não foi Kwon Yido quem entrou na casa. Assim como Kwon Yido, o homem que entrou usava um terno elegante, mas parecia irritado enquanto dava ordens aos funcionários. Não era o presidente Kwon Sangmi; era um homem parecido com meu marido.