32 | Capitão Nascimento

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Eu saí de casa depois da conversa com Marina com uma raiva que fervia por dentro, uma fúria que parecia corroer cada parte de mim. Não era tristeza, não era dor, era pura irritação, um ódio que latejava na minha cabeça como um martelo. Andei até a calçada sem nem pensar para onde estava indo, só queria sair, respirar, sentir o vento no rosto para ver se conseguia apagar o incêndio que estava queimando por dentro.

Eu tinha me exposto para ela, falado de um jeito que nunca imaginei falar. Fui vulnerável, fraco, parecia um moleque, um veadinho tentando explicar o que sentia. E o que eu ganhei com isso? Nada. Ela me pediu tempo, pediu espaço, como se eu fosse qualquer um, como se eu não fosse o homem que ela deveria querer ao lado dela.

O gosto amargo da humilhação ainda estava na minha boca. Devia ter dado as costas assim que ela entrou na cozinha, ignorado aquele bom dia hesitante e continuado a tomar meu café. Em vez disso, eu abri minha boca e deixei sair tudo, como um idiota. A conversa ecoava na minha cabeça, cada palavra parecia um tiro que eu tinha dado no próprio pé. Eu falei que a amava, que tinha medo de perdê-la, e ela me respondeu com um discurso racional, como se o que a gente tinha fosse um problema a ser resolvido.

Merda. Eu me sentia um imbecil. Que tipo de homem eu era? Um homem de verdade não se expõe, não mostra as fraquezas. Eu devia ter sido frio, ter dito que não ligava, ter deixado ela saber que, se ela não queria estar comigo, tinha muita mulher por aí que faria fila por uma chance de passar uma noite na minha cama. Mas, em vez disso, eu me deixei levar por emoções que eu nem sabia que ainda existiam em mim, e acabei me humilhando na frente dela.

Eu corri. Não porque queria, mas porque precisava. Precisava sentir meu corpo cansado, o sangue pulsando nas pernas, o suor escorrendo pela testa. Corri durante uma hora sem parar, forçando o corpo até que cada músculo doía, até que a dor física fosse mais forte do que a dor que eu sentia na alma. Era o único jeito de afastar a merda dos pensamentos que não paravam de martelar na minha cabeça.

Quando voltei pra casa, ainda estava ofegante, a camisa encharcada de suor. Abri a porta e a vi sentada no sofá, esperando, como se estivesse esperando uma oportunidade para falar. Meu peito ainda subia e descia rápido, e por um segundo pensei em parar, olhar para ela, dizer algo. Mas o que eu podia dizer?

Passei direto por ela, indo em direção à escada, ignorando o olhar dela que tentou me prender. Não ia repetir o mesmo erro. Se ela queria conversa, ia ter que encontrar outra pessoa para discutir sentimentos. Eu tinha uma vida, um trabalho, responsabilidades que iam além de ficar ouvindo as merdas de uma garota de dezoito anos. Se ela não me queria, então ela não era mais minha prioridade.

Subi os degraus com rapidez e fui para o meu quarto. Fechei a porta com um empurrão firme, fui para o banheiro e comecei a tirar a roupa. As peças suadas caíram no chão, uma por uma, até que eu estivesse completamente nu. Entrei no box e liguei o chuveiro, deixando a água quente cair sobre a cabeça e escorrer pelo corpo, lavando o suor e, com sorte, os pensamentos inúteis que ainda estavam na minha cabeça.

A água quente escorria pelas minhas costas, e eu sentia os músculos relaxarem, a tensão dissolver um pouco, mas não o suficiente. Eu ainda sentia aquela raiva, aquele orgulho ferido que me fazia querer socar alguma coisa. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando controlar o que sentia.

E então, a porta do quarto se abriu. Eu ouvi os passos dela entrando, leves, hesitantes. Minha primeira reação foi fechar o punho, sentir a água escorrer pela mão apertada. Ela ia insistir? Não sabia que eu precisava de espaço?

— Vai embora, Marina — eu disse, sem me virar, a voz saindo firme, mas cansada. — A Rosane deve estar chegando da casa da Bárbara, e eu não quero confusão.

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