A Floresta (oneshot)

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Limpando o suor da testa e de seus cabelos ruivos, Mark se deixou cair em um tronco apodrecido, recuperando o fôlego enquanto olhava para a trilha que estava percorrendo. Montanhas altas e florestas de pinheiros e carvalhos pintavam uma linda paisagem, e onde quer que olhasse, nenhum sinal de interferência humana manchava a vista. Era a primeira vez que ele fazia uma caminhada grande como aquela em sua vida.

Já havia algum tempo que Mark estava se preparando para ela. Ele pesquisou e pesquisou, conversou com caminhantes experientes e comprou várias parafernálias relacionadas. Uma tenda, fósforos e isqueiros, filtradores de água portáteis, uma vara de pescar, bastante comida entre outras coisas lotavam a mochila que carregava. Já era tarde demais para se arrepender de ter carregado tantas coisas inúteis consigo, Mark já havia percorrido mais da metade da trilha. O que restava era aguentar até o fim.

"Erro de principiante", ele pensou. Não era como se ele fosse acertar tudo em sua primeira caminhada. Além do mais, Mark planejava passar pelo menos cinco dias nas trilhas, então era melhor estar preparado até demais do que subestimar a natureza.

Também não havia ninguém para o julgar. Mark não queria acabar esbarrando em outros caminhantes trilhando as montanhas durante sua experiência solitária, então desde o início ele decidiu atravessar as trilhas menos usadas e mais longas.

Olhando para o relógio no pulso, ele se levantou, se estirando antes de colocar a mochila nas costas. Eram 15h47, e ele precisava encontrar um lugar mais aberto para montar acampamento.

Antes que pudesse dar mais do que dois passos, porém, um arrepio o fez parar e Mark sentiu seu estômago esfriar.

O vento parou. As aves se calaram, e juntas delas as cigarras e outros animais.

Mark olhou para trás, e então para os lados, rodando o corpo como se fosse um pião. Mas não havia nada além de árvores e arbustos.

O som repentino de um graveto se quebrando o alertou e ele rapidamente tornou a cabeça na direção dele.

Cerrando os olhos, Mark notou olhos laranjas escondidos pelas sombras das árvores os observando, e ao perceber que havia sido avistado, o dono deles lentamente se expôs em passos estranhamente descuidados.

Mark apertou o coração, suspirando em alívio.

— Uau, h-haha. Você quase me matou de susto, amiguinho — disse Mark, sorrindo para o cervo em sua frente.

O animal se manteve parado como uma estátua nas sombras, o que atraiu o interesse de Mark. Olhando melhor, aquele não parecia ser um cervo comum. A pelagem era esbranquiçada, com uma aparência doente, e o animal possuía pernas estranhamente longas e ossudas.

Preocupado com a aparência desnutrida do animal, Mark puxou uma barra de cereal do bolso, a abrindo e balançando na frente dele. Alimentar animais silvestres com comida humana era contra as regras, mas não havia ninguém para o multar, ele só queria fazer uma boa ação.

— Quer um pouquinho? — disse ele antes de lançar a barra ao lado do animal, que lentamente olhou para o chão antes de voltar a encarar Mark.

Mark levantou os ombros e colocou a mochila nas costas. Ele não queria ficar parado por mais tempo do que o necessário e o cervo estava começando a o assustar. Conforme continuava a trilha, ele olhava para trás de vez em quando, apenas para ver que o animal continuava parado e o observando.

— Hmm, talvez ele tenha raiva ou outra doença.

Ao fazer alguma distância, a vida ao seu redor lentamente começou a voltar.


***


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