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Carolina Holanda de Matos Pimenta
Hospital Albert Eistein, 16:30

Coloco o pequeno bebê sob seu berço e respiro fundo. Coitado, tão novo e já sofre tanto. Desnutrido, com má respiração e abandonado pela mãe. A única coisa que a mulher deixou antes de ir embora foi um bilhete.

Esse bilhete nos deu a seguinte orientação: o nome do garoto e o dia em que nasceu. Ele tem exatos 20 dias de vida. Eu me emocionei demais ao ver ele, tão indefeso, num cestinho pequeno e mal esquentado.

– Dorme bem, viu? - Sussurro e passo os dedos pelo pezinho dele, que dá um espasmo. - garotinho esperto!

– O nome dele, já registrou? - Mariana, enfermeira do plantão, chega ao meu lado e pergunta.

– Acabei de fazer isso e o trouxe pra dormir - Comento e mostro o bebê adormecido. - Como uma mãe dá um nome com um significado tão bonito e consegue abandonar o filho?

– Ela sabia que não conseguiria dar o que ele merece - A mulher, mais velha e mais sábia, parece entender melhor do que eu. - Rafael. Curado por Deus e enviado para curar.

– É, ele já curou um pouco de mim - Murmuro sem perceber e a mulher me encara.

– Os bebês tem esse poder restaurador... o que te aflige? Não consegue ter filhos?

Dou um sorriso da forma que ela é direta e nego com a cabeça.

– As vezes sinto que o destino brinca com a minha cara, só isso. E esse bebê faz tudo ficar silencioso - Explico calmamente enquanto encaro o pequeno, denominado Rafael por sua mãe biológica. - sinto também que esse nome me persegue de alguma forma.

– Ah, agora estou entendendo - A mulher sorri. - é o nome de alguém especial? Parente?

– Não, só de um antigo amigo que foi pra muito longe - Digo a verdade em partes. - às vezes penso nele. Enfim, esse pequeno Rafa é muito esperto pra um recém-nascido, não duvido que vai falar antes de um aninho.

– Eu também não duvido, com alguns dias já quer interagir com a gente - Mariana ri e se aproxima. Ela coloca a mão sob meu ombro e diz - vai descansar, menina. Está tarde e você já passou do seu horário.

– Tem razão - Sorrio de leve e encosto em sua mão. - Tchau, Mari. Até outro dia.

– Vai com cuidado!

Eu aceno e faço um joinha para ela, em concordância sobre ir com cuidado. Subo no andar do financeiro pra pegar meu pagamento e encontro a silhueta da pediatra.

– Dudinha! - Exclamo ao ver minha amiga, ela abre os braços no mesmo instante. - você já vai embora? Acabou o plantão?

– Sim, literalmente acabou agora - Ela me mostra que está recebendo. Eu estou atrás na fila pra receber também. - acredita que eu fiz uma traqueostomia num recém-nascido? Tremi toda depois de conseguir.

– Caramba - Abro a boca chocada e me encosto ao seu lado na parede. Ela me encara de volta com um sorriso. - você foi bem forte, viu?

– O Gabriel vai enlouquecer quando eu contar que consigo furar a garganta de um bebê -  Seu tom de voz é engraçado. Ela vive dando sustos no marido e eu sou testemunha da maioria. Isso porque são no telefone. Se eu ver o Gabriel Veiga na minha frente fico sem reação. - ah! Você quer ir comigo buscar o Leo? Ele sai da creche agora.

Uma linda mulher - Raphael Veiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora