Capítulo 4 - Chamas internas e sombras externas

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No terceiro dia de viagem, os treinos continuavam incessantes. Rion, incansável em sua missão, parecia determinado a garantir que Adrian e Leo estivessem preparados para qualquer perigo. Cada dia trazia novos desafios: longas corridas pelo caminho pedregoso, exercícios de resistência e uma infinidade de técnicas de combate. O sol queimava suas peles enquanto os pés batiam contra a terra seca, deixando uma trilha de poeira no ar.

Adrian e Leo, com as mãos já calejadas e os músculos doloridos, aproveitavam cada segundo dos breves momentos de descanso. O silêncio entre os dois amigos, normalmente preenchido por risadas, agora era substituído por respirações pesadas e olhares exaustos.

Leo suspirou, apoiando-se em uma pedra. "Se isso continuar assim, não vamos nem chegar vivos à capital, sem precisar enfrentar ninguém", ele comentou, forçando um sorriso.

Adrian olhou para suas mãos, a pele áspera e ferida pelas repetidas empunhaduras da espada. "Rion quer nos testar. Ele sabe que precisamos estar prontos... só espero que estejamos à altura quando a hora chegar."

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Adrian suspirou, sentindo o peso da espada em suas mãos calejadas enquanto seus dedos apertavam o cabo com menos firmeza do que gostaria. O calor do sol parecia derreter seu fôlego, e cada movimento dos músculos doía como se estivessem sendo rasgados de dentro para fora. Mesmo assim, ele se levantou novamente. Sabia que não podia demonstrar fraqueza.

Rion observava de uma certa distância, os braços cruzados, com os olhos fixos nos dois jovens. Ele não precisava dizer nada — seu olhar já dizia tudo: eles precisavam estar prontos.

"Mais uma vez, Adrian", Rion ordenou, sua voz firme cortando o silêncio do campo. "A espada é uma extensão de seu corpo. Se deixar que ela o domine, você será lento. Controle-a, ou será controlado."

Adrian se ajeitou, segurando a espada com mais firmeza. Sentia o peso das palavras de Rion tanto quanto o da lâmina. Ele fez um movimento, uma estocada firme no ar, mas tropeçou um pouco ao recuar, o que fez Rion balançar a cabeça com desaprovação.

"Está lutando contra a espada, Adrian", comentou o mestre, aproximando-se. "Você não pode apenas usá-la. Deve senti-la. Feche os olhos, imagine o peso desaparecendo, e deixe que o movimento venha naturalmente. Não pense. Só sinta."

Adrian fechou os olhos, tentando seguir o conselho, enquanto Leo observava com atenção. Ele próprio havia passado pelo mesmo tipo de correção, e cada erro que cometia parecia ecoar na mente como um lembrete de sua própria inexperiência.

"Se a espada é difícil, imagina a chama..." Leo brincou, tentando quebrar a tensão, mas suas palavras carregavam uma verdade amarga. Adrian não respondeu, mas sabia o que o amigo queria dizer. Mesmo com todo o treinamento, ele ainda não sentia que estava pronto para lidar com o poder que carregava dentro de si.

Eles treinaram mais um pouco, os golpes de espadas sendo repetidos com precisão. Os sons do metal cortando o vento e os gritos de esforço ecoavam pelo campo deserto.

Quando o treino finalmente terminou, Rion se aproximou novamente, dessa vez com uma expressão mais branda. "Vocês estão melhorando. Mas não se enganem: Kael não vai esperar por vocês estarem prontos. A verdadeira batalha será mais intensa do que qualquer coisa que possamos simular aqui."

Rion então colocou uma mão sobre o ombro de Adrian. "A chama dentro de você é poderosa, Adrian. E ela escolheu você por um motivo. Mas o que você fará com esse poder depende só de você. Use-o sabiamente, e ele abrirá portas que você jamais imaginou. Mas se o controlar mal... pode ser tão destrutivo quanto o inimigo que enfrenta."
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No quarto dia de viagem, ao cair da tarde, Rion interrompeu o treino físico para algo mais desafiador. A exaustão pairava no ar, e os corpos de Adrian e Leo estavam cansados, mas ainda prontos para mais. Contudo, desta vez, o treino seria diferente.

A mitologia de Karmus - A primeira chamaOnde histórias criam vida. Descubra agora