Antes que Emily conseguisse falar algo, ele se afastou, colocou a mão em costas e a arrastou consigo para fora daquela rua, sempre erguendo um pouco a cabeça para ver se aquele homem ainda a perseguia. Ela estava tão atordoada que não protestou, deixou-se guiar pelo rapaz por ruas diferentes até ambos acabarem numa praça movimentada, com luminárias acesas e cheiro de pipoca amanteigada pairando no ar.
Ele a fez sentar num banco de madeira antigo, desgastado pela chuva e pelo tempo, com uma das bordas quebradas e a tinta branca descascando.
— Pronto, aquele velho tarado não vai mais te seguir — disse o garoto. Emily agarrou a borda do banco com força e permitiu que as lágrimas viessem de uma vez. Depois, cobriu o rosto com as mãos e começou a soluçar. Não parava de dizer a si mesma o quanto era burra. — Ai, meu Deus. Não fica assim. Ei, já passou — dizia o rapaz, tentando consolá-la.
— E-eu pensei que… ele ia me atacar — disse ela, entre soluços. — Eu sou muito burra. Minha prima tem razão, sou ingênua demais!
— Acho que cê vacilou, só isso. Aquela rua é perigosa, ninguém fica andando por ali de noite. Digo, ninguém decente, né? Não vê as notícias? Várias pessoas já foram assaltadas ali.
Então, o que ele fazia lá?
— Eu achei que fosse seguro — ela disse, enquanto limpava as lágrimas com os dedos, incapaz de encarar o rapaz ao lado. Sequer entendia como ele sabia seu nome. Tornou a se encolher quando uma nova rajada de vento a atingiu.
— Você ainda tá assustada, né? E com frio. Pega isso. — Ele tirou a blusa e estendeu a ela.
Emily balançou a cabeça, olhando brevemente para a sequência de tatuagens que cobriam totalmente seu braço esquerdo.
— Não posso, não quero.
— Eu não vou te fazer mal, Emily.
Ela abraçou o próprio corpo.
— Como sabe meu nome?
— A gente estuda junto, ué.
A garota estreitou as sobrancelhas e só então teve coragem de encará-lo. Notou seus cabelos loiros quase inexistentes, bochechas cavadas, olheiras circulando os olhos fundos e escuros. Tinha uma vaga lembrança do rapaz, mas nada muito claro.
— Como se chama?
— Davi. Sou da sua sala, mas você não deve lembrar porque falto bastante e fico mais na minha. Acho que só fui uns dois dias pra escola esse ano. — Ele coçou a cabeça. — Mano, ainda não sei como me lembro de você. Tipo, eu tava naquela rua quando te vi. Aí, parecia que eu te conhecia de algum lugar, mas não lembrava diretamente da onde. Só quando me aproximei, lembrei. Que bizarro, né? Ainda mais porque minha memória é muito ruim. Enfim, ainda bem que te achei, né? Não sei o que teria sido de você. Mas sério, não anda mais por aquelas bandas, não.
Ela colocou o cabelo atrás da orelha.
— Tá bom. Obrigada por me salvar. Mas… o que estava fazendo ali?
— Isso é segredo, foi mal.
Ela quase sorriu.
— Então, você é mais na sua… — disse, refletindo.
— Eu gosto de ficar no meu canto, mas não significa que eu odeio conversar. Na real… eu meio que escolho as pessoas.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Escolhe com quem quer interagir?
— Eu escolho meus amigos. Não me dou bem com todo mundo.
— Você tá sendo legal comigo por que quer ser meu amigo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...