O Jogo das Sombras

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A escuridão envolvia o castelo quando Jeon retornou aos seus aposentos, exausto, mas com a mente agitada pelos eventos dos últimos dias. Alianças estavam sendo forjadas nas sombras, traições ocultas ganhavam vida, e ele estava no centro de uma trama perigosa. Agora, com Lady Mira ao lado de Elara, tinham mais chances de derrubar Alistair, mas Jeon sabia que o príncipe era astuto e que cada movimento precisava ser calculado com precisão.

Mal havia se permitido respirar quando um ruído leve, quase inaudível, chamou sua atenção. A porta de seus aposentos entreabriu-se, e uma figura envolta em um manto escuro deslizou para dentro. Jeon, sempre atento, colocou a mão na empunhadura de sua espada, mas relaxou ao reconhecer o rosto de Elara, iluminado apenas pela fraca luz das velas.

— Jeon — ela sussurrou, fechando a porta atrás de si. — Precisamos conversar. As coisas estão se movendo mais rápido do que imaginávamos.

Jeon assentiu, indicando um assento próximo a ela. O tom urgente na voz da princesa deixava claro que algo sério estava prestes a ser revelado. Sentada diante dele, Elara olhou-o nos olhos, a gravidade de suas palavras marcada pela intensidade de seu olhar.

— Mira conseguiu informações sobre a reunião de amanhã à noite — começou ela, mantendo a voz baixa. — Alistair se encontrará com dois dos nobres mais influentes de Astravia em uma propriedade isolada. E... ela descobriu algo que pode mudar tudo.

Jeon inclinou-se para mais perto, absorvendo cada palavra. — O que ela descobriu?

— Existe um plano para oprimir os soldados fiéis ao rei e trazer tropas mercenárias. Alistair planeja uma manobra que poderá tomar o controle do castelo antes que o rei ou qualquer um de nós possa reagir — disse Elara, sua expressão endurecendo. — É uma traição descarada, e ele pretende executá-la em poucos dias.

Jeon respirou fundo, processando as informações. Se Alistair fosse bem-sucedido, Astravia cairia em suas mãos rapidamente, e nem mesmo os mais leais ao rei poderiam impedir. Mas, com essa informação, Elara e ele teriam uma chance de reagir antes que o golpe ocorresse.

— Precisamos alertar o rei e fortalecer as defesas — ele começou, mas Elara ergueu a mão, interrompendo-o.

— Ainda não. O rei confia em Alistair e pode não acreditar sem provas concretas. Precisamos agir sem levantar suspeitas.

O cavaleiro hesitou, reconhecendo a sabedoria nas palavras da princesa, mas o peso de seu dever o fazia desejar confrontar a ameaça de imediato. Ele estava acostumado a agir com a espada, não com palavras e intrigas, mas agora sua habilidade em batalha pouco lhe serviria. Teria de jogar o jogo de sombras, mesmo que isso significasse comprometer seus próprios princípios.

Elara colocou uma mão gentil no ombro de Jeon, percebendo o conflito que se desenhava em seus olhos.

— Confie em mim, Jeon. Precisamos ser cautelosos. Você é meu escudo, meu aliado, mas também meu amigo. E sei que juntos poderemos proteger Astravia.

As palavras dela trouxeram um conforto inesperado ao coração de Jeon, que assentiu com firmeza. Ele sabia que, por ela e pelo reino, suportaria qualquer fardo.

Na manhã seguinte, Jeon encontrou-se com Renly em um dos pátios do castelo. Havia uma seriedade incomum na expressão de Renly, que lançou um olhar furtivo ao redor antes de começar a falar.

— Recebi um recado de Mira — disse ele em voz baixa. — Ela conseguiu uma lista de nobres que já estão comprometidos com Alistair. Temos nomes, detalhes... mas isso também significa que os riscos são ainda maiores.

Jeon pegou o pergaminho que Renly lhe ofereceu e estudou-o atentamente. Cada nome ali registrado representava uma ameaça, um obstáculo que precisariam enfrentar. Eram pessoas influentes, capazes de trazer uma onda de caos ao reino se decidissem apoiar o golpe de Alistair abertamente.

— Precisamos pensar em uma maneira de conter esses nobres antes que Alistair faça seu movimento — comentou Jeon, refletindo sobre as possibilidades.

Renly assentiu. — E há outra coisa. Mira conseguiu algo mais... uma carta que Alistair escreveu para um dos nobres, detalhando suas intenções. Com isso, podemos confrontá-lo diretamente, ou ao menos despertar a suspeita do rei.

Jeon sentiu um lampejo de esperança. Essa carta poderia ser exatamente o que precisavam para expor Alistair e salvar o reino. Mas, ao mesmo tempo, sentiu o peso da responsabilidade aumentar. Cada passo precisava ser perfeito, ou o castelo seria jogado em um caos que nem ele, nem Elara conseguiriam controlar.

— Precisamos nos encontrar com Mira novamente — disse Jeon. — E nos certificar de que essa carta seja guardada com segurança até termos o momento certo para agir.

Renly assentiu, mas antes que pudesse responder, um mensageiro se aproximou, trazendo uma notícia urgente: o rei estava chamando Jeon para uma audiência privada. O cavaleiro trocou um olhar significativo com Renly antes de seguir para o salão real, com o coração acelerado. Sabia que esse encontro poderia selar seu destino.

Ao entrar no salão, Jeon encontrou o rei sentado em seu trono, os olhos cansados e sérios, como se carregassem o peso de inúmeras preocupações. Alistair estava ao lado, o rosto inexpressivo, mas os olhos brilhando com algo que Jeon reconheceu como triunfo disfarçado de neutralidade.

— Jeon, temos muito o que discutir — disse o rei, sua voz profunda ecoando pelo salão vazio. — Recebi informações de que há forças tentando desestabilizar nosso reino. Preciso saber que posso contar com sua lealdade absoluta.

Jeon conteve a respiração, mantendo-se calmo e firme diante do olhar do rei. Ele sentiu os olhos de Alistair sobre si, como se esperassem qualquer erro, qualquer fraqueza. Mas Jeon não recuou.

— Minha lealdade sempre pertenceu a vossa majestade — respondeu, com um tom firme e inabalável. — E farei o que for necessário para proteger Astravia e sua coroa.

O rei assentiu, parecendo aliviado. Mas antes que pudesse dizer algo mais, Alistair interveio.

— Talvez, então, Jeon esteja disposto a ajudar a identificar quem poderia estar conspirando contra o trono — disse Alistair, com uma voz sedosa, quase desafiadora. — Afinal, em tempos de instabilidade, precisamos de homens que saibam discernir entre aliados e inimigos.

Jeon conteve a raiva que se acendeu em seu peito. Aquelas palavras eram uma armadilha velada, uma tentativa de testá-lo. Mas, mantendo sua postura, respondeu friamente:

— Concordo, príncipe. E acredito que, com o apoio do rei, encontraremos os responsáveis.

O rei observou o intercâmbio entre os dois homens, seu olhar avaliador, mas cansado. Ao final, acenou com a cabeça, dispensando Jeon com uma expressão de aprovação.

Assim que deixou o salão, Jeon sentiu o peso da situação. Alistair claramente desconfiava dele, e cada passo a partir de agora seria uma batalha entre lealdades e traições. Precisava reunir-se novamente com Elara e Renly, precisava planejar, precisava se preparar para o confronto que sabia ser inevitável.

À medida que a noite se aproximava, o castelo mergulhava em um silêncio inquietante, como se cada pedra, cada sombra, soubesse da tempestade iminente. Mas Jeon estava pronto. Com Elara ao seu lado, com aliados leais e uma determinação inabalável, ele enfrentaria a escuridão que Alistair trazia consigo. E, de alguma forma, ele sabia que a aurora seguinte traria consigo uma nova esperança para Astravia, mesmo que o preço fosse alto demais para alguns suportarem.

Entre Espadas e CoroasOnde histórias criam vida. Descubra agora