OS MENINOS DE ROGÉRIO

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Leon ficou no acampamento com Joca. O homenzinho vermelho disse que precisava de ajuda com a caça do dia.

— Temos que preparar alguns javalis para o restante do pessoal — disse ele, enquanto os dois estavam parados em frente à cabana de Costa. — Só não fique muito à vontade, pois ainda não confio totalmente em você!

— Fique tranquilo — disse Leon, apertando a mão direita de Joca. — Faremos o melhor javali de todos os tempos!

Assim, enquanto Tiffo e Matilde fabricavam suas novas armas, Joca e Leon foram cuidar do jantar.

Os dois aproximaram-se das fogueiras já acesas do acampamento, e puseram-se a limpar à faca as carcaças trazidas pelos outros moradores.

Leon rapidamente pegou o jeito da coisa, e logo, tinha limpado uns três porcos selvagens, e os colocado em espetos com suportes, que ficavam todos em cima das fogueiras agitadas.

Enquanto faziam isso, tanto Joca quanto Leon conversaram com os moradores que iam trazendo os bichos mortos. No geral, a maioria dos que vinham levar as carcaças apenas cumprimentavam os dois, e depois retornavam para outras atividades.

Mas, quando a tarde começou a cair, um homem-sapo chegou até Joca com o rosto sem cor, a pele verde enrugada e empolada de medo.

— Joca... — disse ele, engolindo em seco.

O homenzinho vermelho parou de limpar o javali, largou a carcaça e virou-se para o recém-chegado, imediatamente assumindo uma aparência preocupada ao notar as expressões no rosto do sapo. Leon também parou o que estava fazendo para prestar atenção na conversa.

— O que houve, Rogério? — disse Joca, aproximando-se do sujeito.

— S-são eles de novo! — exclamou Rogério, levantando os braços trêmulos. — Os gigantes! Eles... eles pegaram meus filhos! Estávamos fazendo um piquenique na floresta... eu saí por dois minutos, dois minutos, para apanhar água num riacho, e quando voltei, eles... eles s-sumiram!

— Onde isso aconteceu?

— A um quilômetro do acampamento, mais ou menos. — Ele apontou a direção com o braço direito chacoalhante de terror. — Eu vi as pegadas imensas deles, Joca, marcadas no chão. Não tenho nenhuma dúvida de que foram gigantes!

— Temos de ser rápidos! Eles já podem estar preparando uma sopa com os seus meninos!

O homem-sapo cambaleou um pouco para trás, até que Leon correu e o segurou firmemente.

— Eu vou com você, Joca — disse Leon, soltando Rogério e o tranquilizando com tapinhas nas costas. — Traremos seus filhos de volta, amigo.

— O-obrigado. — Ele puxou um lenço da roupa e assoou indiscretamente nele, tornando a guardá-lo em seguida.

Joca puxou uma lança das muitas que tinha na cintura, fazendo sinal de que o seguissem.

— Mostre-nos exatamente o caminho, Rogério.

Enquanto a tarde acabava, os dois seguiram o homem-sapo, que em cerca de meia hora os guiou até o local em que seus filhos tinham sido sequestrados.

Era um bosque repleto de ipês amarelos, com a grama encoberta de flores da mesma cor. Mas, dentre elas, Leon notou as marcas que Rogério mencionara.

Agora, o homem-sapo apontava para elas, fungando de tristeza e desespero.

— Olhem! — gritou. — Tem até sangue!

Joca aproximou-se das marcas, ajoelhando-se para analisá-las melhor. Viu pequenas gotas vermelhas espalhadas no solo, acompanhando os pés dos gigantes até o lugar em que eles se perdiam na densidade da vegetação.

— É melhor você voltar agora, Rogério.

— Eu não posso fazer isso! Jamais vou abandonar meus filhos desse jeito! Tenho que ajudá-los!

— Eu não lhe dei uma sugestão — disse Joca, com um tom ríspido. — Volte para o acampamento e alerte o restante do pessoal sobre os gigantes. Eu e Leon damos conta do recado; traremos seus meninos.

Rogério ficou estático por um momento, ainda observando as pegadas com os olhos arregalados. Joca pensou que ele fosse contestar suas orientações, mas no momento seguinte, o homem-sapo assentiu, virando-se com as pernas bambas para a trilha que levava de volta ao acampamento.

Quando ele desapareceu no bosque, apenas Leon e Joca permaneceram ao lado das pegadas.

— Eu vou na frente — disse o homenzinho vermelho. — Esteja preparado para o pior. Gigantes são bem mais cruéis do que monstros de piche, posso garantir.

Leon engoliu em seco, sacando a Espada dourada da bainha; a lâmina reluziu, iluminando as imensas marcas de pés no solo.

OS DEFENSORES DA FLORESTA MÁGICAOnde histórias criam vida. Descubra agora