04.

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Castiel Torrance.

Faz uma semana que voltei para a minha cidade natal, e já comecei com o meu pé direito. Estou dormindo em um hotel até encontrar a casa ideal para mim, a mudança está indo bem e os jogos estão mais acirrados do que nunca.
Melhor ainda ser transferido para um time superior do que o anterior, especialmente quando você é respeitado e até mesmo temido por todos. Acredito que este é o meu ano.

A lâmina do meu patins corta o gelo. Cada deslize é como uma dança que eu já conheço de cor. Hóquei sempre foi mais do que um jogo para mim. Aqui, sou só eu e o gelo. A pista é minha arena. Minha zona de conforto. E hoje, como em todas as outras vezes, estou concentrado. A adrenalina pulsando, o suor escorrendo pela minha testa, mas nada disso importa. O foco é total. Cada golpe do taco na bolinha, cada vez que nossos corpos colidem, é como se o mundo lá fora desaparecesse. E eu preciso disso — da fuga, do momento de silêncio em meio ao caos que é minha vida fora daqui.

Ouço o grito do meu treinador. Mais um ataque.

Respiro fundo e corro atrás do disco como se minha vida dependesse disso. De repente, sou jogado com força contra a parede da arena. O impacto atordoa por um segundo, mas a dor não é nada comparada ao calor que sobe pela minha cabeça. É o número 18. O grandalhão do time adversário. Ele me empurrou de propósito, tentando me tirar do jogo, e está com um sorriso cínico estampado na cara, como se estivesse se divertindo.
Algo dentro de mim estala. Ele quer me derrubar? Ótimo. Ele vai receber muito mais do que estava esperando. Antes que ele perceba, eu me viro e o empurro de volta com toda a força que tenho. A raiva que estava guardada dentro de mim durante semanas — meses, talvez — explode. Ele nem tem tempo de reagir antes de eu acertar um soco no capacete dele. A pancada ecoa, meus punhos doem, mas é como se eu nem sentisse. A dor passa despercebida.

— Qual é o seu problema?! — grito, a voz saindo mais rouca do que eu esperava, o sangue fervendo.

Ele tenta me acertar de volta, mas é lento. Eu desvio fácil e revido com um soco direito no estômago. Não há espaço para piedade aqui. Se ele acha que pode me enfrentar, vai aprender rápido que está jogando no nível errado.
Tudo ao redor vira um borrão. Eu posso ouvir os gritos da torcida, mas estão distantes, abafados. É só eu e ele agora. E a raiva.

Aquele merdinha não faz ideia com quem está se metendo.

Ele caiu no chão, brutalmente. Ótimo. Finalmente, ele vai parar de me incomodar.

Foi o que eu pensei.

Me virei de costas para ele, minhas mãos latejando pela força que usei para socar o seu capacete. O osso da ponta parecia ter sido esmagado, e dor começou a irradiar.
E isso, de maneira alguma me fez sentir péssimo.

Passo as mãos pelos meus cabelos molhados pelo suor, e eu não esperava, mas senti uma puxada bruta pela minha camiseta, o que me fez cair cruelmente no gelo.
O número 18 avançou em minha direção e começou a desferir socos em meu capacete.

Droga. Ele não tinha aprendido?

— Achei que fosse você mais forte, Torrance. — Indagou, com o olhar cheio de maldade. Ele levantou o punho e desferiu um soco no topo do meu capacete. — Vai chorar pra mamãe, bebezão?

Meu maxilar travou. E eu podia sentir o meu olhar queimando sobre ele.

— Você é patético, sabia? Eu tentei te dar uma chance. Quis te deixar me arrebentar e ver se o seu ego crescia um pouquinho. Mas, pelo visto, você não aproveitou enquanto pôde. — Minhas palavras saíram quase cuspidas.

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