A visita

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"Eu não sou um policial convencional. Eu sou do BOPE, da Tropa de Elite da polícia militar. Na teoria a gente faz parte da Polícia Militar, na prática o BOPE é outra polícia. Nosso símbolo mostra o que acontece quando a gente entra na favela. E a nossa farda não é azul, parceiro. É preta.

O BOPE foi criado pra intervir quando a polícia convencional não consegue dar jeito. E no Rio de Janeiro... isso acontece o tempo todo. Meu nome é Capitão Nascimento, eu chefiava a equipe Alfa do BOPE. Eu já tava naquela guerra faz tempo... "


Tudo começou a mudar quando a maldita filha do coronel resolveu aparecer no batalhão. Era como se fosse uma realeza chegando, toda pompa e ares de "sou intocável". Não veio sozinha, claro. Trouxe com ela uma amiga, uma daquelas que forma dupla inseparável e tem a mesma energia. Jovens, destemidas, rindo e conversando como se aquele lugar fosse um playground e não um pátio militar.

Quando as vi entrando, foi impossível ignorar. Todos no batalhão notaram. Elas caminharam lado a lado, sorrindo, como se estivessem a par da confusão que traziam junto. Os soldados ficaram meio tensos, lançando olhares indiscretos, e dava para ver que alguns, mesmo sem querer, pararam suas atividades para ver o que era aquilo. De farda ou não, ninguém ali era de ferro.

Afilha do coronel tinha aquele jeito confiante que parecia arrogância esegurança ao mesmo tempo. Ela olhava ao redor com uma expressão divertida,quase desafiadora.  

A amiga, por outro lado, era bem diferente. Não tinha o mesmo ar desafiador e confiante; na verdade, parecia até um pouco deslocada ali, com um olhar curioso e, ao mesmo tempo, receoso. Ela não exibia a mesma postura de quem está acostumada a ter o mundo aos pés. Era mais sutil nos movimentos e parecia quase incerta do que fazer com as mãos, que às vezes enfiava nos bolsos, outras vezes cruzava na frente do corpo.


Esse contraste a tornava, ironicamente, ainda mais chamativa. Havia uma inocência quase ingênua nos olhos dela, uma expressão de alguém que talvez nunca tivesse pisado num lugar assim. O jeito dela, meio tímido e discreto, só fazia crescer o interesse de quem a observava. Era como um frescor inesperado em meio à dureza do ambiente do batalhão, e dava para ver que os olhares mais atentos estavam divididos entre as duas.


Enquanto a filha do coronel parecia saborear a atenção que recebia, a amiga lançava olhares para os lados, um pouco nervosa, sem saber se deveria ou não estar ali. Ela olhou para os soldados, talvez tentando disfarçar o desconforto, e dava para perceber que aquele jeito natural, quase vulnerável, capturava a atenção de todos – talvez mais do que ela mesma imaginava.


As duas estavam com roupas casuais, mas que revelavam um cuidado intencional nos detalhes, como se tivessem escolhido a dedo cada peça para causar o efeito certo. Vestiam jeans justos, bem cortados, que moldavam as pernas e a cintura, e blusas que, embora básicas, deixavam o suficiente à mostra para alimentar os olhares curiosos sem serem escandalosas. Não era nada ostensivo, mas cada linha, cada dobra da roupa parecia feita para valorizar o que ambas tinham de melhor.


A filha do coronel estava completamente ciente disso. Tinha aquela confiança quase arrogante, os ombros erguidos, o olhar direto, como quem sabe exatamente o impacto que causa e não se importa. Cada passo parecia um desfile de poder e desdém, e os soldados que a observavam ficavam visivelmente divididos entre respeito e algo mais.


A amiga, no entanto, era um contraste sutil. Os gestos dela eram mais contidos, mas, ainda assim, carregavam um charme natural. Ela movia-se com certa hesitação, talvez consciente dos olhares sobre ela, mas sem a mesma segurança da outra. Sua presença era menos calculada, mas essa autenticidade a tornava ainda mais interessante. Ela passava as mãos pelos cabelos de forma distraída, ajeitava a roupa como se tentasse se cobrir um pouco mais, mas esse jogo de timidez e provocação inocente a envolvia numa aura que ninguém ali conseguia ignorar.Enquanto elas andavam pelo pátio, cada movimento – intencional ou não – parecia um aviso silencioso: sabiam do efeito que causavam, e, mesmo que cada uma a seu modo, estavam mais que confortáveis com a atenção que atraíam.

Paixão AcidentalOnde histórias criam vida. Descubra agora