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Crystal
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Domingo / 18:00hrs


Enquanto fazíamos o caminho de volta para casa, a culpa por ter gritado com as meninas ainda estava ali, pesada como uma pedra no meu peito. Sei que elas só querem me ajudar, e explodir com elas não era a reação que eu gostaria de ter tido. Senti meu rosto queimar e minhas mãos tremerem de vergonha. Elas não mereciam a forma como agi, mesmo que Hellen e Lúcia dissessem que estava tudo bem. Conseguimos nos divertir juntas no final do passeio, mas a culpa me alcançava, implacável.

A verdade é que me sinto tão sobrecarregada desde que o sequestro aconteceu. Lembro-me dos gritos abafados pelas máscaras, do medo paralisante que me impedia de mover um músculo. Essas memórias me perseguem, não importa o quanto eu tente esquecê-las. A sensação de estar sendo perseguida pelos homens que me pegaram continuava, não importava onde eu estivesse ou com quem.

Tudo só piorou desde que meu namoro foi para o espaço, sem eu ao menos saber ao certo o motivo. Há uma insistente sensação de que aquilo tudo que ouvi dela era mentira, e que tem algo aí que eu desconheço.

Esses pensamentos não me deixam em paz. As mil perguntas sobre Kyra terminam de me atordoar. Esse pressentimento de que ela precisa de mim se junta ao fracasso de não conseguir atender às expectativas dos meus pais e amigas, em suas tentativas de me animar.

Enquanto caminhávamos, o sol se punha, lançando sombras longas e douradas na calçada. Essa situação simplesmente me levou a um ponto que nunca imaginei. Tem sido tão difícil lidar com tudo isso. Eu já não me reconhecia mais.

Às vezes, só queria poder fugir para longe dos meus pensamentos, mas sei que isso é impossível. Nada era capaz de me tirar do caos que se instalou em mim, bom quase nada, o único momento que pude dizer que tive realmente um pouco de paz foi na parte do meu dia em que tive Miguel perto de mim. Ele segurou minha mão com sua pequena e quente mãozinha, e de repente, o mundo parecia um pouco menos assustador. Definitivamente, ter ele ao meu lado e recebendo seu carinho era algo que não me deixava perder a cabeça de vez.

Sei que ele não entendia direito o que estava acontecendo. Miguel é só uma criança, mas mesmo assim, ele conseguia ser meu pontinho de equilíbrio.

Apertei a alça da mochila, ajustando-a no ombro. O caminho para casa foi acompanhado por um silêncio, que não era exatamente ruim, mas depois de um certo tempo, já começava a ficar incômodo, porém eu não sabia ao certo como quebrá-lo e nem se deveria.

Hellen por sua vez parecia concordar comigo, já que foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Até que o passeio foi divertido, tivemos, emoção e diversão e ainda descobrimos que somos as três mosqueteiras — disse, tentando aliviar a tensão com sua voz brincalhona de sempre, andando de costas para olhar para mim e para Luci.

Eu sorri levemente, apreciando o esforço dela, mas ainda sentindo o peso das minhas preocupações. Lúcia, que estava de braços cruzados, finalmente relaxou um pouco e deu um pequeno sorriso.

— É, acho que podemos enfrentar qualquer coisa juntas — a coreana acrescentou, tentando mostrar apoio.

Assenti com a cabeça — O que seria de mim sem vocês?

(Nem) Todos os Clichês São IguaisOnde histórias criam vida. Descubra agora