O amigo do amigo

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Acabei ficando próxima de João, eu o ajudava com a escola, na verdade eu só passava as matérias que havia sido dada antes dele chegar e ele me ajudava com alguns assuntos, ele era realmente muito inteligente. Logo comecei a frequentar a casa dele, não demorou muito para a Kitty vir me encher o saco, depois de algumas semanas da chegada de João ela percebeu nossa aproximação e não deixou isso passar em branco.
- Ai amiga, ele é um ga-to, com "g" maiúsculo, sortuda! -disse ela com o queixo apoiado na mão e o braço em cima da minha carteira.
- Sim, ele é um ga-to, e sou sortuda por ser a-mi-ga dele. - eu disse, imitando-a.
- Aham, claro, acho que alguém jogou um arco-íris nessa amizade.
- Ele é gay?
- Amizade colorida sua idiota, não se faça de tonta. - disse ela revirando os olhos.
Comecei a rir e então o sinal tocou e a aula começou. A próxima semana seria a semana de provas e eu estava nervosa, queria melhorar minhas notas então planejei estudar muito. Tocou o sinal do intervalo e eu mal levantei da cadeira, senti uma mão em meu braço, Kitty disse que me encontraria na cantina e saiu dando aquele sorriso de cara-de-pau dela.
-Oi Lana!
-Olá João
-Desculpa te abordar assim, eu só queria te agradecer por toda a ajuda que tem me dado e pela sua amizade.
-Ah, que isso João, imagina, você não tem que agradecer nada.
-Tenho sim, e acho que encontrei uma forma de te retribuir, já que a próxima semana será de provas, eu queria dizer que estou à sua disposição, se você estiver com alguma dificuldade é só me ligar que o professor aqui vai te atender. - dizendo isso me deu o número de celular dele.
- Nossa, muito obrigada, você é demais. - disse isso e dei-lhe um abraço sincero, há quanto tempo ninguém se dispunha a me ajudar assim.
Fui até Kitty já preparada para o interrogatório, e não deu outra, contei tudo e lhe mostrei o número. Ela surtou e ficou até o fim da aula tagarelando sobre isso. Na hora de ir embora, fui na janela do ônibus, pensando e decidi aceitar a ajuda de João, afinal, que mau havia nisso?!
-Alô, João?
- Alana? Oi, sou eu sim, pode falar.
- Será que daria para você me dar aquelas aulas? - eu disse, um pouco tímida.
- Claro! Seria um prazer, pode vir quando puder, só me mande uma mensagem antes.
- Ok, muito obrigada de novo, beijo.
- Por nada, beijos.
Desliguei a ligação e decidi que iria hoje mesmo. Depois de almoçar, dormi um pouco no sofá e quando acordei, tomei um banho, coloquei um vestido fresquinho e uma jaqueta leve e mandei uma mensagem para João perguntando se poderia ir na casa dele. Ele me disse que poderia sim se eu não me importasse com um amigo dele que estaria lá. Não achei nada demais e acabei indo.
Chegando lá, a mãe de João me recebeu e me mandou subir até o quarto dele, disse que estava de saída, eu iria ficar sozinha com João e seu amigo, já que o pai dele estava viajando à trabalho.
- João? - eu disse batendo na porta.
-Oi Alana, entre.
A primeira coisa que reparei foi na organização de seu quarto, estava tudo impecável.
- Ah, o meu amigo chega mais tarde, acho bom vocês se conhecerem porque ele também é novo na cidade e precisa de mais amigos.
- Serio? Vocês moravam na mesma cidade? - eu falei, sentando-me na cadeira da escrivaninha.
- Sim, nossos pais trabalham na mesma empresa e foram transferidos para cá.
Ficamos ali um tempo apenas conversando, depois ele foi me ajudar com os estudos. Eu acabei ficando naquela cadeira mesmo e ele pegou a do computador e ficou ao meu lado, depois de um tempo eu já estava um pouco cansada e acho que ele percebeu.
- Ei, estou indo rápido demais?
- Não, eu só me canso muito fácil com exatas.
- Que tal mudarmos a matéria então? Poderíamos estudá-la mais a fundo sem você se cansar muito. -disse ele ainda mais próximo de mim, num tom bem mais descontraído.
- E qual seria? - eu respondi, no mesmo tom.
- Biologia.
- Biologia?
- Sim, mais especificamente a parte de anatomia. -dizendo isso, me puxou junto dele, passou os dedos pelo meu rosto, delicadamente e me beijou, um beijo doce e calmo. Mas eu estava surpresa demais e logo me afastei, bem na hora que alguém chamou lá embaixo.
- Ah, deve ser o Allan.
- O seu amigo? -eu disse, mas ele já havia levantado e ido até o tal Allan. Enquanto ele não voltava, reparei que meu nome era o feminino para "Allan", achei aquilo engraçado e por algum motivo fiquei ansiosa para conhecê-lo.
Já fazia um tempo que João tinha descido e nada de voltar então resolvi descer também. Assim que saí do quarto, dei de cara com alguém. Literalmente, meu rosto bateu no peito de um homem, não machucou, mas quase caí no chão pelo susto, ou simplesmente por ser eu e eu sem passar vergonha, não sou eu. Eu já estava de olhos fechados esperando pela dor do tombo, mas não caí, em vez disso senti um braço forte segurando minhas costas e por reflexo, segurei o braço também. Quando finalmente abri os olhos e olhei para o rapaz ele estava rindo, e por algum motivo fiquei olhando para sua boca um pouco a mais que o necessário, ele não era o que Kitty classificaria como "ga-to", mas era bonito e tinha charme, muito charme. Quando percebi que ainda estava agarrada nele, me endireitei rapidamente com muita vergonha. O que aconteceu comigo? Eu estava mais desastrada e sem jeito do que o normal. Ele apenas riu de novo e finalmente falou.
- Prazer, sou Allan.

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