Um dia cheio de surpresas

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Emily pigarreou.

— Então, é aqui que acontece toda a confusão?

— Que confusão?

— Você sabe. Dizem que a estação Paulista é na rua Consolação e a estação Consolação fica na Paulista. 

— Ah, você ouviu falar disso?

— Eu vi uns memes sobre isso na internet, uma vez. 

— Digamos que você pode se perder se vier sozinha, nas primeiras vezes. 

Eles subiram alguns lances de escada rolante até saírem numa avenida enorme cheia de prédios ao redor e um museu preto e vermelho, com arquitetura estranha logo ao lado. 

— De acordo com seu mapa, o que vamos ver primeiro? — ela questionou, caminhando ao seu lado.

— Vamos procurar um lugar pra comer, já é quase meio dia.

— Nossa, a hora passou tão rápido!

— É, aqui é assim mesmo.

— Passamos todo esse tempo no trajeto? A gente saiu de casa quase dez da manhã.

Ele apertou os lábios.

— Tenho mais uma novidade pra você, querida. As coisas aqui são muito distantes de nós que somos pobres. Tudo leva mais de uma hora e meia. Mas isso é porque a cidade é muito grande, sabe?

— Entendi. — Eles passaram por alguns moradores de rua jogados no chão e um deles estendeu a mão para Emily, pedindo-lhe dinheiro. Ela parou de andar e pegou a bolsa. 

Eric segurou seu braço.

— O que tá fazendo?

— Vou ajudar esse homem. 

— Não vai, não. Se der dinheiro a ele, ele vai gastar com drogas.

— Se eu não der, então não tô fazendo minha parte como cristã, de ajudar os pobres. Não sei o que ele fará com o dinheiro, o que vale é a minha intenção. — Com isso, ela pegou algumas moedas e entregou nas mãos do homem, que sorriu e murmurou um “Deus te abençõe”. 

Eles seguiram com a caminhada. 

— Nunca vi por esse lado, sabe? — disse Eric. — Geralmente, não dou dinheiro pra esses caras. Não dá pra confiar nas pessoas. E agora tô pensando que eu sou um cristão horrível.

— Ah, então você também é da igreja.

— Sim, desde pequeno. Toco bateria lá. 

— Nossa, que legal. Sabe tocar outros instrumentos?

— Violão e o básico da harpa. 

Ela arregalou os olhos.

— Mentira! Dizem que harpa é tão difícil.

— E é mesmo. Levei anos pra aprender o básico. — Ele riu e parou na frente de uma barraca de cachorro quente. — Então, vamos comer aqui?

— Não devíamos procurar um restaurante pra almoçar?

— Não, vamos. Comete esse crime comigo, sweetie. Nada de almoço hoje. Que tal?

— Ai, meu Deus… — Suspirou. — Tá bom. 

Ele riu e pegou um dos cardápios. Pouco depois, ambos estavam sentados numa mesinha tão pequena que seus joelhos se encostavam. Pediram um hot dog completo. Eric ainda optou por beber refrigerante e Emily, um suco natural, numa tentativa de colocar pelo menos alguma coisa saudável nessa refeição. 

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