001: Suave como a brisa.

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Eu poderia surtar, na verdade, estava a pouquíssimos passos de entrar em colapso.

Aquela era a quarta vez, quarta vez em uma única semana; era a quarta vez em que eu saía de casa no intuito de reclamar com o novo vizinho do apartamento ao lado.
Daqui a alguns meses, aquele imóvel estaria completando quatro anos desocupado, claro, se um maluco com espírito de adolescente não tivesse o alugado.

Eu não sabia o seu nome, muito menos de onde veio, tudo o que eu sabia era o quão irritante ele conseguia ser com aquela música que estava sempre alta. Antes das reclamações, nosso primeiro e único contato foi em meio aos corredores do prédio, ele carregava vasos de flores para dentro de seu apartamento, enquanto sorria e cumprimentava todos feito uma criança boba e ingênua. Eu não tenho paciência para isso, talvez a idade tenha me deixado amargurado o suficiente para não me importar, ou melhor, para me irritar com mais facilidade.
Me lembro dele dizendo algo a mim como um “Tenha um bom dia, vizinho!” e logo após, destruiu todo o ambiente de paz e silêncio que eu tanto lutei para ter. Isso só me fez pegar ainda mais raiva de suas músicas, suas cantorias às dez da manhã, e principalmente de sua dança patética.

Agora, parado em frente à porta de seu apartamento, esperei que ele ao menos escutasse sua própria campainha, mas é claro que isso não aconteceu.

— EIII!! VIZINHO!! -- gritei enquanto batia diversas vezes na porta. Cara, eram nove da manhã!

Segundos após o meu chamado, notei a forma que a música se tornava baixa, o volume estava diminuindo, e o barulho de passos próximos ao outro lado da porta estava aumentando.
Quando a porta se abriu, pude ver sua face, seus fios loiros bagunçados, a respiração desregulada e impressionantemente, havia um sorriso em seus lábios.

— Eai! Você precisa de alguma coisa? -- ele disse em meio ao seu sorriso, tentando não demonstrar o quão ofegante estava.

O que me impressionou ainda mais foi o jeito em que ele dizia suas falas com tão pouca importância, como se realmente não soubesse o motivo para eu estar em sua porta pela quarta vez.

— Vem cá, qual é o seu nome? -- cruzei os braços, franzindo o cenho.

— Taehyung, Kim Taehyung; Por que? Você é o Jungkook, né!? Escutei alguns moradores falando sobre você.

— É, sou eu. O ponto é que agora, Taehyung, eu preciso que você abaixe esse som, pelo amor. São nove da manhã! Eu posso não estar dormindo agora, mas eu tenho certeza que há outros moradores tentando descansar!

— Ah, a música está incomodando de novo? Poxa, me desculpe mais uma vez! Mas, eu preciso continuar ensaiando.

Eu sabia sobre os ensaios, algumas vezes, conseguia o ver dançando em sua vasta varanda, sem ao menos se importar com quem também estava o vendo. Não demorou muito para ter a certeza de que Taehyung era o tipo de pessoa que não se importa muito, ou melhor, não se importa com nada; ele estava sempre sorrindo, principalmente quando falava comigo.
Em minha face, poderia estar a expressão mais furiosa do mundo, que mesmo assim, ele iria sorrir de forma gentil e me perguntar o que eu estava precisando.

— Eu entendo que você precisa continuar ensaiando, mas não tem como diminuir um pouquinho o som? -- mais uma vez, tentei não perder a cabeça.

— Não, não. Eu preciso da música neste volume para me concentrar, são as últimas horas de ensaio; Relaxa, hoje será o último dia em que a música vai estar nessa altura, você não vai mais precisar vir aqui reclamar.

Era o que eu esperava, era o que eu queria; era irritante e cansativo pedir sempre pela mesma coisa e nunca ser atendido.
Em silêncio, observei atentamente sua face, buscando ao certo o que dizer;

A dança das borboletas. |  [KTH+JJK]Onde histórias criam vida. Descubra agora