Primeiro dia no restaurante

3 2 1
                                    

No outro dia, Victória ficou quieta durante o trajeto inteiro até o restaurante da mãe. Assim que desceu do carro sentiu a brisa fresca agitar seus cabelos curtos e encarou a fachada grafada em tons de dourado com os dizeres "Casa do Sabor", sobre o vermelho da parede. Toda parte externa mesclava tons de vermelho e branco. Victória seguiu a mãe por um curto lance de escadas até ambas atravessarem portas duplas pretas e ela dar de cara com um ambiente muito organizado. O cheiro de produto de limpeza pairava no ar. Ela fez uma careta, absorvendo um pouco do aroma. Quase deixou um espirro escapar.

- Bom dia, Rafa - disse Monique, parando para falar com um rapaz que estava atrás de um balcão, logo de entrada. - Posso te pedir um favor? Minha filha vai trabalhar aqui por um tempo, quero que você a ajude no que for preciso. Ela não entende nada de servir as pessoas.

- Bom dia, chef. Sem problemas. Ah, já organizei tudo por aqui, só estou colocando umas planilhas em ordem no computador. Devemos abrir o restaurante em meia hora - dizia o moço.

Os olhos de Victória ainda analisavam o ambiente enquanto ouvia a conversa, ora pairando sobre as mesinhas redondas de madeira, ora pairando sobre as paredes vermelhas. Viu uns dois quadros nas paredes e não entendeu o significado. As cores vivas chamavam atenção, porém não lhe diziam nada. Nos fundos, viu duas portas com indicadores de banheiro masculino e feminino. Do outro lado do restaurante, atrás do enorme balcão, seus olhos bateram nas portas brancas com símbolo de acesso restrito aos funcionários.

- Victória - Monique chamou.

A menina voltou os olhos para a mãe.

- Que é? - resmungou.

- Vou te deixar com um dos meus funcionários. Ele vai te ensinar algumas coisas sobre servir as mesas. Se precisar de alguma coisa, estarei na cozinha.

- Tanto faz.

A mulher se aproximou da filha e falou quase num sussurro:

- Não se esqueça da conversa que tivemos ontem. E se você aprontar alguma coisa aqui no restaurante, vai se ver comigo depois. Então, nem tenta. - Ela passou a mão no cabelo da filha, mas não em um gesto amoroso. Assemelhava-se ao deboche.

A menina recuou, fazendo cara de nojo. Em seguida, Monique se afastou e sumiu atrás daquelas portas brancas. O rapaz saiu de trás do balcão e se colocou em sua frente. Usava uma roupa toda preta, com a logo do restaurante na camiseta.

- Oi. Eu sou o...

-Rafael, eu ouvi enquanto conversava com minha mãe.

- Isso. Primeiro de tudo, preciso saber suas medidas pra encomendar um uniforme pra você. Aliás, seu nome é...?

- Victória - disse, aceitando sua derrota. Viu que não conseguiria nada esperneando. Resolveu colaborar, passou as medidas para o rapaz e ele fez anotações em um bloco de notas. Quando Rafael a conduziu para de trás do balcão, Victória soltou um espirro, seguido de mais três.

- Saúde.

- Eu posso opinar na administração desse lugar ou devo aceitar tudo calada? Porque sinceramente, esse produto de limpeza que você jogou aqui é uma porcaria. Deixou meu nariz irritado. Se eu pegar uma intoxicação, com quem devo reclamar?

Rafael digitava alguma coisa no computador. Abriu um sorriso com o comentário da menina.

- Desculpa, vou pegar mais leve na próxima limpeza. É que o restaurante estava muito sujo e eu joguei cândida em tudo.

- Vai espantar os fregueses, caso não saiba - disse ela, sem entender do que ele estava rindo.

- Vou anotar isso, mais alguma coisa?

A VilãOnde histórias criam vida. Descubra agora