Desenhos Sobre a Garota do Basquete

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O som repetitivo da bola pesada batia e ecoava numa mesma frequência, no mesmo ritmo, e continuava como uma marca retumbante no piso. As mãos flexíveis conduziam a bola de cima para baixo, para um lado e outro, mais longe, mais perto. O silêncio tomou conta de todo o ginásio. Todos pararam hipnotizados. Os passos frenéticos de Gabryela deslizavam com uma precisão encantadora, imparáveis, provocando o específico barulho do tênis na quadra, interrompendo a passada, mudando de direção, enquanto o seu corpo macilento, ágil, desviava dos obstáculos em sua frente, e driblava serpenteando até o garrafão. O tempo desapareceu de sua consciência, o seu campo de visão clareava o único percurso, o caminho da vitória, a trajetória final, a luz do túnel. Ela não percebeu que o relógio marcava os últimos segundos da partida porque encarava o aro, com o peito estufado, pronta para soltar todo o fôlego e sentir os músculos dos braços relaxarem. Ergueu a bola vermelha com listras pretas acima da cabeça, os punhos flexionados, e a arremessou dando um delicado impulso para frente com os pés. Gabryela não desviou os olhos, permaneceu imóvel, como se controlasse a bola com o olhar. A torcida ficara quieta, muda, tensa. A bola teimosa equilibrou-se no aro, dando voltas intermináveis dentro de um redemoinho invisível e entrou na cesta, tocando o aço da rede, caindo até beijar o chão.

Foi assim que Ana a conheceu, testemunhando os últimos pontos da partida para vencer o seu primeiro campeonato de basquete feminino. Os primeiros toques no chão, rápidos e precisos... Gabryela segurava a bola nas mãos, levantava a cabeça, concentrada, encarando a tabela no alto, e a arremessou em direção à cesta, formando uma parábola perfeita, até cair no alvo.

Ana observava-a atentamente. Não tirava os olhos dela, cada movimentação, os mínimos detalhes, a camiseta suada, os cabelos anelados com as pontas azuis saltitando nos ombros e uma mecha perfilada na testa.

Ana era uma artista. Fazia mágica com o lápis na mão apontado para o papel branco, criando esboços e figuras que formavam desenhos impecáveis. Gabryela deslizava no caderno como uma pluma, página à página. Gostava de imaginá-la flutuando, fazendo malabarismos com a bola.

Esse era o seu segundo caderno de esboços, florido nas bordas com a capa marrom, cujo título havia nomeado de "Desenhos Sobre a Garota do Basquete", visto apenas pela sua avó Elena Barsóvia numa manhã fria, enquanto Ana dormia despreocupada, sem lembrar de que se esquecera do material aberto em cima da escrivaninha, com as folhas expostas, e que acordaria envergonhada, confessando sua admiração por Gabryela. O caderno guardava uma coleção de desenhos da atleta em movimento, nos seus melhores momentos, nas grandes e menores conquistas dos anos anteriores. Planejava terminar um épico livro de desenhos, iniciando com um poema e uma bola de basquete na primeira página.


O desenho é uma bola de basquete no escuro

Logo, o eco do seu toque no chão clareia as páginas

Formando as linhas e os traços no muro

Imprimindo jogadas mágicas.


Se pudesse escolher uma palavra para descrever os seus desenhos seria: "Poéticos". Cada página de Desenhos sobre a garota do basquete era um canto de guerra que Ana insistia em desenhar nas folhas em branco, porque representava a força de uma mulher que a inspirava. Não tinham as mesmas cores vibrantes e dramáticas das pinturas do imortal Vincent Van Gogh, mas possuíam um traço único e realista.

Quanto mais Gabryela jogava, mais Ana desenhava. O que acontecia nas veias de uma mulher inspirada a desenhar, entusiasmada pela manhã seguinte, convicta das alegrias da vida revelada pela imensidão do mundo pictórico de um esporte, era um verdadeiro mistério, uma fantástica clareza.

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