Capítulo 33 - Onde ela está?

39 4 0
                                    

Ver Nika atravessar o portão de desembarque foi como voltar a respirar depois de prender o ar por três semanas inteiras. Todo aquele tempo, eu só tinha desejado que ela estivesse ao meu lado, mas agora que a via ali, meu coração apertava de outra forma – um misto de saudade, tristeza e a urgência de querer curar a dor que ela estava carregando. Vê-la tão abatida, o rosto um pouco mais pálido, o corpo consideravelmente mais magro e os ombros levemente caídos, fez cada segundo daquela distância pesar ainda mais.

Quando nossos olhares se encontraram, eu senti meu peito desmoronar e uma vontade incontrolável de atravessar o saguão correndo. Ela não precisou andar muito antes de eu já estar com os braços ao seu redor, como se esse abraço fosse o único remédio capaz de preencher todo o vazio que sentimos. Senti Nika soltar o ar em um suspiro pesado contra meu ombro, e seus braços me apertaram como se segurassem em mim o que restava de força.

"Eu senti tanto sua falta," murmurei no ouvido dela, minha voz mal escapando dos lábios. Eu queria que aquelas palavras fossem uma promessa, uma âncora. "Mais do que você pode imaginar."

Nika balançou a cabeça levemente e sussurrou de volta, a voz fraca e vulnerável de uma forma que eu nunca tinha ouvido. "Foi horrível, Livie... Eu queria tanto você lá comigo. Tinha coisa demais pra processar, e sem você... foi tudo tão mais difícil."

Passei os dedos pelos cabelos dela, tentando trazer algum conforto, mesmo que mínimo. "Amor... Eu sei," respondi, sentindo minha garganta apertar. "Eu queria estar lá com você também, cada segundo. Estava contando os dias para ter você de volta."

Ela se afastou um pouco, só o suficiente para nossos olhos se encontrarem. Nika estava tão frágil que senti um impulso protetor ainda mais forte. "Eu vi que ganhamos a Big East," ela comentou, tentando esboçar um sorriso, mas eu notei a tristeza no fundo de seus olhos.

Eu balancei a cabeça, sentindo uma pontada no coração. "Ter você lá teria feito tudo valer a pena. Sem você, a vitória perdeu o brilho. Nada teve o mesmo sabor, babe."

O silêncio entre nós era pesado, mas de um jeito que nos conectava. Eu podia ver a dor dela, e sabia que ela também enxergava a minha. Era um sentimento compartilhado, de um tipo que nem sempre encontra palavras, mas que, de alguma forma, nos aproximava ainda mais.

"Vem, vamos pra casa," disse por fim, segurando sua mão com firmeza. Não precisava ser mais complicado que isso – eu só queria estar ao lado dela, mostrar que agora não tinha mais vazio, nem distância.

A semana que se seguiu foi uma tentativa constante de equilibrar as aulas, os treinos, e a preocupação que só aumentava a cada dia que eu olhava para minha namorada. Ver a minha pessoa favorita do mundo daquela forma – distante, perdida, quase inacessível – me despedaçava. Nika sempre foi a mais energética, a mais vibrante de nós duas. Mas agora, parecia que todo aquele brilho que sempre admirei tinha se apagado.

As aulas exigiam muito, e eu tentava manter o foco, mas minha mente sempre voltava para ela. Eu estava atenta a cada gesto, cada respiração pesada dela quando estávamos juntas. Se antes ela sempre puxava conversa, agora Nika permanecia em silêncio, com o olhar distante, só falando quando alguém a chamava diretamente. E eu sabia que ela estava se esforçando para parecer "normal" em público, mas sempre havia uma sombra que cobria o rosto dela, um peso que ela estava carregando sozinha, sem me deixar fazer parte.

Nos treinos, Nika estava ainda pior. Seu desempenho caíra tanto que Geno mal conseguia disfarçar a frustração. E o temperamento dela, sempre tão controlado, estava cada vez mais instável. Em um dos treinos, a vi gritar com Dorka por uma jogada simples, algo que normalmente ela apenas corrigiria de forma prática e paciente. Quando Geno chamou sua atenção, ela apenas se calou e cruzou os braços, mas pude ver o que parecia ser um brilho de lágrimas nos olhos dela. Meu coração quebrou, mas eu sabia que tentar consolá-la naquele momento só pioraria as coisas.

You drafted my heart - Nika MühlOnde histórias criam vida. Descubra agora