Savior

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A cada fechamento de mês eu digo "Essa foi a pior semana da minha vida" mas então chega o próximo mês e vejo que dá para piorar, Miranda fica mais endemoniada a cada dia que passa. Em alguns momentos seus de estresse, onde ela ofende três gerações futuras de cada funcionário, acho que sua cabeça pode explodir de tanta perturbação, pensando bem, talvez hoje exploda, tudo que está ruim, pode sempre piorar.

__Andreah. __ De sua sala ela me chama, não é preciso ela se levantar para sua voz chegar até mim, meus ouvidos estão sempre atentos a ela.

__ Sim Miranda. __ Agilmente chego a sua sala com meu bloco de notas pronto.

__ Andreah, o que você estava fazendo que não viu o caminho desastroso que essa capa estava tomando? Te pergunto por que, com certeza, o seu trabalho é que não estava fazendo. __ O tom de voz é baixo, como quem joga uma maldição sorrateira. Mantenho meus olhos no bloco de notas pois ela nunca quer ouvir minha resposta e sempre termina jogando mil tarefas, mas seu silencio me faz erguer meus olhos até ela que me encarava de volta.

__ Você quer uma resposta? __ Digo baixo, mas meu tom baixo não é afiado como o dela e sim como o de um animal encurralado.

__ Eu te fiz uma pergunta não fiz? __ Olho em seus olhos que são proibidos pra mim, sempre tão gélidos capaz de congelar o meu corpo para então o quebrar em milhões de pedacinhos, mas dessa vez não, estavam diferentes, havia algo novo tomando aqueles olhos. Cansaço? Tristeza? Um pedido de socorro? Abusando do pequeno momento de paz, me sento de frente para ela enquanto a vejo se recosta melhor na cadeira.

__ Miranda... __ Começo insegura, mas seu leve assentir de cabeça me faz dissipar qualquer pensamento negativo. __ Eu realmente me senti falhar em meu trabalho, porém foi realmente difícil evitar, essa responsabilidade era da equipe de fotografia, eles erraram nas fotos de capa, disse a eles que organizaria para refazerem as fotos mas se negaram por ser longe e toda a demanda que tomaria, não queriam atrasos, usaram photoshop nas imagens, apontei a eles todos os erros que você se incomodaria, Runway é a excelência!

__ Por que não veio até mim quando tiveram a ideia do photoshop? __ Seu tom de voz expressava... decepção?

__ Eles me disseram que fariam retoques nas imagens e então elas ficariam boas. Não imaginei que transformariam as imagens dessa forma, que falsificariam a verdade. Quando disse a eles os erros, não me ouviram, então chamei o máximo de profissionais, até mesmo a grafia, quando concordaram comigo eles continuaram trabalhando nas imagens porque não havia tempo de refazer, quando eles encerraram eu mandei para a editora executiva e ela enlouqueceu, não me deu detalhes dos problemas porque me diminui no meu trabalho mas sei que tem relação com qualidade de imagem, de criação, de design e o pior, direitos autorais. Por isso as revistas não estão sendo impressas, o trabalho está travado e Nigel está prestes a passar por cima de suas ordens e criar outra capa.

Ela se levanta da cadeira com uma vagareza desconcertante seguindo para fora da sala, incerta, a sigo a um passo de distância. Caminha direto para a sala de Nigel, no caminho não faço contato visual com ninguém, pode ser maldade, mas não quero dar nenhuma dica para que possam espalhar mensagens nos grupos de fofoca que eu sei que existem, mas não sei o porque de eu não estar neles (Contém deboche). Entramos na sala de Nigel sem nem mesmo bater.

__ Miranda! __ Sua cara era de assustado e suas mãos moviam com precisão escondendo em o que trabalhava.

__ Deixe-me ver a capa antiga e a capa atual. __ Ao ouvir a palavra atual um sorriso de alívio substituiu o sorriso de nervosismo.

__ Sim Miranda. __ Organiza todas as páginas sobre a mesa e no Ipad apresenta a ela detalhadamente no que estava trabalhando. Todos sabem ler as expressões de Miranda, seu bico torto, o pender de cabeça, mas pelo olhar iludido de Nigel, percebo que essa cara ele não conhece, é uma expressão neutra, que não externa nada para fora pois se ela abrir a boca cuspira fogo pelo prédio inteiro. Quando fiz o movimento de dar um paço para o lado para sair do caminho da porta e posicionar o bloco de notas na mão o homem percebeu, a bomba viria, Miranda se virou seguindo em direção a sua sala disparando ordens, mas dessa vez em passos rápidos, muito rápidos.

Green.Onde histórias criam vida. Descubra agora