Coisa

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No canto do quarto, ali… no escuro visível e horroroso da noite. Tudo que tememos no escuro é não sabermos o que tem lá, pois a antecipação assusta mais que o pior dos monstros.

Gabriel tinha medo do escuro. Desde pequeno ele odiava ficar em lugares escuros, principalmente locais fechados, e sempre dormia de luz acesa quando podia. Não só porque ele tinha medo de monstros ou coisas do tipo, mas ele detestava a ideia de não ver os seus arredores, principalmente porque ele sofria de paralisias do sono constantes, e sempre alucinava alguém o observando do canto do quarto, num lugar escuro, onde ele não podia ver quem ou o que, mas sabia que estava ali, pois seus olhos brilhavam com a maldade do coração humano.

Numa noite, no auge dos seus 15 anos, Gabriel quis dormir de luz apagada, para enfrentar de vez esse medinho de criança. Andando no corredor, ele olhou para trás, vendo o breu que sua sala havia se tornado, antecipando o que estava por vir… Quando chegou enfim ao seu quarto, apagou as luzes, deitou-se, e cobriu-se. Nada aconteceu, ele percebeu que a única coisa no escuro é a ausência de luz, e tudo que já estava lá antes, e então, caiu em sono. Como era de praxe, acordou no meio da noite, e considerando que havia algo no canto do quarto, ele já supôs que fosse outra paralisia do sono. Por instinto, foi levar suas mãos ao rosto, mas elas de fato se moveram…

Ele congelou, e olhou novamente pro canto do quarto; ele viu uma coisa quase humana, que se camuflava na escuridão exceto pelos olhos, olhos que não tinham luz ou cor em si, mas brilhavam. Ele sentia que estava sendo observado, e a escuridão do quarto parecia se estender até mesmo onde a luz pálida da lua estava. A presença maligna e ameaçadora crescia a cada segundo, e Gabriel se sentiu paralisado por sua insignificância perante a coisa. Ele não sabia o que fazer, pois ela parecia estar se aproximando, mas ainda estar no canto do quarto ao mesmo tempo. Ele se enfiou debaixo da coberta completamente, e rezou para que aquilo fosse só um pesadelo ou uma alucinação, mas orações não alcançavam nada fora daquele quarto. Ele sentiu a presença ficar maior, e olhou pra baixo dentro da coberta… a cara quase humana da coisa, com olhos vermelhos e sem boca. Depois daquela noite, Gabriel parou de comer e falar, e foi internado, morrendo 5 dias depois por desidratação e fome. No seu último dia de vida, ele falou novamente, mas apenas uma frase: "Aquilo é do inferno".

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⏰ Última atualização: Nov 01 ⏰

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