Capítulo único

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Yuuri estava patinando, no castelo de gelo como fazia toda sexta-feira a noite. Ele não tinha nenhum compromisso importante no outro dia, e a chave do prédio tintilava em seu cinto. Seu antigo técnico estava em algum bar da cidade, que agora é seu rival no próximo grand pix, e de certa forma aquilo o deixava triste. Depois da ultima edição, voltaram para casa, mas Viktor retornou ao Japão, sem explicar o motivo, mas alguém era capaz de convidá-lo a ir embora?

A música Danse Macabre cortejava seus ouvidos, um programa famoso de Yuna Kim, que se inspira na melodia onde a morte, na noite de halloween, convida os finados a dançar com ela, e no programa de Kim, ela dança com a morte. A escolha especifica do moreno foi pelo sentimento que o atormentava, a dúvida em seu coração e o silêncio de Viktor. O paralelo feito, em sua cabeça, era de que o fim da carreira do platinado teria fim por sua causa, e ao patinar se sentia Viktor, dançando com a projeção de técnico e se aposentando de vez de sua incrivel carreira.

Com um giro elegante, ele executou um Salchow, seu corpo se elevando do gelo em um movimento fluido. Os sentimentos de dúvida e tristeza pareciam se dissipar no ar, substituídos pela adrenalina da performance. Ele seguiu com um Toe Loop, o pé da frente impulsionando-o com precisão, e enquanto girava, seu olhar se perdeu nas sombras do castelo, como se estivesse buscando a presença de Viktor.

A música avançava, e Yuuri sabia que precisava fazer algo impactante. Ele se preparou para o Lutz, saltando em uma borda externa com uma intensidade renovada, como se estivesse desafiando a Morte a dançar com ele. A sinfonia crescente envolvia seus sentidos, cada nota ressoando com seu coração, uma representação perfeita da luta interna que ele enfrentava.

À medida que a música se aproximava de seu clímax, Yuuri canalizou toda a sua emoção, realizando um impressionante Axel no auge da canção. A plateia imaginária dentro de sua mente se segurava, e a intensidade de sua dança refletia a dor de uma conexão perdida.

Quando a última nota ecoou pelo ar, ele girou em um último movimento dramático, sua figura desenhando um arco perfeito no gelo. Ele parou em uma pose poderosa, um braço levantado como se estivesse convidando a Morte a dançar. O silêncio tomou conta do espaço enquanto ele se mantinha ali, congelado no tempo, a respiração ofegante, o coração pulsando.

Yuuri fechou os olhos, sentindo a música ainda vibrar em seus ouvidos, como um sussurro de que, apesar da dor, ele ainda estava ali, ainda dançando. E, mesmo que Viktor estivesse distante, a conexão que eles compartilhavam ainda o guiava. Ele finalmente se curvou, entregando sua alma ao gelo e à melodia, sabendo que estava, de alguma forma, um passo mais perto de entender seu próprio coração.

Ele não havia conversado com o russo desde o desentimento que tiveram, e isso o estava afligindo. Depois das premiações e jantares corporativos, se encontraram novamente naquela quarta-feira, onde Viktor apareceu com uma pequena mala de mão, e uma expressão estranha no hall do hotel. Yuuri seguiu para seu quarto, e continuou sua nova rotina normalmente. Seus pais o acolheram calorosamente, e sua irmã estava novamente o mimando com bajulações, até que na manhã daquele dia, recebeu um convite para lecionar dança na University of New York, por sua formação em dança e contribuições significativas para o universo artistico. Porém, pediu algum tempo para poder decidir, e ali estava para refletir melhor sobre a proposta.

Cansado, se sentou em um banco da arquibancada e jogou a cabeça para trás. O suor escorreu por sua testa, e seu peito subia e descia irregularmente. "Viktor..." Divagou em sua mente, sem um comentário a seguir. Começou a pensar em tudo o que já haviam passado juntos, e que agora ele admitiu para si mesmo que estava apaixonado por Nikforov, e lhe doía o coração matar a carreira de Viktor, como orquestrou mais cedo. Não sabia se teria uma forma de sustentar ambas as coisas, mas ele deveria no mínimo tentar, pois desejava mais que beija-lo apenas competir com ele.

— Você é realmente um artista, Yuuri. - Viktor surge, inclinando-se atrás de Yuuri para encarar de perto, com a voz baixa e serena. Sua expressão era afeto e tristeza, se entrelaçando. - Não me admira que recebeu um convite tão especial.

— Eu não o vi chegar. Desde quando está aqui? - Yuuri devolve, mas sem esboçar emoção.

— Desde quando começou a patinar.

- = -

Sua mão quente acariciou os meus cabelos, e senti o calor esvaecer do meu corpo. Levantei a cabeça e o olhei, de canto de olho. Usava uma camisa henley azul marinho, e tinha um casaco de couro repousado em seu antebraço livre. O cabelo estava levemente molhado, e seu olar era fixo no meu. Após ser pego olhando, olhei para frente e suspirei.

— Eu acho que nós precisamos conversar, Viktor. -Me virei para ele, e disse com toda a determinação que tenho. - Sobre a sua carreira, sobre a minha e... sobre nós.

Um rubor subiu para minhas bochechas, mas não desviei o meu olhar. O mais velho apenas assentiu, sorrindo de canto e veio ao meu encontro. Quando percebo, ele me abraça fortemente e dá uma risada leve, e sinto meu corpo então relaxar como se tivesse anestesiado.

— Senti a sua falta, Katsudon. - Sibilou contra o meu pescoço, o hálito acariciando a minha pele que estava fria agora.

— Foco, Viktor. - O lembrei, articulando seu nome com o sotaque bem forte, enfatizando que já não estavamos mais de "birra" um do outro.

Saímos do Castelo de Gelo, trancamos as portas e apagamos as luzes, e seguimos para o Ao no tenshi, um bar calmo que lembrava mais um restaurante, mais adequado à conversa que precisariamos ter. Andavamos em silêncio pelo meio fio, mas seu dedo mindinho estava enrolado ao meu, balançando ansiosamente. Ele assobiava a música que patinei mais cedo, e de vez em quando cantarolava olhando a rua molhada, resultado de uma forte chuva.

A brisa fria me fez arrepender de não ter trago um casaco, mas antes de começar a ser insuportavel, o platinado passou seu braço pelo meu ombro e trouxe para perto de si. O encarei, e ele já estava me esperando para dar um sorriso e uma piscadela. Não falatava muito para chegar até o local, mas ele iniciou:

— Quando estava na Rússia, percebi que havia perdido a minha rotina de antigamente. Não deitava mais na minha cama, ou visto meus amigos e familiares. Ou até mesmo correr com meu cachorro na rua como eu estava habituado, e senti muito a falta disso desde que fazia tudo isso desde que me entendo por gente. Mas, percebi que ainda não me sentia em casa, ou no meu lar, porque estava faltando alguma coisa, algum pequeno detalhe. Quando me dei por conta, meus pés haviam me trazido até o hotel da sua família e te vi, e finalmente pensei "Estou em casa!" !
Então, Yuuri, você se tornou o meu lar. - me puxou para um tenro abraço, e apoiou a sua cabeça no topo da minha.

— Eu entendo o seu sentimento, mas eu também entendo que sempre o admirei como patinador. Você sempre foi o farol na minha carreira, o compasso do que eu gostaria de ser como profissional. E ser o meu técnico estava acabando com tudo isso, com o atleta incrivel que é, então eu gostaria de te pedir por favor, que volte a competir e ouse ganhar de mim, Viktor. Tente ganhar de mim, e falhe lindamente, para eu te consolar depois. Eu vou te superar, Nikforov, e então vamos nos casar no dia seguinte, e estarei usando a minha medalha de ouro no meu traje de casamento. Sermos rivais na competição não vai nos impedir de sermos um do outro na vida pessoal. - Não acreditei nas palavras que saíram da minha boca, mas senti a adrenalina percorrer todos os meus orgãos naquele instante. Sai do abraço e o encarei, esperando sua reação.

Ele estava em choque, boquiaberto e de olhos arregalados. Mas antes de me ajoelhar e pedir perdão pela maior burrice que ouviu, mas ouvi uma gargalhada um par de maos que envolveram a minha cintura, me puxando para um beijo caloroso e cheio de paixão. Entre meio a pequenas mordidas nos lábios, ouvi contra os meus lábios:

— Eu aceito, Yuuri Katsuki.



Yuri is dansing macabreOnde histórias criam vida. Descubra agora