A maldição gostosa de se sentir.

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Me encontro nesse momento correndo pelo corredor de terra que havia entre as plantações de arroz. Eu moro no interior, então não é incomum de ver essas grandes plantações. Minha respiração se encontrava ofegante, e tudo isso por conta de algo que eu não consigo superar, deixar ir embora.

Eu iria me encontrar com ele novamente, mesmo após do nosso termino, ignorando quaisquer conselhos de supostos amigos próximos que eu tenha. Não importava quantas vezes ele me usasse para prazer próprio, quantas vezes terminássemos na cama após mais uma de nossas brigas idiotas, sempre estava eu, correndo como um tolo até alcançar os braços dele, correndo quilômetros da minha casa até a dele. Não estava fazendo mais do que o meu papel, como um ser patético que sou. Um ser que não consegue deixar o passado para trás, que gosta de sentir a mão daquele que deveria ficar no passado agarrando seus quadris.

Não consigo superá-lo, isso deveria estar óbvio para mim.
E mesmo assim, continuo a me negar, dizendo para mim e para todos que um dia eu iria simplesmente esquecê-lo e seguir com a minha vida.

Mas toda vez é como se fosse uma força maior me trazendo até ele toda vez que ele me manda um "23:30. Te espero aqui."
por mensagem.

Maldita força maior.

Eu estava próximo de sua casa, já conseguia ver aquele portão enferrujado que daria facilmente para ultrapassar. Mal conseguia respirar, meu corpo estava pesado, como se pesasse toneladas. As solas dos meus pés doíam como se eu estivesse pisando em fogo por todo esse tempo. Pulei aquele portão, abri a porta destrancada, e o vi apoiado contra a parede, encarando o chão enquanto fumava um cigarro, aparentemente esperando a minha chegada. Sua casa estava um lixão, não diferente do normal. Roupas espalhadas pela sala de estar, latas de cerveja coladinhas com as cinzas de cigarro que estavam descansando no cinzeiro.

"Eu... Cheguei." - Com uma voz ofegante, eu falei. Sentindo agora o olhar de seus olhos castanhos em meu rosto, finalmente me encarando. Senti algo me puxando, mas ele não estava me tocando, por enquanto. Meus pés caminhavam sozinhos em direção a ele, levando meu corpo como brinde.

Quando cheguei perto o suficiente, ele apagou o cigarro em meu ombro que estava descoberto devido ao meu moletom mal colocado. É uma ardência considerável, mas nada com que tirasse meus olhos dele. Senti suas mãos em meus quadris assim que ele jogou aquela bituca de cigarro no chão. Ele aproximou seu rosto do meu, deixando seu corpo contra o meu, eu conseguia sentir sua respiração se juntando com a minha, e então, ele me beijou.
Não mantemos esse beijo por muito tempo, já que além de eu não ter folego para tal, ele ainda precisava eliminar a fumaça do cigarro de seus pulmões. E então, ignorando totalmente minha falta de ar, ele soltou aquela nuvem de nicotina em meu rosto. Desgraçado.

"Como sempre, querido." Ele respondeu assim que aquela fumaça deixou seus pulmões.

Ainda poderíamos nos chamar assim? Não havíamos mais nada, nada com que nos desse direito de nos chamar com apelidos carinhosos como esse.
Talvez ele só estivesse fazendo isso para mexer com meu coração que um dia já foi de pedra, hoje já amolecido e derretido com todo o calor e conforto que antes eu sentia com esse homem.

"Não me chame assim." - Respondi logo em seguida. Ele não respondeu verbalmente, apenas abrindo um leve sorriso, destacando o brilho discreto do pequeno piercing em formato de argola em seu lábio inferior. "... Não temos mais nada, então não me chame com esses apelidos carinhosos."

"Você gostava deles antes." - Ele sempre adorou me provocar.

"Isso mesmo, antes." - Dei uma pausa, para respirar um pouco. "Por que me chamou aqui?"

My (ex)RockStar. - Shin Soukoku.Onde histórias criam vida. Descubra agora