Não existe.

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São paulo
junho, 2023

Rafaella seguiu em direção à entrada do aeroporto, envolta em um turbilhão de emoções, sem dar atenção ao barulho ou às pessoas ao redor, como se toda aquela confusão nublasse seus sentidos. Ela parou de andar quando Estela, agora com os cabelos na altura dos ombros, mechas loiras, e óculos escuros cobrindo os olhos, a puxou pelo braço, tirando-a do transe com um susto. Rafaella a encarou com os olhos arregalados e uma expressão confusa por alguns segundos, absorvendo toda aquela mudança.

E: Não ouviu eu te chamando? - ela pergunta e a mineira nega com a cabeça. - Está perdida, querida?

R: Porque mudou o cabelo?

E: Porque eu quis - ela responde rindo fraco no final da frase, para não soar grossa, enquanto passava as mãos pelo cabelo - É bom mudar um pouquinho, não é?!

Rafaella assentiu com a cabeça em silêncio, fazendo Estela franzir as sobrancelhas, tombando a cabeça minimamente para o lado, estudando a garota.

E: O que foi? Prefere as morenas? - ela pergunta entre risos e se aproxima da garota, abraçando o pescoço dela - Não gostou? O que você tem com mudanças?

R: Só estranhei essa rapidez - ela diz mantendo os braços ao lado do corpo - Você já sabe para onde vai?

E: Não, você pode decidir por mim, ou por nós. - ela sorri fraco - Você falou com o seu tio?

R: Não. Ele me ligou, mas eu ignorei.

E: Você... - ela começa, mas para ao analisar o rosto da garota por alguns segundos - Você está me olhando diferente, querida.

R: Eu só estou meio confusa, nunca imaginei...que você e o meu tio brigariam assim.

E: Ninguém é cem por cento herói, Rafinha... - ela suspira - Você vai vir comigo, né? Esquece a escola, os amigos, todos...Viva só comigo! Só nós duas, com um mundo só nosso.

Rafaella desviou o olhar para o outro lado do estacionamento e suspirou, ela ficou em silêncio por alguns minutos e então voltou a encarar Estela.

R: Você me ama? O suficiente para isso? Para me levar com você?

Estela assentiu com a cabeça, mantendo uma expressão doce enquanto acariciava o rosto da mineira. Ela desviou o olhar para as mãos de Rafaella, que permaneciam imóveis, sem retribuir o carinho. Após alguns segundos, seus olhos voltaram para o rosto da garota. Estela soltou uma risada amarga e se afastou.

E: Você já sabe, não sabe? - ela pergunta, em outro tom, mais frio.

R: Sei o que, Fernanda?

Estela suspira e então endurece a expressão, ela olha ao redor e volta a encarar a mais nova.

E: Eu não sei qual versão o seu tio perfeito inventou...

R: Não! Nem tenta! - ela interrompe.

E: Você trouxe a polícia?

R: Não.

E: Olha, eu não te odeio, Rafaella! Eu só... - ela gesticulou, procurando palavras, mas logo desistiu - Não...Eu te odeio sim. Você é a adolescente mais insuportável, carente e nojenta que eu já conheci. Eu não precisei fazer nada, e você já estava de quatro pela esposa do seu tio que você dizia tanto amar! - ela ri em descrença - Sem se importar com nada além de você e os SEUS sentimentos, sem se importar com o quão nojento era. Você não se importava com os seus amigos, com a própria família-

R: Você não queria que eu falasse com eles! Você sabe que me manipulou para conseguir isso! - ela interrompeu.

E: E você aceitou sem protestar, não aceitou, anjinho inocente? Como se eles não fossem nada! E mesmo quando eu falei para você voltar a dar atenção a eles, porque o seu grude já estava me sufocando, você continuou tratando eles como se fossem desconhecido!

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