A torção e seus efeitos

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Eles fizeram todo o caminho de volta, quase para o começo do parque, em silêncio. Depois de alugar as bicicletas, seguiram pela trilha dos ciclistas. O vento balançava seus cabelos e por um instante, Emily esqueceu seus problemas. Deram a volta em boa parte do parque, rodeando a Lagoa das Garças e alguns monumentos históricos. Em algum momento, ficaram lado a lado e Eric sugeriu que apostassem uma corrida. Antes mesmo que a menina respondesse, ele disparou na sua frente, assumindo toda velocidade na bicicleta. Emily deu risada e fingiu indignação. Tentou alcançá-lo e quase conseguiu. Chegou a ficar a poucos centímetros de distância até chegarem no ponto de partida da pista e o garoto vencer a corrida. 

Depois de devolverem as bicicletas, ele ficou se gabando por ter ganhado e brincou, dizendo que ela deveria lhe dar um prêmio. 

Enquanto caminharam na direção da saída do parque, eles conversavam animadamente sobre as comidas que mais amavam, cores favoritas e bebidas. Emily se surpreendeu pelo fato de ele não conseguir escolher sequer uma cor que mais gostasse. Eric argumentou que ficava dividido entre o azul cobalto e o celeste ou alegou que precisava haver um meio termo entre amarelo e laranja. No fim, disse que adorava as cores do cor-do-sol porque eram misturadas e ele podia vislumbrar todas em ação. Enquanto isso, Emily respondeu que amava verde, mas não saberia diferenciar tons e subtons. Estava um clima agradável entre os dois, até a garota resolver descer da calçada e torcer o pé. 

— Cuidado — disse Eric, segurando-a para que não caísse. 

Emily sentiu uma dor insuportável ao tentar colocar o pé no chão e gemeu, colocando o braço em torno do pescoço dele. 

— Acho que pisei numa pedra — comentou ela. 

— Você consegue andar com os dois pés?

— Dói muito. 

— Beleza, estamos quase na saída. Se apoia em mim. 

Quando eles deixaram o parque, Eric a conduziu para o ponto de ônibus mais próximo e pegou o celular.

 — Vou chamar um Uber pra levar a gente embora. Nesse horário, os ônibus demoram pra passar e a gente teria que ficar em pé. Sem condições. Ou melhor, vou te levar pro hospital. Deixa eu só ver onde tem um pronto-socorro mais próximo daqui e…

Ela tocou seu braço.

— Não. Me leva pra casa da tia Monique.

— Mas você torceu o tornozelo, Emily. Isso pode inchar, infeccionar…

— Odeio hospitais. É sério, me leva pra casa da minha tia.

— Como você vai ser nutricionista se odeia hospitais?

— Odeio estar lá como paciente, não pra trabalhar. Agora, por favor. Me leva pra casa. Se a situação não melhorar, eu vou no médico. Prometo. 

Ele suspirou e acabou concordando. 

O uber demorou uns dez minutos para chegar e Eric a ajudou a entrar no carro. Chegaram na casa de Monique meia hora depois. O garoto destrancou o portão e ajudou a menina a entrar. Depois, acomodou-a no sofá na sala, com as pernas sobre o assento. Então, sentou-se ao seu lado, próximo à sua cintura. 

— Tem certeza que não é melhor ir no hospital? — ele perguntou. 

— Não, vou ficar bem — disse ela, sentindo o coração acelerar por causa da proximidade entre eles e pelo fato de estarem sozinhos naquela casa. 

— Quer uma massagem? 

— Não — Emily se apressou a dizer, com um ar de desespero na voz.  

Ele ergueu as sobrancelhas. 

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