Depois de Eric arrastar Victória para o quintal dos fundos devido ao seu surto psicótico, a menina ficou se debatendo sem parar. Sequer reconhecia quem a segurava. Gritava tanto que sentia a garganta arranhar e o garoto estreitava os olhos, temendo que o som extremamente agudo estourasse seus tímpanos. A mão de Victória ardia pelo tapa que deu em Emily.
Tentou se soltar dos braços de Eric, mas não conseguiu. Seus pés deslizavam no chão e ela quase os derrubou. Então, agitou os braços no ar e tentou morder o braço do garoto, em vão. Tudo o que conseguiu foi babar em sua camiseta azul e deixar uma marca.
— Você precisa se acalmar! — disse ele.
— Me larga! — dizia ela, sabendo que estava desabando. As lágrimas embaçaram sua visão, mas quase entrou em pânico quando olhou para o punho da pessoa e viu o bracelete com pingente de âncora. Tornou a se debater, agora em desespero por outras razões. — Me larga, imbecil!
— Pra quê? Pra você entrar lá e matar a Emily?
Sem sucesso, ela parou de lutar e sentiu as lágrimas invadirem seus olhos. O corpo desfalecia e ela teria caído se Eric não a estivesse amparando. Então, ele ergueu uma das mãos e a levou para seus cabelos bagunçados e tão confusos quanto ela.
— Shh, tá tudo bem. Tá tudo bem — dizia o garoto.
As palavras doces só a fizeram chorar mais e enterrar o rosto em seu peito, como uma criança assustada.
— Eu matei meu pai — sussurrou, os lábios tremendo. — Hoje faz dois anos, a Emily… não tinha o direito de debochar de mim assim.
A mão dele permanecia em sua cabeça, os dedos adentrando seus cabelos e fazendo movimentos de ir e vir, como a massagem feita na hora de passar shampoo no cabelo.
— Seu pai sofreu um acidente, Victória. A Emily não sabia que você ficaria tão mal.
A garota não entendia como ele tinha tanto controle sobre a voz. Apesar de seu surto e tentativas de agredi-lo, Eric permanecia passivo.
— Por que todo mundo sempre a defende? Não enxergam que ela é a verdadeira vilã da história? — A garota fungou e se aconchegou mais nos braços dele, numa atitude involuntária.
— Você tá enganada.
Ela deixou uma risada amarga escapar, entre lágrimas.
— Meu pai morreu por minha causa, Eric.
Ele segurou seu rosto com ambas as mãos e a forçou a encará-lo.
— Por que não entende que não é culpa sua?
— Por que você tá aqui comigo?
Então, Eric a soltou, afastando-se depressa.
— Alguém precisava te parar. Sua mãe não conseguiu e mais ninguém pareceu disposto a fazer nada — disse, uma das mãos na cintura. — Essa casa tá quieta demais, é melhor voltarmos pra sala. Mas se você tentar contra Emily de novo, eu te arrasto pra cá.
O jeito irritado com que ele a ameaçava não lhe provocava outra reação que não fosse o riso. Eric abriu a porta da cozinha e a atravessou com passos largos. Victória praticamente correu para alcançá-lo. Quando pararam na sala, deram de cara com a decoração da festa arruinada e nenhuma alma humana por perto.
Victória fez uma careta.
— Mãe?
Correu para a escada, atravessou o corredor e abriu todas as portas. Não encontrou Monique em lugar algum. Quando desceu as escadas novamente, viu Eric sentado num dos sofás.
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A Vilã
Fiksi RemajaVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...