O olhar é a forma mais óbvia de se demonstrar o amor, ele vem antes do toque, do beijo ou de qualquer demonstração de brandura física e traz consigo um redemoinho de sensações jamais sentidas.
O olhar é uma linha oculta, que tem o poder de conectar...
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O fogo da minha lareira queima a lenha que eu havia colocado mais cedo. O ambiente da sala de estar ficava aquecido aos poucos. As noites lá fora eram cada vez mais frias com a chegada do inverno.
Jogada sobre a minha poltrona de couro antigo meus pensamentos voavam enquanto eu olhava fixamente para a chama.
Eu não sabia que horas eram, mais sabia que o dia estava amanhecendo e mesmo assim, não conseguia pregar os olhos. Nada muito diferente do habitual.
Quando eu fechava os olhos me recordava daquele dia. O dia que mudou a minha vida completamente e que fez os próximos ficarem mais entediantes e a solidão cada vez mais vasta.
Ainda me recordo do grito de desespero das mulheres ao serem separadas de seus filhos, muitas eram inocentes mais sequer tinha o poder da palavra.
E de acordo com o que as madeiras na lareira a minha frente iam queimando e virando cinzas sobre o meu olhar, mais um vez eu lembrei.
Lembrei da noite que mudou minha vida.
Fevereiro, 1693. Salem, Condado de Essex.
Eu estava deitada na minha cama, não conseguia dormir. Eu sentia que algo iria acontecer. Meus batimentos estavam acelerados e a ansiedade me consumia aos poucos.
Na cama ao lado, Sarah, minha irmã dormia tranquilamente, alheia ao que se passava em minha cabeça.
Sempre tive uma relação boa com a minha irmã, eu admirava a garota e a usava como uma inspiração.
Foi ela quem me ensinou a fazer os feitiços que sei hoje e me mostrou como aperfeiçoar eles. Além de me ensinou a como controlar os quatro elementos: água, fogo, terra e ar.
Porém, diferente de mim, mamãe e Sarah não tinham uma boa relação, e mesmo que eu não falasse elas sabiam que aquilo acabava comigo.
As duas sempre estavam brigando, pois Sarah era muito rebelde, mesmo para a idade que possuía, 168 anos.
Sarah fazia parte de um grupo com algumas outras bruxas, e a falta de cuidado que elas tinham estavam fazendo a cidade desconfiar de nossa raça, e isso nos colocava em perigo.
Dorothy, minha mãe odiava o simples fato de sua filha nunca ouvir suas advertências sobre como aquilo era perigoso. Então estavam constantemente brigando e aquela noite antes de irmos para cama elas haviam discutido.
Na nossa linhagem as bruxas paravam de envelhecer ao 20 anos. Mesmo com 100 anos nos continuamos com a mesma aparência dos 20.
