Capítulo 1 - O primeiro impacto

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Mariana suspirou, cansada, enquanto tentava concentrar-se nos estudos. Era sexta-feira, e a voz de Inês ecoava na sua cabeça com insistência.

— Precisas de te divertir, Mari! Hoje à noite, sem desculpas! — tinha dito a amiga com um sorriso determinado.

E aqui estava ela, a caminho da tal festa. O som da música aumentava a cada passo, enquanto Mariana tentava ignorar o nervosismo crescente. Assim que entrou, os rostos conhecidos e desconhecidos misturavam-se numa nuvem de luzes e risos.

— Mariana! Aqui! — gritou Inês, acenando da outra ponta do salão.

Mariana sorriu, aproximando-se e aceitando o abraço apertado da amiga. À volta delas, o grupo já parecia bem animado. Rui, Tiago, Sofia... todos os rostos familiares, a tentar aliviar a semana longa de aulas e trabalhos.

— Finalmente decidiste aparecer, ó tímida! — brincou Rui, com o seu típico sarcasmo, enquanto lhe oferecia uma bebida.

Ela riu-se, aceitando o copo, mas sentiu o coração a bater mais rápido ao olhar para o lado. Lá estava ele, com uma presença que parecia sugar o ar à sua volta.

Miguel.

Encostado a uma parede, com um ar descontraído e os olhos intensos, ele exalava uma energia que a deixava inquieta. Já o tinha visto algumas vezes no campus, sempre rodeado de um grupo de amigos, com a sua jaqueta de cabedal e o cabelo ligeiramente despenteado, a aparência de quem vive de forma intensa. Mariana sabia pouco sobre ele, mas o que sabia era suficiente para a deixar nervosa. Drogas, confusão, problemas — tudo o que ela tentava evitar.

Inês seguiu o olhar dela e soltou uma gargalhada.

— Já te tinha dito que esse bad boy é demasiado para ti, Mari. Ele não é o tipo certo, acredita!

Mariana riu-se, a tentar disfarçar o desconforto.

— Eu nem sequer estava a olhar! Além disso, ele deve estar demasiado ocupado com o grupo dele.

Mas, antes que pudesse evitar, Miguel afastou-se dos amigos e começou a caminhar na direção dela. Ele tinha os olhos fixos nela, e, por um momento, o coração de Mariana pareceu parar. Ele parou à sua frente, com um meio sorriso que mostrava um misto de arrogância e charme.

— És nova aqui? Nunca te tinha visto numa festa destas — comentou, a voz rouca, ligeiramente provocadora.

— Não costumo vir... — Mariana tentou manter a compostura, sentindo-se ridícula ao perceber que a voz lhe saía mais baixa do que esperava.

Ele riu-se, um som suave, mas carregado de algo que ela não conseguia decifrar.

— Isso explica muito. Mas diz-me, achas estas festas muito aborrecidas? Estás com um ar entediado.

Mariana ergueu uma sobrancelha, surpresa com a confiança dele.

— Na verdade, estou bem. Não preciso de muito para me entreter... diferente de algumas pessoas — respondeu, com uma ponta de sarcasmo.

Miguel sorriu, claramente a gostar do desafio.

— Ai é? Então diz-me, o que é que te entretém? — perguntou, inclinando-se um pouco mais perto.

Mariana hesitou, sentindo-se desconfortável com a proximidade, mas também intrigada.

— Talvez... ler um bom livro? — respondeu, a tentar esconder o nervosismo.

— Uau! Essa foi nova — brincou ele, rindo-se. — Sabes, se um livro é emocionante para ti, aposto que nunca estiveste numa corrida de verdade.

Mariana cruzou os braços, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

— E tu? Já leste algum livro que te tenha emocionado? Ou és apenas um viciado em adrenalina?

Miguel riu-se, apreciando o sarcasmo dela.

— Os livros não me dão a mesma adrenalina que uma moto a 200 km/h. Mas... quem sabe, talvez um dia me surpreendas e me apresentes algo que valha a pena ler.

Inês observava a interação, divertida.

— Isto está a tornar-se interessante — sussurrou ela a Rui, que revirou os olhos.

— Esse tipo é uma má influência. Deveríamos fazer uma aposta sobre quantas voltas Mariana vai dar para se afastar dele.

Miguel reparou nos amigos de Mariana a observá-lo e riu-se. Ele parecia adorar o efeito que causava.

— Sabes que os teus amigos acham que sou uma má influência? — murmurou ele, olhando diretamente para ela.

Mariana tentou não desviar o olhar.

— Talvez eles tenham razão... — respondeu ela, provocando.

— Ou talvez sejam apenas rápidos demais a julgar — replicou Miguel, com um brilho no olhar.

Um silêncio confortável instalou-se entre eles, até que Miguel, com um gesto súbito, tirou a chave da moto do bolso.

— Sabes, Mari, uma verdadeira dose de adrenalina poderia mudar a tua noite. Que dizes a um passeio?

Mariana hesitou, a olhar para a chave e depois para ele. A sua mente gritava-lhe para recusar, mas algo dentro dela a puxava para aquele convite proibido.

— Eu não sei... — começou, a voz quase a tremer.

Ele sorriu, provocador.

— Anda lá. Prometo que vais voltar a sentir-te viva.

Inês interrompeu, claramente preocupada.

— Mariana, olha lá, não é uma boa ideia. É a tua primeira festa! Não precisas de um passeio de moto para te divertires.

Mariana respirou fundo. Sentia a adrenalina a correr nas veias, o coração a acelerar com a ideia de quebrar as suas próprias regras.

— Só um passeio... não custa nada — murmurou ela, antes de aceitar a chave que Miguel lhe estendia.

Enquanto caminhavam juntos até à saída, Mariana sentiu os olhares dos amigos atrás de si. A dúvida misturada com excitação era quase paralisante, mas a sensação de estar a fazer algo fora da sua zona de conforto dava-lhe uma espécie de liberdade que nunca tinha experimentado.

Ao sentar-se na moto, Miguel deu-lhe um capacete e, com um sorriso travesso, puxou o acelerador. Assim que a moto arrancou, o vento bateu-lhe no rosto, e a cidade pareceu tornar-se uma mancha de luzes e ruídos. Mariana apertou-se contra Miguel, sentindo uma mistura de medo e excitação que nunca tinha sentido antes.

Naquela noite, pela primeira vez em muito tempo, Mariana sentiu-se livre. Mas, enquanto a moto cortava as ruas, uma pequena voz na sua cabeça lembrava-a que liberdade podia custar caro — e que, talvez, estar ao lado de Miguel fosse arriscar-se a perder mais do que estava preparada para dar.

Entre o caos e a esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora