todos no mundo precisam de um pouco de ajuda

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O som do teclado barulhento de Seungmin preenchia o quarto enquanto Jeongin tentava espantar de sua mente pensamentos como: "Quanto tempo cabe em uma vida?" ou "Quanta vida cabe no tempo?". A visão de seu melhor amigo estudando sobre elementos que ele mal conhecia e conceitos que lhe pareciam pouco úteis o deixava inquieto. O interesse do garoto pelo tempo e espaço já perdurava há meses; o celeiro abandonado ao lado de sua casa se tornara um laboratório cheio de utensílios devidamente roubados do colégio — não que alguém perceberia tão cedo.

— Seungmin — O pai do garoto apareceu na porta, sendo incentivado a entrar por um sinal de mão. O homem, que já começava a tentar esconder os fios brancos que nasciam em sua cabeça com tintura de cabelo, se aproximou de Jeongin com um olhar complacente e o canto de sua boca se repuxou — Você não deveria estar mais preocupado com... — olhou para o livro de física que Jeongin tentava entender — Movimento uniformemente circular? — leu devagar.

— Pai — olhou rapidamente para os dois, logo voltando a atenção para a atividade anterior — Você sabe que eu já passei na faculdade, não sabe? Já disse que não vou fazer essa prova.

Aos doze anos, Seungmin visitara mais clínicas e consultórios do que poderia contar se prestasse atenção a esse detalhe. Seus pais buscavam em médicos e psicólogos a resposta para suas questões internalizadas — algo sobre o jeito que falava e as coisas que entendia mesmo tão novo —, mas Seungmin apenas retribuía os olhares intrigantes, absorvendo a surpresa e admiração. Ouvia ser chamado de 'pequeno gênio' quando tudo o que fazia era ser ele mesmo; sem entender o que tanto havia nele que causava o fascínio daqueles à sua volta. Agora, com dezoito anos, um diploma do ensino médio próximo, e uma faculdade que dizia apenas estar esperando-o se formar para tê-lo com eles, Seungmin conseguia encontrar no fundo de seu coração um pouco de coragem para se gabar. Com o melhor programa científico do país, o GIST — Instituto de Ciência e Tecnologia Gwangju — era extremamente exclusivo. E mesmo assim, Seungmin era bom o suficiente para entrar e ser querido por ali.

Seojun suspirou pesado, reconhecendo mais uma tentativa falha de tentar fazer o filho desistir daquela ideia mirabolante que ele insistia em chamar de teoria. Fazia meses que observava o filho andar de um lado para o outro e conversar sozinho enquanto escrevia em seu pequeno caderno preto fórmulas e mais fórmulas; havia desistido de tentar entendê-las. Jeongin olhou para cima, encontrando um olhar que se dividia em preocupação e a derrota amarga da teimosia vital de um filho quase independente. O observou se aproximar de Seungmin, colocando uma mão em seu ombro.

— Pelo menos ajude Jeongin — disse com um sorriso, apertando a região que se apoiava. — Nós, meros mortais, ainda precisamos passar em provas para conseguirmos essas coisas.

Seungmin abriu um sorriso, seu corpo virou na direção do amigo com um olhar divertido.

— Acredite, eu tentei! — viu Jeongin revirar os olhos. — Há momentos em que temos que levantar a bandeira branca e admitir que não há nada que se possa fazer — olhou novamente para o pai — Não há salvação para ele.

A risada do sr. Kim ecoou pelo cômodo, e ele balançou a cabeça enquanto andava até a porta. Antes de sair, olhou para Jeongin mais uma vez e deu de ombros, levantando a própria bandeira branca naquela batalha. Sozinhos novamente, Jeongin voltou sua atenção aos exercícios que tentava resolver, buscando nas anotações de Seungmin as instruções que precisava.

— Seu pai tem razão em se preocupar com você, sabe — soltou, sem desviar a atenção do que fazia.

— Nunca neguei a razão de uma preocupação paterna — viu seus ombros levantarem e abaixarem devagar. — Isso não significa que eu vá desistir do que acredito.

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