Sinner | Hazbin Hotel

𝐨𝐧𝐞; a voz da cidade.

Nova Orleans, sempre encantadora, sempre cheia de vida.

Quando as luzes da cidade brilham, é como se o mundo estivesse ao meu alcance.

Ah, como eu amo esse início de manhã. O frescor no ar, o som suave do rio se arrastando preguiçosamente pelas margens... Algo tão sereno, tão deliciosamente pacífico. A cidade ainda desperta, os sons abafados se misturando ao aroma de café fresco e pão recém-assado que chegam até aqui, mesmo com as janelas fechadas. É nesses momentos de quietude que sinto a paz - essa paz frágil que, de fato, só consigo apreciar porque sei o que se esconde nas sombras.

Ah! Ora, onde estão os meus modos? Meu nome é Alastor. E que prazer é conhecê-lo! Sim, um prazer e tanto. Acredito que a vida precisa de uma pitada de alegria e de um toque de leveza. Meu trabalho é exatamente esse, vê? É isso que me esforço para trazer a cada um de vocês, a cada manhã. O rádio tem essa magia, sabe? Uma conexão invisível, íntima, onde todos, em suas casas ou em suas vidas cinzas, compartilham um pequeno instante comigo. É minha maneira de... Como posso dizer? Levar uma faísca para o mundo.

Hoje, como todas as manhãs, estava sentado em meu estúdio de rádio, preparando a próxima transmissão. Esse pequeno refúgio, esse templo de som e silêncio, é minha verdadeira casa. Cada disco, cada botão, o microfone ajustado à minha altura exata. A rotina é minha melhor amiga, como um bom tango. Sempre a mesma coreografia, mas com nuances que a cada dia se tornam mais refinadas. Meus dedos deslizaram sobre o microfone, conferindo a posição, e depois sobre a vitrola, ajustando a música que passaria. O trabalho cuidadoso, meticuloso, onde cada detalhe tem sua função e seu lugar.

Então, como uma nota fora da harmonia perfeita, a porta do estúdio se abriu, interrompendo minha serenidade.

- Ah, Alastor! - A voz energética e jovial de Charlie ecoou pelo estúdio. Ela entrou apressada, um furacão de energia que contrastava com meu pequeno paraíso silencioso. Fechou a porta rapidamente e avançou com um sorriso tão caloroso que seria capaz de desarmar qualquer um. Era o tipo de sorriso que transmitia uma confiança natural, típica de alguém que sabe que o mundo conspirou desde o princípio para favorecê-la.

Ah, Charlie... Tão adorável em seu entusiasmo juvenil, tão idealista. Para ela, o mundo é uma história esperando para ser contada, uma grande jornada repleta de aventuras e verdades a serem descobertas. Ela é um furacão de energia em busca de sentido, com aquela fome de quem quer entender o que existe sob a superfície da vida. O que ela nunca percebe é que a vida, muitas vezes, não tem superfície, e sim camadas infinitas que escondem coisas além de sua imaginação.

E é isso que me fascina nela. Porque, mesmo carregando o peso de uma família importante e influente, ela ainda busca o brilho, ainda acredita que a verdade, uma vez revelada, será linda. Uma visão tão ingênua, mas ao mesmo tempo, tão cativante.

- Charlie, minha querida! - respondi com um sorriso calculado, suave o suficiente para sugerir meu prazer em vê-la, mas controlado o bastante para não quebrar a aura de serenidade que eu construíra para meu dia. - É sempre um prazer inestimável receber sua visita!

Ela se aproximou mais, e notei que seus olhos traziam um brilho inquieto, algo que contrastava com o seu sorriso usual. Ah, então havia algo a mais, uma dúvida, talvez até um pouco de receio escondido ali, atrás da energia que ela insistia em manter.

Mas eu já sabia o motivo de sua visita antes mesmo que ela falasse. Charlie era um livro aberto para mim, especialmente em sua ansiedade juvenil, carregada daquele brilho inconfundível de quem vive em busca de segredos ocultos e verdades inatingíveis. Não importava o quão experiente ela fosse ou quanto seu nome carregasse peso. Para ela, vir aqui era mais do que uma visita casual. Era como adentrar um território misterioso, cheio de pequenas doses de sabedoria e perigos que, talvez, ela nem soubesse estarem ali.