— Ah, quase esqueci de falar. Quando beijar Eric, faz uma contagem mental de cinco segundos e depois pode se afastar — disse Brenda, assim que elas entraram no ônibus.
— É muito tempo. Acha mesmo que seu irmão não vai se afastar antes?
— Não sei, talvez ele fique tão chocado com a situação que não reaja de imediato. Ah, e você não pode hesitar. Precisa se jogar pra cima dele. Se hesitar, Eric vai perceber o que você vai fazer e pode tentar impedir. Então, você precisa ser bem rápida.
Victória assentiu, vendo a rua pela janela.
— E se o plano não funcionar?
— Mas vai funcionar, Vic. Confia em mim, sei o que tô fazendo. Não é nada que já não tenha feito.
Ela encarou a menina.
— Como assim?
— Ah, já fiz um negócio desses pra uma amiga, na antiga escola que eu estudava. Deu muito certo. Não sei qual o problema das garotas que não confiam em seus namorados e acham que qualquer foto de beijo com outra menina é culpa deles.
— Mas Emily não tá namorando com Eric.
— Ainda. Te falei que ele vai pedi-la em namoro.
— Por acaso, eles já estiveram no Jardim Botânico juntos? Porque aquele parque é muito grande.
— Ah, esses dias meu irmão levou Emily pra conhecer o lugar. Parece que sua prima é obcecada com natureza, né?
— Nem me fale. Acho um milagre ela não querer comprar umas plantas pra redecorar minha casa.
Brenda deu risada e ambas ficaram em silêncio durante todo o trajeto para o Jardim Botânico.
Quando chegaram lá, o coração de Victória começou a ter crises e errar todas as batidas possíveis.
— Em que lugar exatamente Eric combinou de se encontrar com Emily? — perguntou, tentando se distrair, enquanto elas atravessaram a alameda Fernando Costa. O vento chacoalhava os galhos das árvores e um longo caminho se estendia na frente delas.
— No Brejo Natural.
Victória fez uma careta.
— Ou seja, lá nos quintos dos infernos, né? Teu irmão quis isolar minha prima pra quê? Tudo isso pra dar uns pegas nela?
Brenda caiu na gargalhada.
— Sei lá o que tem na cabeça dele. Mas é um lugar bom pra piquenique.
Victória balançou a cabeça, ainda reprovando a escolha de lugar deles. Levaram alguns minutos até terminarem a alameda e se aproximarem do Museu do Jardim Botânico. Quando chegaram no Jardim Lineu, Victória quis parar por alguns minutos para descansar em um banco, próximo a uma fonte de água. Enquanto isso, Brenda erguia o celular e ficava tirando umas fotos dos arbustos coloridos com flores de várias espécies. Depois, seguiram caminho rodeando as estufas Cerrado e e Mata Atlântica. Apressaram os passos ao se aproximarem do Lago das Ninféias cheio de vitórias régias, e avistaram o Brejo Natural à certa distância. Viram algumas pessoas tão malucas quanto Eric e Emily com toalhas estendidas no chão e algumas comidas em cestas, próximas a algumas palmeiras.
Por fim, os olhos de Victória foram diretamente para onde o garoto estava, sentado numa toalha quadriculada vermelha e branca, próximo a uma palmeira, com um violão preto no colo, uma cesta grande ao lado e umas quatro almofadas coloridas jogadas nas pontas da toalha. O garoto estava com a cabeça baixa, mexendo nas cordas do instrumento. Parecia distraído.
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A Vilã
JugendliteraturVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...