Reações inesperadas

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Eric estava de cabeça baixa, escorado no tronco da palmeira, quando Emily chegou e se jogou sobre a toalha de piquenique. O rapaz ergueu a cabeça e a achou reluzente com aquele vestido verde aspargo que lhe cobria os pés e mangas longas. Tinha os olhos claros mais brilhantes, o rosto corado e o cabelo com um pouco de frizz

— Me desculpa! — disse ela, levando as mãos ao peito. — Sou meio enrolada pra sair de casa, mas não tanto assim. Eu juro! — Aproximou-se do rapaz, ainda sentada. — Perdi a cópia da chave que minha tia fez quando vim pra São Paulo. Procurei por toda parte e não encontrei. O portão estava trancado, porque minha prima saiu e trancou. Aí eu tive que pular o portão e quase rasguei um pedaço da barra do meu vestido. Sei que agora estou um caco, mas juro que estava mais bonita quando me arrumei. Pra variar, tentei te mandar mensagem pra avisar sobre o atraso e nenhuma foi enviada. — Ela enterrou o rosto nas mãos, revelando os anéis dourados delicados e as unhas pintadas da mesma cor do vestido. — Eu tô tão sem graça! — Olhou em volta. — Nossa, você trouxe tanta coisa e eu demorei tanto. Acabei esquecendo de trazer a torta de morango que fiz mais cedo. Deve estar morrendo de fome. Ai, meu Deus. Não sabia que tinha um violão também. Eu sou péssima, não sei por que você não foi embora. Se fosse comigo, eu nunca mais olharia na sua cara. Mas eu…

— Emily.

O som de sua voz cansada a fez olhar para seu rosto com cuidado pela primeira vez. Eric não parecia bem. Seus cabelos eram a mais pura performance do caos, os olhos opacos e um aparente desânimo.

— Você tá bem? 

— Mais ou menos — disse ele. 

— Eric, o que foi? 

— Preciso te contar umas coisas.

Emily sentiu o receio em sua voz e quase entrou em pânico. Ele estava fazendo aquela expressão que as pessoas fazem quando vão noticiar a morte de alguém. 

— Podemos conversar enquanto a gente come? — sugeriu, devagar. 

— Ah, tá bom.

Eric se afastou da árvore, abriu a cesta e começou a tirar os alimentos e bebidas de lá. Em pouco tempo, os espaços na toalha estavam preenchidos com uma garrafa térmica de chá verde, um pote com vários pedaços de bolo de agrião cortados, outro pote com morangos e uvas, algumas latas de refrigerante, alguns pães recheados com patê de frango e um bolo de cenoura com cobertura de chocolate crocante. 

A boca de Emily salivou.

— Parece que mais uma vez terei que cometer um crime com você. Nem pense que vou resistir a um bolo de cenoura desses. 

Eric deu um sorriso fraco.

— Foi minha mãe que fez tudo. O bolo de agrião foi só pra te agradar mesmo, porque não tem quem faça eu comer isso. Vi quando ela fez. Tá super saudável, ela colocou aveia e substituiu o óleo de soja por um de coco. Ah, e usou açúcar mascavo, se não me engano. 

— Desse jeito fico até sem graça porque não trouxe a torta. Fiquei tão atordoada por perder a chave. 

Eric abriu uma latinha e deu alguns goles no refrigerante. Depois, pegou um pedaço de pão com patê e deu uma mordida. 

— Tem certeza que perdeu? Não foi sua prima que escondeu? — perguntou, depois de engolir. 

Emily riu, incrédula. A prima não fazia nenhuma maldade com ela há semanas e parecia cada vez mais diferente por causa do restaurante. Monique até comentara com ela que a filha estava fazendo amigos no trabalho e cada vez mais comunicativa e menos reclamona. 

— Não sei. Ela tá mudando, Eric.

Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos. 

— Emily… por que não entende que algumas pessoas são más e que nunca vão mudar?

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