Entre lágrimas e sangue

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No quarto, Emily pegou uma mochila, jogou sobre a cama e colocou várias roupas lá. Quando desceu as escadas, não viu Victória em lugar nenhum, mas de repente, notou suas chaves no chaveiro. Pegou-as e saiu de casa, tentando não chorar mais. Sentiu-se uma tola por não ouvir os pais e Deus. Desejou rasgar a própria pele, esconder o rosto do Senhor, como se fosse possível. Assim que chegou na frente da casa de Mikaela, tocou campainha algumas vezes e ninguém apareceu. Então, sentou-se na calçada e esperou. Deduziu que a amiga e os pais dela estavam na igreja. E tudo o que ela mais queria agora era cercar-se de gente que entendesse sua religião. 

Logo, enterrou a cabeça nos braços e desatou a chorar. 

Eu aguentei tanta coisa…

— Emy?

Quando ouviu a voz de Mikaela, a garota se ergueu num pulo, limpou as lágrimas rapidamente e viu que ela estava sozinha. Menos mal. 

— Eu posso… passar uns dias na sua casa? As coisas ficaram piores com a Victória e eu só preciso ficar longe dela por um tempo, pra colocar a cabeça no lugar. — Fez uma careta de choro. — Eu não tô bem e não sabia pra onde ir. 

— Ai, meu Deus. Você tá péssima. Vem comigo. — Ela passou o braço ao redor dos ombros da garota e a conduziu para dentro da casa. — Ainda bem que meus pais foram pra um retiro de casais e só voltam daqui dois dias. Tenho um tempo livre e você pode desabafar o quanto quiser. Quer beber alguma coisa?

— Não. 

Mikaela pegou sua mochila e ambas atravessaram o longo corredor até seu quarto.

— Tá, depois arrumo um colchão pra você dormir. Mas me conta. O que a Victória fez? — disse a menina, sentando-se na cama. 

Emily desafabou com a amiga, contando tudo o que aconteceu desde cedo até a discussão com a prima. No fim, Mikaela fechou a mão em torno da boca, impedindo-se de xingar Eric de tudo quanto é nome.

— Ele não merece as suas lágrimas, Emy — comentou, em vez disso.

— Eu sei.

— Mano, que vontade de cobrir ele na porrada. O cara te perseguiu por quase três meses, fez de tudo pra te conquistar e agora comete um vacilo desses. Dá vontade de estrangular ele, sem brincadeira.

Emily suspirou.

— Seus pais vão achar ruim se eu quiser ficar por mais de dois dias aqui? 

— Vão nada. Eles adoram você, amiga. Pode ficar pelo tempo que precisar, viu? 

Ela apenas assentiu. Pegou o celular e se lembrou de mandar uma mensagem para Monique, avisando que ficaria um tempo na casa de Mikaela. A mulher ficou toda preocupada, querendo saber o que aconteceu, mas Emily se recusou a contar. Disse apenas que estava passando por alguns problemas e precisava pensar. Com isso, a tia não contestou e aceitou sua decisão. 

Na segunda-feira, Emily acordou com uma dor de cabeça intensa, mas decidiu ir para a escola mesmo assim. Tinha uma prova de matemática importante para fazer e não podia faltar. Tomou uma dipirona antes de sair da casa da amiga e ambas foram juntas para a escola. Chegando lá, Mikaela foi para sua sala e deixou Emily sozinha. Ela entrou na sala, sentou na mesa e ficou de cabeça baixa o tempo todo. Davi até questionou se ela estava bem, mas Emily não conseguia falar muita coisa. 

Na hora do intervalo, deu de cara com Eric assim que saiu da sala e tentou desviar dele, olhando para o chão.

— Oi — disse ele. Colocou-se em sua frente quando ela tentou passar. — Por favor, Emily, me dá outra chance. Vamos conversar. 

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