A escolha infeliz

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É óbvio que quando Mikaela e Davi ficaram sabendo da proposta não aceitaram muito bem. Enquanto a menina quase xingou Emily e disse que ela estava sendo ingênua, o garoto demonstrou mais preocupação do que raiva. Esta foi a primeira vez que Emily viu algum sentimento em seus olhos sempre opacos. Mas apesar de tudo, ele acabou aceitando sua decisão. 

Conforme os dias passaram, Eric apareceu na casa de Monique outras vezes. Acostumou-se a chegar do trabalho, ir até  lá e passar alguns minutos conversando com Emily na calçada. Contava-lhe tudo sobre seu dia e sobre a relação com a família. Emily, por sua vez, abriu mão das ressalvas iniciais e voltou a se abrir aos poucos para ele. Em pouco tempo, ambos já estavam rindo e fazendo piadas um com o outro, como no início. Também aprendiam coisas novas juntos e compartilhavam conhecimento. 

Na escola, porém, eles mal passavam tempo juntos. Eric sempre a esperava no portão e fazia questão de acompanhá-la até a sala, para depois ir para a dele. Na maioria dos intervalos, Emily ficava com Mikaela no pátio interno, enquanto Davi vivia se isolando no mezanino para fumar seus cigarros. Já Eric, estava o tempo todo na biblioteca. 

Durante as conversas entre Eric e Emily, ele lhe contava como estavam as interações com os pais dela. A princípio, eles mal respondiam suas mensagens. Jonas se mostrava sempre mais reservado e quieto do que Mônica. Mas Eric não desistiu. Vocês já devem ter ouvido aquele ditado “água mole e pedra dura, tanto bate até que fura”. Não sei bem se faz sentido, a menos que faça referência às águas do mar que de tanto se chocarem contra as rochas, transforma-as em areia. O fato é que foi exatamente assim com os pais de Emily.

Mônica se esqueceu da relutância inicial primeiro, devido à sua personalidade mais tagarela. Eric lhe contava muitas coisas sobre si e até fazia chamada de vídeo mostrando o que estava fazendo. Em certa ocasião, ligou para ela durante uma partida de xadrez que estava jogando com Tereza. Inclusive, foi assim que as duas mulheres se conheceram e se tornaram amigas. 

No caso de Jonas, Eric sofreu um pouco mais. Percebeu que o homem só conseguia falar bastante e se soltar quando o assunto era a bíblia. Uma vez, disse ao rapaz que a boca fala do que o coração está cheio e que corria mais o risco de pecar com a língua se arriscasse falar muito sobre outras coisas. Eric entendeu e passou a estudar a bíblia só para ter assunto com ele. Aos poucos, Jonas se apegou ao garoto.

Era início de junho quando Eric chegou na casa de Monique para conversar com Emily, como vinha fazendo todas as noites. A garota sequer escondeu a empolgação ao vê-lo. Fez de tudo para resistir ao impulso de se jogar em seus braços. 

— Oi — disse Eric, sorrindo. Especialmente naquela noite, estava ainda mais arrumado. Usava botas pretas, jeans da mesma cor e uma blusa social branca, com uns dois botões abertos. — Tenho uma surpresa. 

Emily sentiu o coração disparando. 

— O quê? 

Então, ele enfiou a mão no bolso e pegou o celular. Digitou algo rapidamente e esperou. Pouco depois, Emily ouviu a voz da própria mãe, rindo enquanto falava. 

— Olha com quem estou agora — disse o garoto, puxando Emily, fazendo-a aparecer na tela do celular.

Mônica olhou para a filha.

— Oi, meu amor. Como estão as coisas?

— Bem.

— E na escola?

— Bem, já entreguei boa parte dos trabalhos e tirei nota alta em todas as provas.

— E o grêmio? Você comentou comigo que precisava de um novo membro…

— Ah, eu coloquei um menino do segundo ano. Ele é bem inteligente. 

Eric sorriu.

— Viu como a nossa menina é inteligente, dona Mônica? 

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