Capítulo 03

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Após momentos intensos com Anahí, voltei para casa, mas antes de descer do carro, fiz questão de ajustar a aliança no dedo. Era quase como um lembrete para mim mesmo, um símbolo do controle que eu tinha sobre tudo e todos ao meu redor. Eu sabia exatamente o que as pessoas viam, o que queriam ver. E manter as aparências era, sem dúvida, a chave.

Ao abrir a porta, fui recebido pela cena que esperava: Valéria, com suas sacolas de grife espalhadas pelo sofá e uma revista de moda nas mãos, como se estivesse decidindo qual tendência mundial seria a mais importante para sua vida vazia. Quando me viu, ofereceu aquele sorriso previsível, como se a minha presença fosse a cereja do bolo em seu mundinho sem graça.

— Você chegou! — ela disse, sem sequer levantar os olhos da revista, como se fosse a maior dádiva que ela poderia oferecer. — Olha essas novas tendências! Estou pensando em renovar todo o guarda-roupa para o evento do mês que vem.

Observei Valéria por um momento, quase achando graça. Ela acreditava tanto na ilusão que criara ao seu redor. Para ela, uma peça de roupa nova ou a última joia da moda representavam alguma forma de sucesso. Eu sabia o que ela queria de mim, e era isso que ela tinha: a confirmação de que eu estava sempre lá, sempre atendendo às suas expectativas. Nada mais, nada menos.

— Claro, faça o que quiser — respondi com um sorriso suave, mas que escondia a indiferença. — Renove o guarda-roupa, compre o que quiser. Afinal, o que mais você faria, não é? Não precisa de mais nada, já tem tudo o que deseja.

Ela sorriu, convencida de que tinha o que queria de mim. E o pior? Eu deixava, sabia exatamente o que ela precisava ouvir, e dava isso a ela, sem qualquer intenção. Estava completamente no controle da situação, e eu gostava disso. Cada palavra que eu dizia, cada gesto, era feito para manter as coisas onde eu queria: ela, submissa à ideia que eu construí para ela.

Quando ela me mostrou a joia e pediu para que eu a comprasse, meu sorriso se alargou, mas, por dentro, eu me divertia. Ela achava que aquilo importava, achava que eu me importava com isso. Como se fosse algo que eu não tivesse em excesso, como se fosse algo que pudesse me prender de alguma forma. Mais uma tentativa dela de me manter em sua órbita, uma tentativa que eu sabia que era vazia.

— Claro, Valéria. Vou providenciar isso. Afinal, o que seria de você sem mais um item de luxo para ostentar? — respondi, minha voz recheada de uma arrogância que ela jamais notaria, ou talvez preferisse ignorar.

Eu não precisava me esforçar para agradar. Eu sabia que, para Valéria, a vida era feita de aparências, e enquanto ela acreditasse nisso, eu estaria lá, no centro do seu pequeno mundo, fazendo exatamente o que ela esperava de mim: ser o homem perfeito para seu espetáculo de consumismo e futilidade.

Caminhei até o bar, ignorando-a, sem a menor necessidade de mais interação. Afinal, eu era o centro de tudo, e tudo girava ao meu redor. Valéria, as joias, a casa. Tudo era um reflexo do que eu permitia que fosse. E, no fundo, eu sabia que ela nunca entenderia que o que realmente me atraía estava além de tudo aquilo.

Conheci Valéria ainda na faculdade. Nossas famílias sempre foram amigas, e o que era para ter sido só uns beijos casuais logo se transformou em algo mais. E cá estamos, casados há cinco anos, mantendo as aparências, como se a vida fosse uma linha reta e sem surpresas. Nada muito profundo, mas funcional.

Filhos? Nunca tivemos, e, sinceramente, nunca fomos muito a favor dessa ideia. Ela, principalmente, sempre teve uma visão bastante prática sobre isso. Não queria “estragar” o corpo dela, gerar uma criança e arriscar perder a aparência impecável que tanto se orgulhava. Para Valéria, a beleza era algo a ser preservado, e a maternidade, um obstáculo nisso. Então, seguimos assim, com o casamento em sua forma mais conveniente.

O preço do desejo AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora