CAPÍTULO – 7
S/n
O avião começou a decolar, e senti um frio na barriga tão intenso que pareceu congelar o ar nos meus pulmões. Com a fuselagem vibrando ao meu redor, fechei os olhos, prendendo a respiração sem perceber e apertando com força o braço do meu pai. O impulso da decolagem me fazia sentir como se estivesse sendo empurrada contra a poltrona, fundindo-me ao tecido do assento. Quando pensei que a sensação só pioraria, meu pai colocou a mão sobre a minha, aquecendo-a suavemente.
— Está tudo bem, filha — ele murmurou, dando dois toques leves no meu braço. — Já passou, agora você pode relaxar.
Respirei fundo e, devagar, fui abrindo os olhos. Olhei pela janela e vi as nuvens se formando como um colchão espesso e fofo, distante do solo. Percebi então que, no nervosismo, havia prendido a respiração. Soltei o ar devagar, ainda segurando a mão do meu pai, que sorriu em um misto de humor e ternura.
— Que sensação horrível, achei que fosse ficar grudada nessa poltrona pra sempre. — Encostei-me de novo, tentando disfarçar o pânico de minutos atrás.
Ele riu, me lançando um olhar cheio de compreensão. — É normal, filha. É a primeira vez que entra num avião; sempre causa um certo impacto.
— Primeira e última! Dá pra voltar de ônibus? Ou, melhor, quantos dias levaria se eu voltasse a pé? — ri, tentando manter o tom leve enquanto ele também ria ao meu lado.
— Hum, no mínimo, levaria uns dois meses. — Ele fez uma expressão calculista, olhando para o teto como se estivesse contando os dias mentalmente.
— Pai, eu estaria voltando da Coreia, não indo para o Brasil. — Ri mais forte, observando o bico que ele fez ao ser "corrigido."
Ele levantou as mãos em sinal de rendição, acompanhando o tom da brincadeira. — É, você me pegou. — Fez uma pausa, disfarçando o riso, mas logo continuou: — Mesmo assim, seriam uns bons "diaszinhos de pernada," ou melhor, de "pernadinhas," — e fez um sinal minúsculo com os dedos para enfatizar o tamanho.
— Ah, pai, para! A culpa é sua, sabia? — Cruzei os braços, fingindo indignação, mas abrindo um leve sorriso de lado. — Sou a única que tem 1,58 cm, enquanto meus irmãos são verdadeiros bonecos de Olinda, como os do carnaval brasileiro. E eu? Pareço um Smurf! Se me pintarem de azul, então...
Ele riu com gosto, e por um instante a seriedade sumiu, como se estivéssemos voltando a um tempo onde piadas e risadas preenchiam a nossa relação. Então, o riso diminuiu, e ele me olhou com uma intensidade suave, quase dolorosa.
— Só você mesmo, hein? — Ele me observou com carinho. — Me desculpe por... por tudo. Prometo que farei o impossível para recuperar o tempo que perdemos.
Senti um aperto no peito ao ouvir isso. Era raro meu pai ser tão direto sobre o passado. E enquanto nossas mãos ainda estavam entrelaçadas, as lembranças de dias distantes, de tentativas frustradas de aproximação, de conversas não ditas, me inundaram. Olhei para ele, o sorriso suave, mas minha voz saiu quase como um sussurro.
— Tá tudo bem, pai. Eu também não facilitei as coisas, né? Fugi de qualquer vínculo e das tentativas de aproximação... — respirei fundo, reunindo coragem. — Mas agora teremos tempo para colocar todos os "pingos nos i's." — Sorri, um sorriso sincero, que ele devolveu com olhos emocionados antes de me puxar para um abraço apertado. Por um momento, senti que tudo estava se encaixando.
Quando nos afastamos, ele começou a falar sobre a Coreia com entusiasmo, quase como um guia turístico. Contou sobre os lugares que visitaríamos, as paisagens incríveis que me fariam querer tirar centenas de fotos. Ele mencionou o rio Han, com uma animação que me fez sorrir, falando sobre o quanto eu iria adorar vê-lo ao vivo. Comecei a imaginar esse cenário; quem sabe, um dia, gravando alguma cena para uma série, um dorama... Era meu sonho, afinal, ver minha carreira de atriz deslanchar em terras tão ricas em cultura.
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Eu AMO você, mas eu [não] preciso de VOCÊ?
Romance"Amor" - uma palavra tão pequena, mas que carrega um peso imenso. Ao ler essa palavra, sentes uma onda de emoções conflitantes? Para muitos, o amor é um laço indestrutível, um motivo que leva a ações impensáveis. É o que faz pessoas comuns realizare...