Preto, a cor do luto!

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Para mim, Joaquim, o preto sempre foi uma cor qualquer, um tom que pintava o céu da noite ou a sombra das árvores no fim da tarde. Nunca pensei que um dia ele se tornaria tão presente, tão cheio de significado. Agora, essa cor que antes passava despercebida representa uma dor que carrego no peito, uma ausência que não sei como preencher.

Naquela semana, a notícia que tanto temíamos chegou. Minha avó, a vovó Clara, partiu. Foi como se o mundo ao meu redor se tingisse de preto, um preto que refletia a falta que ela faria e a tristeza que agora fazia parte dos meus dias. Eu sempre soube que as pessoas partem, mas nunca pensei que fosse assim, deixando um vazio que parece impossível de preencher.

Na manhã do velório, senti um aperto no coração ao ver minha família se vestindo em tons escuros, cada um carregando seu pedaço de dor. Meu avô Chico estava calado, perdido em pensamentos, os olhos vermelhos e o rosto cansado. Ele era forte, mas eu sabia que por dentro sentia o mesmo vazio que eu.

Quando chegamos ao local, senti o peso do silêncio e a intensidade do preto que tomava conta do ambiente. Amigos e familiares estavam ali para nos apoiar, mas, para mim, a presença de todos parecia apenas acentuar a ausência dela.

A cada pessoa que se aproximava para dar seus pêsames, eu olhava para o chão, tentando segurar as lágrimas. Gael e Bia também estavam ali, ao meu lado, me oferecendo o apoio que eu precisava, mas que, naquele momento, parecia insuficiente para preencher a perda que eu sentia.

Naquele dia, aprendi que o preto do luto não era apenas uma cor, mas um estado de alma. Um momento de dor e reflexão, uma lembrança constante de que as pessoas que amamos deixam marcas que nunca desaparecem.

Durante o velório, o ambiente já estava carregado de tristeza e de lembranças da vovó Clara. Todos pareciam mergulhados em pensamentos silenciosos, respeitando o momento de despedida. Eu observava meu avô, seu Chico, que estava mais quieto do que nunca, sentado em uma cadeira ao lado do caixão. A cada minuto, ele parecia mais abatido, respirando com dificuldade, como se o luto pesasse sobre ele de uma forma ainda mais intensa.

De repente, percebi que seu rosto ficou pálido, e ele levou a mão ao peito, tentando segurar a dor que parecia aumentar. Ele inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos, e eu senti um pânico crescer dentro de mim.

— Vovô! — chamei, assustado, enquanto me aproximava dele.

Minha mãe, Carmem, percebeu a situação e correu para o lado dele, junto com outras pessoas que estavam por perto. Ela segurou a mão de seu Chico, com um olhar preocupado.

— Pai, o senhor está bem? — perguntou ela, tentando mantê-lo acordado.

Ele abriu os olhos lentamente, com um semblante exausto.

— É só... é muita coisa para mim, minha filha — respondeu ele, com a voz baixa e fraca. — A perda da sua mãe... meu coração não está aguentando.

Um dos familiares chamou uma ambulância, e eu fiquei ao lado dele, segurando sua mão com força, tentando transmitir algum conforto. Eu percebia que a dor dele não era apenas física, mas também emocional. Era como se a ausência da vovó Clara tivesse levado parte dele junto.

Poucos minutos depois, a ambulância chegou e os paramédicos ajudaram meu avô a se levantar e o levaram para o hospital. Fiquei observando a ambulância partir, com o coração apertado, temendo pelo que pudesse acontecer. Minha mãe me abraçou, tentando me dar algum consolo.

Para mim, Joaquim, aquele momento foi como um novo golpe, uma lembrança de que a perda não vinha sozinha, mas trazia consigo a fragilidade daqueles que amamos. Eu esperava, com todas as forças, que o vovô se recuperasse, porque, naquele instante, eu percebi que precisava dele tanto quanto precisava das lembranças da vovó.

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