Capítulo Único

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Estava assistindo "Mamma Mia" e uma cena me inspirou para escrever essa história curta.


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10 de outubro de 2019. Eu nunca me esquecerei desse dia. Foi o dia em que descobri que minha vida mudaria para sempre. O teste de gravidez mostrou duas linhas, e naquele instante eu soube: finalmente teríamos nosso bebê. Eu e Hisashi havíamos tentado por tanto tempo, enfrentado tantos negativos e frustrações, que quando vi o resultado positivo, foi como se o tempo parasse.

Hisashi estava radiante. Ele saiu de casa gritando para os vizinhos: "Eu vou ser pai!" Eu nunca o vi tão feliz, seus olhos brilhavam de uma forma que iluminavam qualquer dor ou cansaço. Ele dizia que Izuku – sim, nós já sabíamos o nome, antes mesmo de confirmarmos o sexo – seria a nossa alegria, o nosso futuro.

Meses depois, nasceu nosso menininho. Izuku era tão pequeno, tão frágil. Eu o segurava como se ele pudesse se desfazer entre meus dedos a qualquer momento. Cada noite, ao colocá-lo no berço, sentia meu coração apertar, uma pequena dor que me lembrava de que um dia ele teria que crescer e ir para o mundo. Eu me perguntava se conseguiria estar sempre ao seu lado, protegendo-o de tudo. E toda vez que eu o deitava no berço, sentia que ele escorregava por meus dedos, mesmo que eu estivesse ali, bem ao seu lado.

Os anos passaram, e Izuku cresceu. Um dia, chegou a hora de levá-lo para a escola pela primeira vez. Ele segurava minha mão tão firme que podia sentir o calor de seus pequenos dedos entrelaçados nos meus. Mas quando chegamos ao portão, ele olhou para mim com um sorriso, como se dissesse "Eu vou ficar bem, mamãe". Eu soltei sua mão devagar, tentando esconder o medo em meu coração, e o vi se afastar, até desaparecer por entre as portas da escola. "Slipping through my fingers" pensei. Lá ia ele, meu pequeno, escorregando novamente por entre meus dedos.

A música "Slipping Through My Fingers" me acompanhava desde os primeiros dias de Izuku. Cada vez que ele dava um passo para frente, eu sentia a distância aumentar. A letra ecoava em minha mente enquanto o via crescer, brincando com outras crianças, aprendendo a falar, a andar, a questionar. Cada nova habilidade, cada novo passo na vida, era um momento em que eu o via se afastando um pouco mais, como se a infância estivesse escorrendo pelos meus dedos.

Mas a vida tem maneiras duras de nos ensinar a valorizar os momentos, e eu aprenderia isso da forma mais cruel.

Certa manhã, Hisashi não voltou para casa. Ele havia saído para o trabalho, como sempre, mas algo estava diferente. Horas se passaram e nada. Liguei para ele, para o hospital, para todos os lugares que eu conseguia imaginar, até que finalmente recebi a notícia. Hisashi havia sofrido um acidente fatal.

Lembro-me de correr para o hospital, minha mente um turbilhão de pensamentos, minha alma se despedaçando em mil pedaços. Quando o vi, meu coração se partiu. Ele estava ali, imóvel, frio, e seu corpo parecia escorregar pelos meus dedos enquanto eu tentava segurá-lo pela última vez. O sangue em suas roupas manchava minhas mãos, e eu sentia que a vida estava sendo arrancada de mim, escorrendo como água, como areia, sem que eu pudesse fazer nada.

Izuku era tão pequeno na época. Ele não entendia, mas sabia que algo terrível havia acontecido. Perguntava pelo pai, e eu apenas segurava suas mãozinhas, incapaz de encontrar as palavras. Aquele vazio, aquela perda, era algo que eu nunca poderia preencher. E cada vez que ele me perguntava sobre o pai, eu me sentia incapaz de protegê-lo de uma dor que estava além do que eu poderia explicar.

Os anos que se seguiram foram uma luta constante. A ausência de Hisashi era um peso que eu carregava todos os dias. Eu tentava ser forte por Izuku, ser a mãe e o pai que ele precisava, mas havia dias em que a saudade era insuportável. Havia dias em que eu sentia que estava falhando com ele, que não estava sendo suficiente. Quando ele começou a perguntar sobre heróis e sua própria falta de individualidade, eu sentia a frustração dele crescer, e isso partia meu coração ainda mais.

Eu me lembro de uma noite, enquanto ele dormia, de sentar ao lado de sua cama e cantar baixinho. A letra de "Slipping Through My Fingers" se misturava com minha voz trêmula. Aquela música me lembrava de como a infância dele estava passando, de como o tempo continuava seu curso implacável, e eu me perguntava se estava fazendo tudo o que poderia por ele, se ele sabia o quanto eu o amava, mesmo com todas as dificuldades. "Do I really see what's in his mind?" me perguntava, como na letra da música. Será que ele sabia o quanto eu lutava para manter a nossa vida, para criar um lar sem a presença de seu pai?

A vida continuou, e Izuku continuou a crescer. Ele começou a ir para a escola, se interessar por heróis e, mesmo sem uma individualidade, nunca desistiu de seu sonho. Ver sua determinação me dava forças, mas também me deixava com um aperto no peito. Meu pequeno estava se tornando um jovem determinado, com os próprios sonhos e ambições. Mais uma vez, eu sentia que ele estava escorregando por entre meus dedos.

No fundo, acho que sempre soube que ele tomaria seu próprio caminho, mas havia uma parte de mim que desejava que ele permanecesse ao meu lado. No entanto, assim como Hisashi, ele tinha o coração de um herói. O mundo chamava por ele, e eu sabia que não poderia prendê-lo aqui para sempre. Cada manhã, quando ele saía para a escola, cada noite em que ele se fechava em seu quarto para estudar sobre heróis, sentia que ele estava mais distante.

Agora, ao vê-lo partir para seguir seus sonhos, sinto a mesma dor que senti quando coloquei seu corpinho no berço pela primeira vez. A mesma dor que senti quando soltei sua mão na escola. A mesma dor que senti quando vi o corpo sem vida de Hisashi escorregar de meus dedos. É como se a vida fosse um ciclo de perdas, de soltar as pessoas que amamos, uma a uma, para que sigam seus próprios caminhos.

Izuku é tudo o que me resta, mas mesmo ele está indo. E enquanto ele segue seu sonho, eu fico aqui, lembrando de como o segurei pela primeira vez, de como ele sempre escapou de mim, de como ele sempre, sempre escorregou por entre meus dedos.

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Slipping Through My Fingers: Um relato de Inko MidoriyaOnde histórias criam vida. Descubra agora