Quando a porta da carruagem se fechou me deixando sozinha com Dorian, me arrependi amargamente por não ter insistido em ir andando. Como eu explicaria minha volta com ele? Mas ele tinha me ordenado a acompanhá-lo.
Voltaria para Anders Hall, mas agora com uma missão. Mesmo estando sob suspeita, tinha muitas questões que eu ainda não entendia.
– Posso lhe fazer uma pergunta? – Indaguei.
– Já está fazendo. – Dorian disse com os olhos fechados. – Mas fale.
– O senhor pensou que se eu partisse contaria o que supostamente ouvi na floresta. – Comecei devagar. – Não era sobre William, não é? Nem mesmo as cartas de Henry.
Ele abriu os olhos me deixando ainda mais desconfortável. Mesmo sendo cego, quando aqueles olhos pousavam sobre mim era como se ele pudesse me enxergar e isso era estranho. Antes de Dorian partir para a guerra, não só eu, mas todos os criados sequer entravam em seu campo de visão.
– Talvez sejam sobre William.
– Mas não são. – Rebati.
Ficamos calados pelo restante do caminho.
Quando atravessamos o portão de Anders Hall, senti um arrepio por todo meu corpo. Deus, por favor, me ajude. Era uma completa loucura ficar de olho em Henry, fingir que os senhores daquela casa não estavam envolvidos em só Deus sabe o que.
Quando a carruagem parou, desci e esperei Dorian.
– Bom dia, senhorita Ashby. – Era Harold nos esperando no topo das escadas.
– Bom dia, senhor.
Ele me olhou semicerrando os olhos como se evitasse formar uma careta:
– Está tudo bem com a senhorita? – Perguntou.
Me lembrei mentalmente de que minha aparência não era a das melhores. Eu precisava me arrumar e voltar ao meu trabalho.
– Está, sim.
– Agnes já voltou? – Dorian perguntou.
– Sim, está lhe esperando na sala de estar.
– E meu pai? – Era a primeira vez que o via preocupado com a saúde do senhor Anders.
– Da mesma forma. – Harold foi sucinto.
Adentramos na casa logo sendo conduzidos pela governanta. Com toda a certeza ela era uma aliada de Dorian, por isso não podia me ver saindo de Anders Hall que logo colocava um serviço sobre mim.
A senhora Ruth não estava na sala, talvez estivesse ao lado do marido ou simplesmente estivesse irritada demais para ficar em seu lugar de costume.
Quando Agnes me viu, correu em minha direção e me abraçou.
– Fico feliz por estar de volta. – Ela disse antes de beijar minha bochecha. – Onde você estava, Hope?
– Nos McLean. – Dorian respondeu por mim. – Me ocuparei agora.
Agnes assentiu e segurou minha mão me levando para um dos sofás. Quando ficamos sozinhas, ela sorriu me encarando.
– Não acredito que pensou que poderia fugir do meu irmão.
– Como sabia que eu tinha fugido?
Ela abriu um pequeno sorriso e apertou minha mão com mais delicadeza.
– Sei que não tenho sido uma boa amiga, pelo menos não tão boa quanto você merece ou quanto é para mim. No início estava tão eufórica com a presença de Dorian e o rumo que as coisas estavam tomando que não conseguia olhar além de mim mesma. Fui embora por não suportar fingir ser quem não sou e não conseguir conviver com pessoas que usam meu filho como se ele não passasse de uma moeda de troca. Dorian prometeu que as coisas seriam diferentes, eu até estava disposta a voltar naquele dia na igreja, mas ele não deixou, me parece que você se meteu em uma bela encrenca.
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Ainda Vejo Você
Fiksi SejarahQuando comecei a trabalhar em Anders Hall, entendi que precisaria guardar os segredos da família Anders, principalmente de Dorian, o filho bastardo do meu patrão. Só que, sem querer, me tornei guardiã de uma confissão que poderia causar a ruína da f...