Victória brincou com o chaveiro de Eric entre os dedos antes de dormir. Seus pensamentos foram atraídos para o rapaz feito imã de geladeira. Queria-o muito, mas não de perto. Tentava se apegar à analogia do quadro de museu. Bonito, perfeito, admirável, mas nunca tocado. Distante, intangível. Pessoas ficavam feias quando vistas de perto, uma vez que se notavam as falhas.
Mas Victória temia que Eric não fosse assim. Talvez, ela se tornasse cega quanto mais se aproximasse e por mais que visse os problemas e as falhas, agia como se não estivessem ali. Sumiam todas.
Ao perceber tanto perigo, Victória não arriscou voltar na casa de Brenda, por mais que a menina implorasse. Não importava o argumento. Em vez disso, fazia a garota ir até sua casa quando estava de folga.
Numa das vezes que Brenda foi lá, folheou os livros de Victória, em curiosidade, embora nunca fosse ler. Perguntou a ela sobre as histórias e encontrou o caderno de contos, jogado sobre a cabeceira da cama.
Victória o tomou das mãos da menina abruptamente.
— Arquivo confidencial — disse, abraçando o caderno.
— Você tem um diário? Credo, o que fica escrevendo aí?
— Não é um diário, idiota. É onde escrevo algumas coisas, tipo… histórias.
Brenda ficou boquiaberta.
— Sério? Quero ler.
Os olhos da menina brilhavam e Victória quase ficou sem palavras. Lembrou-se das vezes que compartilhara suas histórias macabras com Mikaela e ela dissera que eram uma perda de tempo.
— Não vai querer ler, são muito assustadoras.
— Ah. — Os ombros dela encolheram. — Qual a última história que escreveu?
— Tá incompleta.
— Por quê? Falta inspiração?
Ela foi até a janela.
— Vai se passar numa chácara, mas não tenho noção de como descrever.
— Acho que posso te ajudar com isso.
— Como?
— Meu tio tem uma chácara em Mairiporã, fica perto de um rio. Eu e minha família vamos pra lá no sábado. Pode ir com a gente.
Victória riu, tamanho o absurdo.
— Você pirou?
— Não, pensa comigo. — Ela sentou na cama. — Você pode usar a chácara do meu tio como referência. Leva seu caderninho e escreve enquanto observa a paisagem. Aí depois, você ainda pode se divertir com a gente. Lá tem piscina.
— Eu não sei nadar.
— Mas não serve só pra isso, né? Você pode ficar na parte rasa ou usar boias.
— Isso não torna a ideia menos ridícula. Não quero conhecer sua família e muito menos estar longe de casa com o Eric por perto.
— Não precisa conversar com ele. Além do mais, a gente volta no fim do dia.
— Eu trabalho no sábado.
— Pede folga, ué.
— Como se fosse fácil.
— Mas é. Você não vai passar suas férias enfurnada dentro de casa, rodeada por aquele monte de livros. Você tem que se divertir um pouco.
— Meus livros são divertidos.
— Me poupe. As coisas que você lê devem ser macabras e entediantes. Aproveita que você tá em paz, porque daqui a pouco a Emily chega e o caos se estabelece de novo.
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A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...