Segredos do penhasco

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— Oi — disse Victória, olhando para Eric no banco do passageiro e a mulher loira no volante. O rapaz deu um sorriso fraco, como se isso bastasse para cumprimentar uma pessoa.

A mulher sorriu.

—  Prazer! Sou a Tereza. Acho que vamos nos conhecer melhor depois, entra aí. 

Victória abriu a porta de trás e encontrou uma garotinha sentada na janela. Brenda a puxou para o meio e Victória entrou no carro, sentindo-se desconfortável. Todo mundo estava bem distraído, devido ao sono. Em algum momento, ela mesma acabou cochilando, com a cabeça escorada no vidro da janela. 

Depois de um tempo, ouviu alguém falando “por que não posso fazer um bigode no rosto dela, mãe?”. Então, ela abriu os olhos e viu a garotinha a encarando com olhos curiosos. 

Victória se endireitou e percebeu que o carro estava parado na frente de uma palmeira, próximo a um muro. Eric e Brenda tiravam algumas coisas do porta-malas, enquanto Tereza se afastava para conversar com um homem, perto de uma piscina enorme.

A garotinha saiu do carro de repente e seguiu a mãe. Ao longe, Victória a observou olhando para a piscina e implorando para Tereza deixá-la entrar na água.  

Victória desceu do carro e sentiu o cheiro do campo, a umidade do ar mesclada ao aroma de café feito na hora. O céu brilhava em um azul fraquinho, isento de nuvens.

 Alguns pássaros brincavam na imensidão azul e, de onde estava, Victória podia ver uma montanha. Olhou para os portões de madeira pelo qual o carro entrou e viu que o caminho era feito de ladeira. Deduziu que talvez a chácara estivesse localizada numa região íngreme e afastada da sociedade. O cenário perfeito para suas histórias de terror. Na mesma hora, imaginou um grupo de amigos tentando passar as férias naquele lugar e dando de cara com espíritos malignos. Olhou para a piscina azulada, imaginou um corpo flutuando ali e o sangue se misturando com a água.

—  Quer que eu leve sua mochila? — Eric perguntou, surgindo ao seu lado, quase lhe fazendo pular de susto. Talvez fosse um momento ruim para devaneios. 

Victória percebeu que  estava segurando sua mochila pela alça, perto dos pés, como se estivesse carregando um saco de cimento.  

—  Não, eu consigo. 

— Ok.

Ele seguiu andando na frente, com os braços cheios de bolsas e uma mochila grande nas costas. Quando Brenda passou por ela, Victória a seguiu na direção da piscina. 

— Oi, tio! — disse a menina, sorrindo um pouco. Aproximou-se do homem rechonchudo e lhe deu um abraço. Depois, apresentou Victória, que o cumprimentou com um mero aceno de cabeça, meio sem graça. 

— Então, pessoal. Vamos entrando? Vejo que vocês trouxeram muita coisa… — ele foi dizendo, dirigindo-se para a varanda dianteira da casa. 

De perto, a piscina era maior do que Victória pensou e tinha algumas ondulações na água que lhe faziam pensar no mar. Rodeou as margem, perguntando-se qual a profundidade, mas imaginou que a plataforma servia para separar a parte rasa da funda. 

Sem mais distrações, Victória seguiu Brenda e sua família na direção de uma porta pivotante espaçosa e adentrou numa sala, com uma televisão antiga e um sofázinho preto de dois lugares escorado numa das paredes. Olhou para o teto brevemente e viu a lâmpada pendurada por fios que saíam de um buraco. 

Bonita por fora, lamentável por dentro, pensou a menina, sobre a casa. Brenda foi na direção de um corredor e Victória a seguiu. Entraram num quarto mediano, com uma beliche e alguns colchões. Todos deixaram suas coisas ali e foram para a cozinha, que era o maior cômodo da casa. 

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