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Teresa

Abro os olhos e vejo o teto branco acima de mim, meu corpo demora um pouco para responder, sei que acordei, mas meus braços e pernas parecem se recusar a acordar também. Talvez seja o fato de quase ter sido devorada por zumbis famintos, também descobri que provavelmente o governo nos deixou para morrer aqui e, como se não bastasse, paralisei quando percebi que minha arma estava sem munição e não fui a luta para salvar minha melhor amiga, minha irmã, Helena. Estou sendo uma inútil.

Finalmente consigo sentar na cama, dormi como pedra na noite passada, mas me sinto mais cansada ainda.

- Você tá acordada - me assusto com Helena entrando no quarto - como tá se sentindo?

- Isso é cheiro de bacon? - mudo o assunto.

- Ah... sim, o José cozinhou pra gente, tem mais pra você e pro Alberto - ela fecha a porta - Teresa, que homem carrancudo.

- O Alberto?

- O quê? Não! Ele nem acordou ainda - ela passa a cochichar - o José! As três mulheres que estavam aqui ontem decidiram ir embora e quando eu e Wagner questionamos o motivo, o homem se alterou, surtou total com a gente.

Franzo a testa, ele realmente parece ser alguém muito frio, mas imaginei que fosse bondoso, já que nos ajudou.

- E a gente não pôde responder nada, óbvio! Vai que ele decide nos expulsar.

- Será se ele não expulsou aquelas mulheres? - questiono.

Helena fica pensativa por alguns segundos.

- Preciso investigar isso.

- Não, Helena - respiro fundo - deixa isso pra lá, a gente tá a salvo aqui.

- Mas por quanto tempo?

- Se você não irritar o dono do lugar, talvez, até você e o Wagner mandarem o filho de vocês pra bunker college!

- Você fez uma piada? - ela sorrir - você fez uma piada!

Minha amiga pula em mim e caímos na cama abraçadas.

- Helena, qual a necessidade disso? - minha voz sai abafada.

- Você tá voltando ao normal!

Ela está errada, nós nunca mais iremos voltar ao normal, mesmo que sejamos salvos e que encontrem uma cura para essa epidemia bizarra, as coisas nunca mais serão como antes. Fomos feridos por tudo o que aconteceu aqui, gerando cicatrizes enormes que jamais irão desaparecer. Mas Helena precisa de esperança, então eu apenas retribuo o seu abraço.

Durante a semana que se passou, precisamos ser pacientes e aguentar as grosserias de José, além dos surtos de adolescente mimada que Vitória as vezes gosta de dar, sempre nos lembrando que adolescentes continuam seres maníacos mesmo durante um apocalipse zumbi.

Acordo assustada e suando, mais um pesadelo no qual eu deixo Helena ser devorada por zumbis raivosos, todas as minhas noites estão sendo assim. Saio com cuidado do quarto para não acordar minha amiga e vou até à cozinha, respirar um pouco e beber água sempre me ajuda.

- Teresa - encontro Alberto assim que entro no cômodo.

Não estamos nos falando muito, apenas o básico. Sinto que ele se envergonha de ter ficado escondido no carro enquanto nós tentávamos salvar a vida de Wagner e as nossas próprias. Eu também teria vergonha, já tenho.

- Alberto - digo olhando em seus olhos e logo ele desvia o olhar - Hum... eu só vim pegar um pouco de água.

Acho que sinto raiva dele por não ter nos ajudado, ele permaneceu escondido feito um covarde, não saiu sequer para ajudar o próprio amigo.

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora