Ana
Enquanto a Mel dorme, eu fico acordada encarando o teto escuro do nosso quarto, que vez ou outra parece se mover, eu acho que estou enlouquecendo ou pode ser simplesmente o whisky que tomei mais cedo. Desde que recuperei a memória vieram também os pesadelos daquela noite, os medos que eu tive quando a Mel me deixou, os sentimentos que senti quando ela foi embora, a dor, eu jamais pensei que pudesse me ligar a alguém assim, mas hoje eu tenho certeza que não é mais a gravidade que me segura na terra, o que me segura na terra está dormindo tranquilamente e ao meu lado, me alinhei a ela abraçando-a de conchinha e fiquei cheirando seu cabelo recém lavado e me senti um pouco mais em paz, era quase certo que eu teria pesadelos ao adormecer, mas pelo menos naquele momento eu estava em paz.
Eu soube que estava dormindo quando estava presa naquela noite da exposição da Melissa, vendo-a de braços dados com o Finn e eu de longe sentindo o meu coração diminuir, engolindo a seco aquele nó na garganta toda vez que ela sorria lindamente para alguém e ficava brava por ela não me notar alguns segundos, ego? Carência? Ciúmes? Talvez tudo junto, o fato é que era pra ser eu, eu sou a esposa dela, não ele!
- Larga a minha mulher! – eu falava baixinho pra mim mesma.
De repente começava a ansiedade que me fazia querer gritar e correr e não conseguia falar ou me mover, segundos depois eu estava chorando do lado de fora da exposição, brigando com a Melissa e agora sentindo todo o peso do carro contra o meu peito, eu não conseguia respirar, eu não conseguia falar, tudo começava a ficar escuro, a ultima coisa que podia ver era a Mel desesperada ao lado, e tudo que eu conseguia pensar é que eu iria morrer sem dizer eu te amo.
- Ahh!! – acordei em um supetão, meu coração acelerado e sentindo muita falta de ar, olhei pro lado e a Mel não estava mais deitada ao meu lado, a angustia aumentou, olhei a hora no celular e vi que já estava atrasada 5 minutos, o maior atraso que já tive.
Corri pro banheiro, fiz tudo que precisava, coloquei uma roupa qualquer, procurei um casaco limpo e seco, peguei a minha bolsa e sai correndo pelo corredor ainda calçando o sapato, quando cheguei até a sala a Mel estava parada próximo a porta com vários envelopes e olhando seriamente pra um.
- O que é isso? – perguntou ela mostrando a fatura do nosso cartão.
- Ah, fatura do nosso cartão? – perguntei sem entender muito.
- Sério? Como você percebeu isso? A pergunta mais obvia é: o que um consultório psicológico está fazendo nessa fatura? Você tá indo em um psicólogo e não me contou?
- Para, não é grande coisa. – falei indo pra cozinha e pegar café.
- Não é grande coisa, Ana? – disse ela vindo atrás de mim – Eu pensei que ser casada aplicava em contar tudo, que se você estivesse com problemas eu ajudaria você.
- Eu pensei que você ficaria feliz por eu estar procurando ajuda. – falei.
- Eu nem sabia que você estava precisando de ajuda, caramba.
- Ah sério? Pensei que os meus pesadelos fossem um forte motivo pra procurar ajuda.
- Você me disse que estava tudo bem.
- E você acreditou tão fácil, eu só não queria te preocupar ta bom? Eu não estava conseguindo dormir e procurei uma psicóloga, pronto é só isso.
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Nosso Para Sempre
RomanceNosso para sempre é a continuação de O Único Destino, conta mais do romance de Ana e Melissa, desta vez em Londres e mostra que em um casamento nem tudo são flores, que morar fora do seu país natal também não é apenas um sonho como se achava ser, en...