Crises de ciúmes

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Emily acordou assustada e olhou em volta. Não saberia dizer por quanto tempo dormiu, mas estava tão esgotada que nem conseguiu terminar de arrumar suas coisas. Ela se sentou devagar e pegou o celular para checar as horas. Passava um pouco das cinco da tarde e tinha várias mensagens de Davi na barra de notificações. O garoto só podia ter ficado muito entediado nas férias, porque a cada cinco minutos lhe mandava uma mensagem diferente, sempre com algum assunto aleatório. Então, quando ele não tinha mais nada para falar, pedia para ela contar mais alguma história sobre a bíblia. 

Por outro lado, mal trocara mensagens com Mikaela durante sua estadia em Santos. A garota havia comentado que ia viajar para a Paraíba e, talvez, ficasse bem longe da internet para aproveitar melhor o passeio. Emily entendia, porque de certa forma, foi isso o que ela mesma tentou fazer quando chegou em Santos. Em seu primeiro dia, dera um longo abraço nos pais e passara o dia na praia com eles, sentindo o vento bater nos cabelos, a água molhando os pés. À noite, até deitara na areia e passara um tempo observando estrelas enquanto ouvia o barulho do mar. Amava apreciar as coisas que Deus criou. 

Nos próximos dias, tentara visitar o máximo de amigos possível e fora para a igreja na qual vivera longos anos. Todo mundo a recebeu com tanto carinho que deram uma festinha para comemorar. 

Mas de vez em quando, Emily sentira falta de Eric. Ora, a quem queria enganar? Ela sentiu muita falta dele. A cada momento que vivia em Santos, só conseguia pensar em como gostaria que ele fosse visitá-la e que passassem o dia na praia ou pegando balsa para irem a uma ilha isolada. Ela tinha tanta coisa para mostrar. Quando a saudade apertava demais, pegara o celular e ligara para ele. Então, eles passavam algumas horas conversando ou trocando mensagens de texto. 

Embora amasse Santos, Emily estava radiante por ter voltado, pois sentia falta da escola, dos amigos e, claro, não via a hora de matar a saudade do namorado. Por isso, fez questão de avisar que chegava hoje de viagem e o convidou para a casa da tia. Mas agora, preocupava-se. Ela dormiu por muito tempo. Provavelmente, ele veio e foi embora. 

Com um pouco de preguiça, ela respondeu aos memes de Davi com vários emojis de risada e largou o celular na cama. Levantou-se e saiu do quarto. Ouviu o som de risos e vozes abafadas vindas do andar de baixo e entrou no banheiro. Deu uma ajeitada no cabelo, lavou o rosto e foi para o corredor. As vozes se tornaram mais altas conforme descia as escadas e ela pôde jurar ter ouvido um “Para com isso, Eric! Eu vou cair, seu imbecil”. 

Ela franziu as sobrancelhas.

Era a voz da Victória? Que engraçado, nunca a ouvira falar de um jeito tão risonho, como se estivesse se divertindo. Quando se aproximou da cozinha, arregalou os olhos e estacou com o que viu. O ambiente estava um caos, com água e sabão para todos os lados, inclusive em cima da geladeira. Por um segundo, Emily se perguntou como o sabão foi parar ali. Mas o que realmente lhe chamou atenção e fez seus olhos arderem foi a cena de Eric e Victória correndo e escorregando pela cozinha como crianças. Então, ele a alcançou, com sabão até os cotovelos, e a agarrou pela cintura, erguendo-a no ar e dando um pequeno rodopio com ela, enquanto tentava esfregar sabão em sua cabeça. 

O coração de Emily errou uma batida e ela teve a sensação de estar perdendo o fôlego. Devia dizer alguma coisa?

Nenhum deles notou sua presença. 

Uma sensação esquisita e levemente familiar tomou conta de seu peito. Mais uma vez a imagem da traição de Theo tomou sua mente. 

— Gente — chamou baixinho, a voz levemente rouca, por causa do sono. Nenhum deles ouviu. — Gente! — disse, um pouco mais alto, depois de limpar a garganta. E nada. Ela respirou fundo, sentindo uma pontada de irritação. Sabia que não era boa em ficar gritando. Então, levou dois dedos à boca e deu um assobio bem alto. Aprendera esse truque com um de seus amigos em Santos. 

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