Entre Cores e Silêncios

A Traição de Wanda

Yoko entrou, empurrando o carrinho das gêmeas com passos firmes e lentos, seu rosto uma máscara de contenção. As meninas dormiam, mas Yoko já não tinha certeza se conseguia controlar as emoções que borbulhavam dentro de si.

No instante em que seus olhos captaram a figura de Wanda, seu estômago revirou. Lá estava ela, abrindo a porta, com um sorriso quase provocador, como se a presença dela ali fosse absolutamente natural. Wanda levantou uma sobrancelha e cruzou os braços, deixando entrever o início de um sorriso que parecia conter muito mais do que a mera cordialidade.

Faye, que saía do banheiro secando os cabelos, congelou ao ver Yoko ali a chamando desesperadamente , o olhar fulminante e carregado de uma dor que ela imediatamente reconheceu. A tensão que antes parecia silenciosa tornou-se palpável, preenchendo o ambiente.

"Yoko..." Faye começou, sua voz hesitante, quase um sussurro. Ela deu um passo em direção à companheira, mas Yoko ergueu a mão, pedindo que ela parasse.

"Por que, Faye?" Yoko conseguiu dizer, sua voz trêmula, cheia de uma dor que ela nunca imaginou sentir vinda de Faye. "Por que você fez isso comigo?" As lágrimas começaram a descer sem controle, e ela balançou a cabeça, como se recusasse a acreditar no que via.

Faye deu mais um passo, parando a poucos centímetros dela, sua expressão um misto de angústia e remorso. "Por favor, me escute... Eu posso explicar," começou, tentando manter a calma. "Não é o que parece. Nada aconteceu, eu juro."

Mas Yoko não parecia disposta a ouvir. Seus olhos estavam cheios de mágoa, e seu peito arfava, lutando para conter a frustração e a incredulidade que a consumiam. "Como quer que eu acredite em você, Faye? Eu confiei em você! Eu... nós... eu achei que tínhamos algo especial."

Yoko não pôde mais segurar as lágrimas e, num impulso de dor, empurrou Faye pelo peito, fazendo-a recuar um pouco. "Eu me abri com você, confiei nas promessas que me fez. Como você pode esperar que eu fique calma agora?"

Do outro lado da sala, Wanda observava a cena com um sorriso de satisfação contida. Percebendo que Yoko olhava para ela com uma mistura de desgosto e desprezo, Wanda deu um pequeno riso sarcástico e lançou um olhar desdenhoso para ambas.

"Ah, calma lá," ela interrompeu, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas. "Vocês duas são realmente adoráveis juntas, sabia? Mas, Yoko, é melhor encarar a verdade. Faye não é exatamente quem você pensa." Ela riu, continuando: "Você é tão ingênua."

O rosto de Yoko ficou ainda mais pálido, e ela se virou para Faye, esperando alguma defesa, alguma explicação. Faye, no entanto, parecia igualmente atordoada, incapaz de acreditar no quanto Wanda era capaz de manipular a situação.

"Não escuta ela, Yoko!" Faye implorou, tentando segurar a mão de Yoko. "Nada do que ela está dizendo é verdade. Eu nunca faria nada para machucar você e as meninas."

"Ah, não? Tem certeza, Faye?" Wanda provocou, e sua voz soou afiada e cortante. "Diga a ela a verdade sobre como você tem se queixado das gêmeas, dizendo que nunca mais conseguiu pintar direito. Diga como você anda cansada dessa nova vida. Ou vai me dizer que sou eu quem está inventando tudo?"

Yoko sentiu o chão tremer sob seus pés. "Então... era isso, Faye? É assim que você se sente?" perguntou, sua voz embargada pela decepção e raiva. "Se você estava tão cansada de nós, por que nunca me disse? Nunca quis ser um fardo pra você... Eu teria feito qualquer coisa para evitar que se sentisse assim."

"Yoko, por favor, não é isso... eu nunca senti isso," Faye respondeu, sua voz agora quase um gemido de desespero. "Wanda está mentindo! Eu amo você e as meninas mais do que tudo neste mundo."

No entanto, Yoko parecia devastada, como se uma sombra tivesse caído sobre seu coração. "Como posso acreditar nisso? Você está escolhendo acreditar nas palavras de Wanda, mesmo sabendo que nosso amor é verdadeiro?" Faye perguntou, sua voz cheia de súplica.

Nesse momento, Wanda soltou uma gargalhada de puro desprezo. "Oh, Yoko, você realmente acha que tudo isso é tão inocente? Não percebe que Faye estava flertando comigo, mesmo que você não estivesse olhando?"

Faye não aguentou mais. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela sentiu uma raiva ardente fervilhar dentro de si. "Cale a boca, Wanda! Já chega! Você veio até aqui apenas para causar problemas, não é?"

Ela se dirigiu até Wanda, segurando-a pelo braço e a guiando para fora de sua casa. "Nunca mais apareça por aqui. Vai embora agora e me esqueça. Eu não quero ver você nunca mais perto da minha família!"

Wanda apenas sorriu, como se já tivesse ganhado o que queria. "Ah, claro, Faye. Vou deixar vocês resolverem isso entre si... mas, só um lembrete: será que ela vai mesmo te perdoar?"

Com um último olhar triunfante, Wanda saiu pela porta, deixando para trás um rastro de maldade e manipulação.

Quando Faye voltou para dentro, encontrou Yoko de costas para ela, olhando para o vazio, perdida em um misto de mágoa e confusão. Faye respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas, mas o silêncio que se seguiu foi denso e sufocante.

"Yoko..." Faye sussurrou, a voz embargada, aproximando-se devagar. Ela estendeu a mão, querendo tocar Yoko, mas hesitou.

Yoko finalmente se virou, e seus olhos estavam vermelhos, suas bochechas molhadas pelas lágrimas. "Eu não sei como podemos continuar depois disso, Faye. Eu pensei que... que você nunca me trairia dessa forma."

O silêncio tomou conta do ambiente, e a tensão se transformou em uma presença quase palpável, como uma barreira entre elas.

Faye, em um último esforço, respondeu com a voz quebrada. "Eu nunca te trai, Yoko."

Yoko apenas balançou a cabeça, respirando fundo para não desabar completamente. "Eu não sei, Faye. Eu preciso de tempo... preciso de distância."

Faye se encolheu, as palavras de Yoko ecoando dolorosamente em sua mente. Ela sentiu o coração despedaçar-se lentamente, ciente de que reconquistar a confiança de Yoko seria uma tarefa árdua e incerta porque Wanda tinha passado dos limites