ÚLTIMO SUSPIRO: As sombras de um novo começo.

Capítulo 2: O Eco da Esperança

Aleena flutuava em meio ao limbo, um espaço distorcido e inóspito que parecia se estender infinitamente. Cada passo que dava era como caminhar sobre um solo nebuloso, onde sombras dançavam e sussurros ecoavam, lembranças perdidas de almas que vagavam como ela. Mas no fundo, em meio a toda aquela escuridão, havia uma luz tênue: suas memórias com Ester e sua família. Eram como estrelas em uma noite sem fim, guiando-a através do desespero.

As lembranças eram vívidas. O cheiro do café da manhã preparado por sua mãe, os risos compartilhados com seu pai e as conversas íntimas com Ester sobre sonhos e desilusões. Essas imagens tornaram-se seu consolo, um refúgio em um lugar onde o tempo parecia não existir. Aleena se permitia relembrar os momentos alegres que agora pareciam tão distantes. A comida que antes reclamava por ser "horrível" agora era vista como um banquete dos deuses; as piadas de seu pai, mesmo as mais ridículas, soavam como música para seus ouvidos.

Porém, essa doce nostalgia tinha um preço. Cada recordação trazia à tona a dor de sua ausência, a saudade cortante que a fazia sentir-se ainda mais perdida. Mas ela não podia permitir que esse sentimento a consumisse. Tinha que continuar vagando, tinha que encontrar uma maneira de escapar daquele limbo sufocante.

Foi nesse estado de espírito que Aleena começou a se conectar com outras almas perdidas. Algumas eram tão desoladas quanto ela, enquanto outras tinham histórias intrigantes para contar — histórias de vidas passadas repletas de amor, traição e arrependimento. A cada nova alma encontrada, uma nova peça do quebra-cabeça se encaixava em sua mente. Ela se tornava uma coletora de histórias, uma guardiã das memórias dos outros.

Certa noite, enquanto contemplava as formas distorcidas ao seu redor, Aleena ouviu um sussurro familiar: "Há algo mais aqui... algo que pode te trazer de volta." A voz era suave e envolvente, como um convite para seguir adiante. Intrigada, ela decidiu investigar.

Após semanas vagando pelo limbo em busca de respostas, Aleena finalmente encontrou uma alma que parecia diferente das demais — era uma mulher idosa com olhos profundos e sábios. Ela se apresentou como Lira e contou a Aleena sobre um objeto poderoso que poderia trazer quem o possuísse de volta ao seu mundo.

"Mas cuidado," advertiu Lira com uma voz grave. "Esse objeto está nas garras da criatura conhecida como 'A Sombra'. Ela é astuta e poderosa; muitos já tentaram recuperá-lo e falharam."

A menção da Sombra fez o coração de Aleena disparar. Ela se lembrou do ataque brutal que sofrera logo após chegar àquele lugar infernal — as garras frias da criatura arranhando sua pele etérea enquanto ela lutava para escapar. O medo tomou conta dela novamente, mas ao mesmo tempo uma chama de determinação acendeu-se dentro dela.

"Se esse objeto pode me levar para casa," disse Aleena com firmeza, "eu tenho que encontrá-lo."

Lira sorriu tristemente. "Então você deve ir à fortaleza da Sombra. É um lugar terrível e cheio de armadilhas; muitos perderam suas almas lá."

A ideia da fortaleza fez a mente de Aleena girar com possibilidades e planos perigosos. Ela sabia que precisava ser astuta e estratégica; não poderia ser apenas mais uma alma perdida no labirinto da Sombra.

Durante dias seguintes, Aleena começou a formular um plano meticuloso enquanto explorava os recantos sombrios do limbo. A fortaleza da Sombra era cercada por uma névoa densa e opressiva, onde ecos distorcidos pareciam zombar dos incautos que se aproximavam. Para entrar lá seria necessário mais do que coragem; seria necessária astúcia.

Com cada nova história ouvida das almas perdidas — cada fragmento de sabedoria compartilhado por Lira — Aleena começou a entender a natureza da Sombra: ela se alimentava do medo e da desespero das almas perdidas; quanto mais fracas eram suas vítimas, mais forte ela se tornava.

Aleena decidiu usar isso a seu favor. Combinou suas memórias reconfortantes com as histórias tristes das almas ao seu redor para criar uma armadilha emocional contra a Sombra. Se conseguisse manter sua mente focada nas lembranças felizes enquanto enfrentava o medo daquela criatura aterrorizante, talvez pudesse superar seus poderes.

Na noite anterior à sua partida para a fortaleza, Aleena sentou-se em um canto escuro do limbo e fechou os olhos. Concentrou-se nas risadas de sua família e nas promessas feitas a Ester sobre nunca desistir uma da outra. Essa força interna crescia dentro dela como uma chama indomável.

"Eu vou voltar," sussurrou para si mesma antes de adormecer em meio ao caos do limbo.

Quando acordou no dia seguinte, estava decidida e pronta para encarar o desconhecido. Com passos firmes, dirigiu-se à fortaleza sombria onde A Sombra aguardava — aquele lugar onde tantas almas haviam sucumbido ao desespero.

A travessia até a fortaleza foi marcada por desafios inesperados: sombras dançavam ao seu redor tentando seduzi-la com promessas vazias; vozes sussurrantes tentavam desviar seu foco das memórias felizes que lhe davam força. Mas Aleena se manteve firme em seu propósito.

Ao chegar à entrada da fortaleza — um imponente portal coberto por vinhas espinhosas — sentiu o peso do medo pairar no ar como uma névoa densa. Ela respirou fundo e lembrou-se das palavras encorajadoras de Lira: "A verdadeira força está dentro de você."

Com isso em mente, atravessou os portões sombrios.

Dentro da fortaleza, tudo era ainda mais aterrorizante do que imaginara: paredes cobertas por sombras pulsantes pareciam respirar; o ar estava impregnado com gritos distantes e ecos de dor esquecida. Cada passo fazia o chão ranger sob seus pés como se estivesse despertando os fantasmas adormecidos daquele lugar sombrio.

Aleena avançou cautelosamente pelos corredores escuros até encontrar uma grande sala central iluminada apenas por uma luz fraca emanando de um pedestal elevado no centro — lá estava ele: o objeto misterioso! Um globo cristalino pulsando com energia intensa.

Mas antes que pudesse dar um passo à frente para alcançá-lo, A Sombra apareceu diante dela como uma tempestade negra personificada — seus olhos brilhavam com malevolência.

"Você realmente acredita que pode me derrotar?" A voz da Sombra ecoou pela sala como trovão distante.

O medo quase fez Aleena hesitar, mas lembrou-se das risadas alegres dos momentos passados e do amor incondicional por Ester e seus pais. O calor dessas memórias envolveu-a como um manto protetor.

"Eu não vim aqui para derrotá-la," respondeu Aleena firmemente. "Eu vim buscar o meu caminho de volta para casa."

A Sombra riu sombriamente enquanto contornava Aleena lentamente. "Você acha que essas memórias podem te salvar? Elas são fraquezas! Eu sou o passado sombrio que você tenta esquecer!"

Mas as palavras da criatura apenas fortaleceram a determinação dentro dela; cada lembrança querida tornou-se sua armadura contra o terror daquela presença opressora.

Com coragem renovada, Aleena avançou em direção ao pedestal onde o objeto pulsava intensamente — ela sabia que tinha pouco tempo antes que A Sombra atacasse novamente.

"Ester," murmurou enquanto estendia as mãos em direção ao globo cristalino pulsante.

No instante em que seus dedos tocaram a superfície fria do cristal, uma onda eletrizante percorreu seu corpo; visões passaram diante de seus olhos: risos compartilhados com Ester na cafeteria escolar; abraços apertados entre sua família; momentos simples mas cheios de amor.

Mas então veio a escuridão novamente — A Sombra lançou-se sobre ela numa tentativa desesperada de arrastá-la para o abismo do desespero eterno!

Aleena fechou os olhos e deixou suas memórias fluírem através dela — cada risada tornou-se um escudo contra as garras frias daquela criatura; cada lágrima derramada era transformada em força!

No auge desse confronto emocional intenso entre luz e sombra, algo extraordinário aconteceu: as memórias começaram a brilhar intensamente ao redor dela como estrelas cadentes cortando o céu noturno!

E naquele momento crítico entre vida e morte no limbo sombrio onde as almas eram devoradas pela escuridão eterna… Aleena percebeu que não estava sozinha! As almas coletadas durante sua jornada começaram a emergir das sombras ao seu redor — unindo forças com suas próprias memórias!

"A liberdade é nossa!"