2 - Morte

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Oioi, voltei com mais um. Se tiver algum erro, relevem, por favor. Aproveitem!!!

Celine's Point of View

   Sabiam que o mundo de alguém pode virar do avesso de uma hora para a outra? Eu sempre tive tudo o que eu sempre quis, até um período da minha vida. Meus pais nunca passaram por nenhuma necessidade, se eu precisava de algo, eu tinha, porque nós podíamos ter. Eu nunca precisei me humilhar pelo básico, até os meus 25 anos.

   Eu estava no último ano da faculdade quando o encontrei, ainda morava com meus pais, eu vivia por conta deles. Ian é o nome dele, bonito, galanteador, me conquistou rápido. Eu me apaixonei instantaneamente. Se ele me pedisse o universo, eu o entregaria. Meus pais não gostaram dele de cara, me diziam que ele me levaria para o mal caminho, que eu era muito para ele, que ele não podia fazer aquilo. Infelizmente eu não os ouvi e quando me formei na faculdade aceitei a proposta do Ian de fugir para outra cidade. Ele era perfeito comigo, me tratava bem, me dava carinho, era o sonho de qualquer garota. Um ano depois nos casamos. Meus pais não foram na cerimônia, afinal, eles fingiam que eu nem existia.

   Dois anos depois, engravidei de Sebastian e Sarah, meus gêmeos. Nasceram perfeitos, como eu sempre desejei. Nossa família estava formada, tudo indo conforme o planejado. Eu não trabalhava, vivia pelas crianças e para agradar ao Ian e como ele mesmo dizia "por que trabalhar se eu te dou tudo?"

   Quatro anos mais tarde, Ian me traiu com sua atual esposa. Talvez ele tenha me traído mais vezes e com outras mulheres, mas nunca me contou. Provavelmente nem sobre ela eu teria sabido se não tivesse visto as mensagens em seu celular. Ele prometia o mundo para ela, assim como fez para mim. Dizia que me largaria assim que pudesse, que não me amava, que estava comigo por conta das crianças. Eu só sabia chorar. Amava ele e os meus filhos. O que eu iria fazer se os perdesse?

   E então aconteceu. Dois anos depois das mensagens ele foi embora. Levou os meus dois amores e o meu coração com ele. Me deixou desolada, sem filhos e sem uma casa, afinal, como eu a bancaria se nem emprego tinha? Me esforcei para encontrar um trabalho, meses de tentativas frustradas e saques na poupança que eu juntava para uma emergência, e enfim o meu primeiro emprego. No ramo de imóveis. Eu vendo casas. Não é de emprego dos sonhos, mas eu não poderia reclamar.

   Tentei ir atrás da guarda compartilhada dos meus filhos, morria de saudade deles, queria os ver a todo custo, mas a justiça me impedia, ditava que minha casa não era um local adequado para crianças. Palavras provavelmente insinuadas pelo meu ex marido. Até consegui ver Sarah e Sebastian algumas vezes, mas se tornou algo raro, até que chegou o último dia em que eu os vi, há exatamente 2 anos atrás, o aniversário deles.

   Minha vida era chata, entediante e tudo que eu poderia querer eu já não tinha mais. O lazer não existia, eu só sabia trabalhar e dormir. Qual o significado da vida quando se vive assim? Isso é vida? Sem conversar, beber sempre que conseguir, nem chorar consigo mais. Eu estava apenas criando coragem para tomar uma atitude que mudaria totalmente o rumo da minha vida, que colocaria um fim nela.

   Um dia depois do aniversário dos meus filhos eu estava farta. Queria ao menos me comunicar com os meus pais, mas nem isso eu podia, já que eles se mudaram e eu não tinha nem o número do celular deles. Eu morreria nessa casa mal iluminada e sozinha. Sinto saudade dos meus filhos e da vida que poderíamos ter tido juntos, dos planos que faríamos, as viagens. Mas nada pode ser feito.

   Abro uma caixa de aspirina e seguro a cartela com força enquanto respiro fundo. A garrafa de vinho já estava aberta e eu me direcionava até o banheiro. Qual o melhor jeito de morrer se não largada no chão de um banheiro? Meu corpo provavelmente levará dias para ser achado, talvez semanas ou até meses. No início da minha vida eu aceitei o que os meus pais queriam que eu fosse, a filha obediente, inocente, que fazia tudo o que fosse mandado. Não saísse de casa, não aproveitasse nada, presa ao que eles desejavam, queriam me moldar. E quando eu finalmente achei que estava livre e feliz, um homem veio para me obrigar a seguir suas ordens e assim o fiz. O suicídio é a primeira vez que tomo uma atitude coerente e só minha, que saiu da minha cabeça e por minha própria vontade.

   Tomo alguns goles seguidos do líquido amargo e sinto meus olhos queimando com as lágrimas, mas não me deixo chorar. Já não choro há muito tempo e não chorarei nesse fatídico momento. Me sento ao lado do vaso e ponho os comprimidos na mão. Respiro fundo e engulo o nó que se formou em minha garganta. É agora ou nunca. Jogo a cartela vazia em algum lugar do banheiro e enfio os comprimidos na boca, encaro a lâmpada clara no teto do banheiro e encosto o gargalo da garrafa nos lábios. Foi difícil para engolir, o reflexo quase me faz regurgitar o conteúdo. Agora era só esperar os efeitos. Se eu desse sorte morreria tranquilamente. Sem nenhuma dor e incômodo. Com uma decisão que eu mesma tomei.

   Poucos minutos depois eu já sentia os efeitos da droga, meu corpo amolecendo, os meus sentidos falhando, os cacos da garrafa quebrada estavam ao meu lado, eu nem percebi quando caiu. Nunca usei alucinógenos, nenhum, nem mesmo maconha. Mas a sensação era boa, de não saber onde está direito, mal saber meu nome.

   Meus olhos já queriam fechar, eu estava me deixando levar, até que em meio a tontura noto pés descalços vindo ao meu encontro. Nunca pensei que a morte existia e que ela me receberia em seus braços no fim da minha vida. Ergo o olhar e percebo que a morte me encarava profundamente. Franzo as sobrancelhas, mas não consigo reagir por conta da embriaguez. Na minha pouca noção de mundo sobre as lendas relacionadas a morte ela era mais como um espectro, algo sombrio que viria buscar sua alma e te levaria para o submundo ou para o paraíso, talvez até para o meio entre eles. Mas essa morte que estava na minha frente parecia física. Ela olhou a redor, como se estivesse em busca de algo e depois me olhou novamente. Seus cabelos claros despencavam nas laterais de seu rosto, a dando uma imagem celestial. Ela seria a morte mesmo ou o meu anjo da guarda? Espero que seja a morte. Algumas palavras saem de sua boca, mas eu não consigo captá-las, a sensação inebriante me dominava ao extremo. Eu estou tão perto.

   Então em segundos, sinto algo estimulando a minha úvula, penetrando a minha boca e meus olhos se arregalam com o susto. O conteúdo que estava em meu estômago e que fazia efeito por todo o meu corpo é posto para fora por algumas vezes seguidas. Eu não sabia o que merda estava acontecendo. Por que a morte estava me ajudando? Ela não deveria ficar feliz com mais uma alma?

   Meu corpo é erguido no ar e a sensação é de como flutuar, sou guiada até a banheira e meu coração palpita com a adrenalina. Passar de um estado de lentidão para pura agilidade não é fácil, talvez eu tivesse um ataque cardíaco e essa morte fajuta não conseguiria me salvar.

   Em segundos todo o meu corpo é coberto por água, se infiltrando pela minha roupa casual e estremecendo o meu corpo despreparado para o susto. Abro a boca em choque e encaro a morte não tão morte assim.

   - Que porra... - A adrenalina percorria minhas veias e todo o meu corpo estava em alerta. - Quem é você? - Tento me levantar enquanto sinto os meus batimentos mais acelerados que o normal. Essa mulher com certeza não é morte. Uma de suas mãos segura o meu ombro e me empurra para a posição anterior, tento me debater, mas ela não se movia. Ela se aproxima mais de me mim e me segura com as duas mãos me travando. Sua boca se abre algumas vezes, mas nada sai. Eu já estava entrando em desespero. E se ela me salvou para me matar de um jeito pior? Meus olhos se arregalam e uma lufada de ar pesada sai das minhas narinas.

   - Eu... Vim te salvar.

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⏰ Última atualização: Nov 10 ⏰

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